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Mãe desesperada com dois filhos usuários de crack pede ajuda do governo

O desespero de uma mãe em busca da recuperação dos três filhos dependentes de crack chegou ao extremo. No lançamento do programa de enfrentamento às drogas, a dona de casa Joana (nome fictício), 43 anos, clamou, em lágrimas, ao governador Agnelo Queiroz pela internação dos jovens. Saiu com a promessa de que eles serão procurados por assistentes sociais. O mais velho, de 22 anos, está preso. O de 21 anos e o de 18 passam meses fora de casa, perambulando pela área central de Brasília. A família mora em Planaltina.

A dependência transformou a vida de Joana e dos filhos num pesadelo. A rotina da dona de casa é pegar um ônibus em Planaltina com destino à Rodoviária do Plano Piloto na tentativa de convencer ambos a largarem o vício. Ela roda todos os becos à procura deles. De tanto ir ao local, ficou conhecida por muitos dos usuários que vivem como zumbis no centro de Brasília. Diariamente, Joana pergunta a eles sobre o paradeiro dos filhos. Assim como em outros dias, ontem, ela voltou para casa sem encontrá-los. ;O meu coração dói. Não consigo saber nem se eles estão vivos;, desabafou.

O filho de 21 anos está na rua há 15 dias e o de 18, há um mês. Da última vez, eles só tomaram banho e ganharam mais uma vez as ruas para consumir o crack. ;Chegaram sujos, bem magrinhos. Me deu uma tristeza. Chorei, pedi para eles ficarem. Mas não adianta. O vício é maior, eles perderam o controle;, lamenta a dona de casa.

Enquanto os filhos passam a madrugada sob o efeito do entorpecente, a mãe não consegue fechar os olhos. Há 15 dias sem conseguir dormir, Joana entrou para um grupo de terapia comunitária no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Planaltina. ;Às vezes, sinto que estou enlouquecendo. O crack é uma coisa fora do normal, arruinou a minha família. Mas essa droga não vai nos vencer, vou continuar nessa luta até o fim;, prometeu a dona de casa.

Perfil
Os filhos de Joana se encaixam no perfil mais comum dos dependentes de crack. Segundo pesquisa do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), 23% dos viciados têm entre 15 e 25 anos de idade. Além disso, segundo o estudo, a maioria deles é do sexo masculino ; 87% das pessoas em tratamento em unidades públicas do DF são homens.

No caso dos três filhos de Joana, o primeiro contato com o mundo das drogas ocorreu no início da adolescência, entre 13 e 15 anos de idade. Segundo a dona de casa, por vezes, eles recebem atendimento de assistentes sociais, o que não foi suficiente para fazê-los deixar o crack. ;Eles precisam de internação. Ir para os centros de reabilitação durante o dia e voltar para as ruas à noite não adianta;, acredita a mãe.