No ritmo dos tambores e das gaitas de fole, homens do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) Duque de Caxias marcham. Fuzil no ombro com baioneta na ponta, penacho no chapéu e movimentos sincronizados repetidos diversas vezes a toque de sentido, treinam até a perfeição. Militares preparam a ordem unida sem comando, um desfile de malabarismo com armas. Em outro local, a alguns quilômetros de distância, soldados escovam cavalos, pintam os elmos, engraxam os coturnos, preparam a farda cerimonial e ensaiam os últimos detalhes do desfile dos Dragões da Independência, uma das forças mais tradicionais do Exército Brasileiro. Tudo pronto para o Dia da Independência.
Por trás da mágica marcial do desfile de 7 de setembro, há trabalho, dedicação e repetição de ensaios ; os dos Dragões começaram há dois meses. O trote dos cavalos dá o compasso. Animais seguem em fileiras separadas por cores de pelagem. Na frente, com uma pena branca no capacete, o comandante do Regimento de Cavalaria de Guardas (RCG), coronel Jaguarê Saraiva Miranda, conduz o baio amarelo de número seis, seguido por plumas amarelas de montarias brancas. Os próximos equinos, marrons-puros e marrons com detalhes pretos, completam 170 cabeças guiadas por praças de penachos vermelhos. O ensaio se repetiu pela última vez às 9h de ontem.
Este ano, há novidade do RCG. O último pelotão desfilará paramentado com equipamentos utilizados em operações militares. Apesar de repetir os movimentos à exaustão, o coronel Jaguarê afirma que os preparativos são apenas um aperfeiçoamento. ;Uma das nossas missões é executar o cerimonial da Presidência da República, quando também marchamos paramentados, com a farda branca;, explicou. ;O regimento existe com esse nome desde 13 de maio de 1808. O grito de independência de Dom Pedro I, às margens do Ipiranga, se deu com a escolta dos Dragões;, lembrou.
Após o último ensaio, os homens do RCG tiveram até as 16h para deixar todo o equipamento pronto para o desfile. Jaguarê passou a tropa em revista e o regimento fez um último brinde. Todos estavam prontos para, à 1h de hoje, limpar cavalos, vestir as fardas, tomar café da manhã à 1h30 e ser os primeiros a chegarem à Esplanada e os últimos a se apresentarem antes de partir. ;Será madrugada e confusão; é um apelido carinhoso para todo esse trabalho recompensador;, brinca o comandante. Ante o desafio, o soldado Vinícius Lucas de Araújo não vacilou e concordou com Jaguarê. ;Desfilar é como realizar um sonho. É trabalho ao mesmo tempo útil e agradável.;
Armas ao alto
Enquanto isso, no Batalhão de Guarda Presidencial, homens refazem os passos do desfile uma última vez. As fanfarras com uniformes de gala azuis, de inverno; e brancos, de verão, ensaiam o Hino da Independência. Os três pelotões que compõem a ordem unida sem comando, também conhecida como Ordem dos Granadeiros, ensaiam a coreografia de facas e fuzis que começa e termina sob batidas de tambor e som de foles. Eles marcham e, em uma sequência geométrica de movimentos, escrevem no chão, com as armas, a palavra Brasil. Em seguida desmancham as letras e arremessam entre si as armas de fogo com pontas cortantes para, depois, voltarem aos seus lugares e saírem ritmados.
;Esse é um dos maiores eventos do Brasil com a participação das Forças Armadas. Serão 400 homens do BGP empregados e divididos em uma série de atividades, que vão desde a escolta da presidente Dilma Rousseff à garantia da lei e da ordem durante o desfile e a participação no ato;, explicou o coronel Pedro Celso Coelho Montenegro, comandante do batalhão. Foram 15 dias de ensaio. ;Saudaremos as autoridades e a população com uma apresentação digna do dia máximo de nossa independência. Vamos integrar o Exército e os brasileiros;, destacou.
Coube ao capitão Nelson Ferreira, comandante da Companhia do Cerimonial, coordenar o desfile dos Granadeiros, a única companhia que faz esse tipo de apresentação no país. A banda abrirá caminho e três pelotões com 30 homens cada, todos munidos de fuzis, se apresentarão perante os palanques das autoridades. ;Amanhã (hoje) seremos um cartão de visitas do Exército Brasileiro para a nação. O exercício é arriscado, mas estamos treinados e já fizemos essas apresentações diversas vezes. Nossa rotina é dia a dia, no pátio, debaixo do sol, para fazer um desfile impecável. Nosso termômetro será a satisfação do público. E essa é nossa recompensa;, afirmou.
Montaria republicana
Minutos antes de proclamar a República, em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca pediu ao alferes Eduardo José Barbosa Júnior para fazer o anúncio montado em um cavalo. Deram-lhe um baio amarelo de número 6. Após a morte do animal, ficou determinado que a montaria oficial do comandante do RCG sempre seria um equino da mesma espécie, com o mesmo número e as mesmas características.
Tropa de elite
Na história dos exércitos, os granadeiros eram os soldados destacados para arremessar granadas nos inimigos. O trabalho exigia exposição ao perigo e, consequentemente, bravura dos homens. Por isso, com o tempo, eles se tornaram uma tropa de elite. Atualmente, o nome não se refere às missões relacionadas ao artefato explosivo, mas à qualidade dos soldados empregados em um determinado trabalho.