As políticas de enfrentamento ao crack no Distrito Federal, até hoje, não tiveram sucesso. Desde 2007, quando a droga entrou na capital, vários governos tentaram lançar uma ofensiva para combater a epidemia, mas sem efeito. Diante desse cenário, especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que nessa guerra é preciso avançar em diversas áreas, como a saúde, em especial. A ineficiência no tratamento dos usuários de drogas é uma das maiores preocupações.
Para George Felipe Dantas, especialista em segurança pública pela Universidade de Brasília (UnB), a estrutura dos hospitais públicos e a capacitação dos profissionais ainda são insuficientes para atacar o problema. ;Vivemos uma verdadeira epidemia do crack. Por isso, uma política de saúde eficaz é um desafio a ser superado. Acredito que, hoje, a segurança pública tem uma certa experiência nessa lida com o dependente químico, mas a estrutura de saúde não;.
Jairo Bisol, da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Sáude, acredita que o sucesso da ação depende de uma política pública em que o Estado assuma as suas responsabilidades. ;Espero que o governo não fique contratando empresa privada para o tratamento terapêutico. O Estado precisa ter suas unidades;, destacou. Para ele, o lançamento de uma política de enfrentamento ao tráfico e uso de drogas é positiva, caso sejam levados em consideração os aspectos sociais, como desemprego, educação e saúde. ;As políticas de combate às drogas não existem. Hoje, a situação é vergonhosa. É preciso tomar uma atitude e, primeiro, combater as causas;, destaca.
É nesta linha que a prevenção também entra como política de erradicação das drogas no DF, de acordo com o novo plano de enfrentamento a ser anunciado hoje. O governo já lançou a primeira campanha publicitária com a intenção de sensibilizar os jovens e adolescentes sobre o que eles perdem com as drogas. A segunda terá um apelo para a conscientização da família, que tem papel fundamental na recuperação dos viciados, e a terceira vai abordar a mobilização social. Elas farão parte de um movimento que também contará com a contratação de palestrantes ; serão 10 neste primeiro momento ; para atender cerca de 100 mil alunos das redes públicas e privadas do DF.
Internação compulsória
As ações de combate às drogas estão em andamento em outros estados, como o Rio de Janeiro. Há três meses, o governo daquele estado lançou um programa com uma medida polêmica. A partir dela, os dependentes químicos que frequentam as chamadas cracolândias são encaminhados, compulsoriamente, para tratamento. Ou seja, mesmo contra a vontade, o viciado é levado para um centro de assistência psicossocial, onde é atendido por um equipe de profissionais da saúde. Em 90 dias, 85 pessoas já foram conduzidas aos centros.
Embora seja uma medida polêmica, o secretário municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro, Rodrigo Bethlen, diz que as famílias de usuários de entorpecentes têm aprovado a intervenção. ;Os pais estão satisfeitos porque eles não querem perder os filhos para as drogas. É um tratamento muito difícil, mas se não for assim, eles não teriam condições de pagar uma clínica particular. O poder público tem obrigação de zelar pela vida e a integridade física das pessoas;, destaca.