Jornal Correio Braziliense

Cidades

Supermercados de Brasília cobram até 19% mais do que no resto do país

Quem mantém o olho aberto quando está no supermercado sabe que os preços praticados em Brasília são salgados. Por causa da elevada renda de uma parte da população local, os comerciantes costumam elevar os valores de itens de higiene e limpeza, mercearia, perecíveis e outros. Levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) mostrou que uma cesta contendo 104 produtos líderes de venda tem o custo mais caro do país, sendo comercializada, em média, por R$ 341,46. O número é 19% superior ao verificado em Pernambuco ; menor do país ;, onde os moradores pagam R$ 286,54.

Além de ter a maior despesa do país, o consumidor do DF também sofre com a variação de preços entre os estabelecimentos. A pesquisa mostrou que o kit de produtos pode ter valores bem diferentes em um mesmo bairro. Em alguns casos, basta atravessar a rua para que a economia seja de quase 20%. Na Asa Sul, onde foi detectada a maior diferença entre a mesma seleção de mercadorias, a diferença chega a 36,99%. ;Isso mostra a importância da pesquisa prévia e da comparação dos preços antes de efetuar as compras;, diz a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci.

A pesquisadora lembra que as oscilações foram evidentes não apenas em estabelecimentos vizinhos, mas também em lojas diferentes de uma mesma rede de supermercados. ;É um engano o consumidor acreditar que vai sempre encontrar o mesmo preço. A variação pode acontecer em qualquer lugar;, destaca. A Proteste analisou 1.156 pontos de venda, entre supermercados, hipermercados, lojas de conveniência e mercados virtuais, distribuídos em 13 estados e o Distrito Federal, e considerou o preço regular do produto, desconsiderando promoções e descontos.

Para especialistas, não é apenas a conta do supermercado que é alta em Brasília, mas também a renda disponível e o custo de vida em geral. ;Pelo que conhecemos do mercado do DF, notamos que há uma presunção de que a população local tem mais dinheiro e isso incentiva a prática de preços mais altos;, afirma o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) José Ricardo Scaroni.

A fidelidade de algumas pessoas com relação às marcas também pesa a favor das empresas mais tradicionais. ;Temos um volume expressivo de pessoas que saem de suas cidades para morar em Brasília. Elas querem continuar utilizando os produtos que costumavam comprar antes, e acabam dando preferência a esses itens;, observa Scaroni.

O número de servidores públicos também interfere, de certa forma, na definição dos preços. Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal (PED-DF), elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mostram que a variação entre o salário médio de um trabalhador da iniciativa privada e de um funcionário público chega a 312,1%, levando em consideração os proventos pagos em junho. Ganhando melhor, o consumidor não se importa em pagar um pouco mais para levar determinados itens para casa, abrindo uma brecha para que os preços disparem nas prateleiras e gôndolas.

Promoção para iludir cliente
A dona de casa Ana Rita Strauss, 54 anos, não se conforma com a prática dos supermercados, que nivelam para cima os preços dos produtos, na comparação com o restante do país. ;A minha mãe mora em Belém (PA), e leva para casa várias coisas que também costumo comprar. Mas ela paga muito menos. Em alguns casos, a fabricante tem a sede localizada aqui perto, mas custa mais barato lá. Não dá para entender;, protesta. Ana também não concorda com a maneira que os estabelecimentos definem o valor das mercadorias. ;Muita gente ganha três ou quatro salários mínimos e tem família para sustentar. Não dá para comprar tudo com esses preços;, diz a dona de casa.

Moradora de um condomínio próximo à DF-140, Ana conta fazer o possível para que a conta do supermercado não fuja totalmente do controle, pesquisando e comparando produtos. ;Sempre faço as compras avaliando quanto determinado item custa em cada lugar. Se estiver muito caro, procuro um similar mais barato ou deixo de levar;, revela. Ela também conta que não se deixa enganar por promoções. ;Em alguns casos, os comércios colocam um produto em oferta e sobem o preço de vários outros. Por isso, detesto hipermercados, basta dar uma volta para perceber que sempre fazem isso;, avalia.

A secretária Arnalda Gomes de Souza, 50 anos, também se indigna com a ideia de que, por morar em Brasília, os consumidores têm que pagar mais caro no supermercado. ;Só porque estamos próximos do poder, acham que toda a população ganha bem e tem a vida fácil, mas não é bem assim.; A secretária acredita, porém, ter poucas opções, já que não dispõe de tempo para fazer pesquisa de preços. ;É muito desgastante e pode não valer a pena pegar trânsito, perder tempo e paciência para economizar alguns centavos em uma lata de óleo, por exemplo. Para bens duráveis, como uma geladeira, até compensa;, ressalta Arnalda.

Opinião semelhante tem o funcionário público Jason Ribeiro, 57. ;Quando estou precisando de algum produto e vejo uma promoção, vou atrás. Mas, no geral, não temos muito para onde correr, os preços são muito semelhantes;, diz.