Jornal Correio Braziliense

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Fumaça deixa emergências de todo o Distrito Federal lotadas

A combinação de incêndios de grandes proporções, temperaturas elevadas e clima extremamente seco provocou aumento nos atendimentos em emergências de hospitais públicos e particulares do Distrito Federal nos últimos sete dias. A maior parte da demanda partiu de pessoas com problemas respiratórios preexistentes, crianças e idosos. Em algumas unidades, houve até 20% a mais de pacientes em decorrência da nuvem de fumaça que cobriu o DF. Apesar de muitas unidades não terem números consolidados, todas constataram elevação na quantidade de pacientes por causa da seca.

Normalmente, o fluxo de pessoas com problemas respiratórios aumenta nesta época do ano. Entretanto, a poluição gerada pelos incêndios em diferentes pontos do DF contribuiu para lotar as emergências. A estimativa do Hospital Anchieta, em Taguatinga, é de que tenha havido incremento de até 22% nas consultas emergenciais na pediatria e na clínica médica da unidade. ;Com os incêndios, a situação piorou bastante. Principalmente durante o dia;, comentou o diretor técnico da unidade, Rodrigo Biondi. Houve bastante trabalho para os três pediatras de plantão no pronto-socorro. ;Em função do aumento da procura, sempre colocamos um pediatra a mais nessa época do ano;, disse.

Tosse seca
Ontem, a dona de casa Ambrosina Monteiro, 38 anos, teve de ir ao hospital pela segunda vez em 20 dias. A filha, Beatriz Monteiro, 4, sofre as consequências clássicas da baixa umidade do ar. ;Ela anda ruim da garganta, uma tosse seca que não passa. Com esse tempo e com o calor que está fazendo, ela não melhora. Por isso, voltei;, diz Ambrosina. As duas buscaram ajuda no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) na tarde de ontem. Em casa, a dona de casa procura fazer nebulizações e oferecer bastante líquido para a filha, mas nem isso tem impedido intercorrências. ;Quando ela sai para a escola, está frio. Na volta, já está muito quente e seco. É difícil impedir que ela adoeça;, lamenta a mãe.

Assim como elas, dezenas de pessoas procuraram a emergência do Hran para amenizar os incômodos do ar seco e poluído pelas queimadas. Segundo estimativa do diretor do hospital, o pneumologista Paulo Feitosa, nos dias em que a situação climática foi mais complicada ; madrugadas de 8 e 9 de setembro ;, os atendimentos cresceram 15% na clínica médica e na pediatria, que, juntas, atendem 550 pessoas por dia. ;Uma convergência de fatores contribui para complicar a situação. Havia três grandes queimadas e fumaça para todos os lados. O ar estava com qualidade péssima;, explica o diretor. Feitosa assegurou, no entanto, que a situação já estava normalizada.

O Lago Sul foi uma das cidades mais prejudicadas com a fumaça dos incêndios ocorridos no Jardim Botânico, na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília e na Reserva do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Hospital Brasília recebeu 10% a mais de pacientes, apesar de o número de atendimentos não ter sido divulgado. Os hospitais Santa Lúcia e Santa Luzia, no Setor Hospitalar Sul, confirmaram o crescimento no número de pacientes, mas alegaram que só terão o balanço do período no fim do mês.