O sol forte exigiu cuidados especiais de quem acompanhou o desfile do Dia da Independência na Esplanada dos Ministérios. Em meio à quarta estiagem mais severa do Distrito Federal ; não chove na capital há 90 dias ;, o público que assistiu às apresentações ontem pela manhã enfrentou, no momento mais crítico, temperatura de 29;C e umidade relativa do ar na faixa de 16%. Para quem passou a tarde no local, os índices chegaram a 31,4;C e 11%, respectivamente, por volta das 16h. Até mesmo a presidente Dilma Rousseff precisou de um umidificador para fazer seu discurso. Já o público, para suportar o clima, não dispensou protetor solar, roupas leves, bonés, sombrinhas e muita água.
Nem todos, porém, livraram-se do mal-estar. Nos oito postos da Secretaria de Saúde do DF montados para o 7 de Setembro, 75 pacientes foram atendidos e seis encaminhados ao hospital. A enfermeira Ana Tereza Conceição Santos, responsável pelas unidades, afirmou que as principais reclamações foram de desidratação, tontura, desmaio, alteração na pressão e ferimentos nos pés. ;A maioria dos problemas, sem dúvida, foi causada pelo calor, que castigou o público;, atestou. A monitora escolar Genilsa Zilmar da Conceição, 25 anos, torceu o tornozelo direito na estação do metrô de Taguatinga, a caminho das festividades. Ela aguentou até a metade do desfile, mas depois precisou ser socorrida e encaminhada para o hospital. ;Na hora, eu não senti. Mas, durante as apresentações, não consegui mais suportar a dor;, disse.
Incomodada com o calor, a segurança Cássia Regina de Araújo, 29 anos, precisou ficar em observação no posto de atendimento durante 40 minutos. ;Não tomei café da manhã nem bebi água durante a manhã. Não havia sentido sede;, explicou. O médico Cláudio Ribeiro, 53, e a administradora Rosangela Ribeiro, 50, foram mais precavidos. Eles se mudaram de Santa Maria (RS) para Brasília há um ano e, na primeira oportunidade de ver o desfile cívico, ficaram bem atentos. ;Aqui, o clima é muito diferente. Nos alimentamos bem antes de vir, usamos protetor e trouxemos água. São os cuidados básicos;, observou Rosangela.
Apesar do clima de deserto, o contador Marcos de Souza e a autônoma Marinete Sismene, ambos de 40 anos, não desistiram de levar duas filhas e uma sobrinha para ver as apresentações. Mas também foram cautelosos. ;O calor está excessivo. Estamos procurando sombra. E, se precisar, posso me cobrir com a própria bandeira que trouxe;, brincou Souza.
O maitre Márcio Nascimento, 33 anos, e a estudante Rosemeire Silva, 31, foram além. Para garantir a tranquilidade das três filhas, encheram uma caixa térmica com água, iogurte e chocolate. ;Viemos de São Paulo há um ano. Como o calor e a secura ainda nos incomodam muito, quisemos nos proteger;, observou Rosemeire. Visivelmente desconfortáveis, a auxiliar de educação Marizete Ferreira da Silva, 46, e sua filha, Evillyn Thamires Ferreira, 7, não dispensaram a sombrinha. ;Está insuportável. Pensei até em não vir. Mas é a primeira vez que minha filha vai ver o desfile;, disse.
Apesar das reclamações, quem foi ontem ao desfile de 7 de Setembro não precisou passar sede. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) montou um esquema especial para atender o público. Ao longo de todo o perímetro onde ocorreram as festividades, havia água e copos descartáveis. Além de oito pontos fixos com água à vontade, foram instaladas 12 caixas, cada uma com 500 litros, nas arquibancadas, e quatro unidades móveis (outros 5 mil litros em cada), sendo duas para atender quem desfilou. A empresa também colocou lavatórios nos postos de saúde.
FILA NA ÁGUA MINERAL
A certeza de calor e seca levou milhares de brasilienses para a porta da Água Mineral na manhã de ontem. Às 6h, já havia uma fila de carro de oito quilômetros. Quem chegou depois das 11h não conseguiu mais vaga, pois o limite de 3 mil pessoas já havia sido alcançado. Porém, devido à procura tão grande, puderam entrar, aproximadamente, 500 visitantes além do máximo estipulado. O bombeiro hidráulico Aquiles Pereira, 37 anos, não chegou a tempo. Ele saiu do desfile na Esplanada dos Ministérios e foi direto para o parque, por volta das 11h30. ;Trouxe minhas três filhas e uma sobrinha. Planejamentos passar a tarde aqui, mas não teve jeito. Eu não sabia do limite de lotação.; A manicure Kátia de Sousa Gomes Silva, 32, também levou um filho e um sobrinho, mas, por volta das 12h, também encontrou portas fechadas. ;Achei que pudesse entrar a qualquer hora;, lamentou.