Na época da chuva, os buracos nas pistas se transformam nos maiores inimigos dos motoristas. Na seca, a dor de cabeça são os remendos feitos para consertar os estragos causados pelas enxurradas. Atualmente, um em cada três quilômetros das vias locais contém algum defeito, segundo levantamento feito pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Os técnicos da empresa mostram que dos 9 mil quilômetros de malha viária no Distrito Federal, 3,1 mil têm problemas. Desses, 57% estão desgastados e 37,30% possuem trincas ou remendos.
Os reparos malfeitos no asfalto fazem os carros trepidarem, obrigam os condutores a desviarem bruscamente e causam uma série de prejuízos mecânicos. Os relevos amassam rodas, comprometem a suspensão e deixam os motoristas em situação desconfortável dentro do veículo. No ano passado, foram gastos R$ 90 milhões somente para consertar vias. Recurso que poderia ser poupado, caso o revestimento usado para cobrir as ruas do DF fosse de mais qualidade.
O Correio percorreu diversas vias urbanas e encontrou situações preocupantes. O problema atinge desde as regiões mais carentes até o Plano Piloto. Entre a 902 Sul e a 916 Sul, por exemplo, quase todo o trecho tinha um remendo sobre o outro, sinal de que a correção na pista foi feita mais de uma vez. O fechamento emergencial dos buracos é um procedimento normal na estrutura de obras de qualquer governo, segundo especialistas, mas quando vários trabalhos paliativos são realizados no mesmo lugar é um sinal de que a pista precisa de uma reforma mais ampla.
Período de seca
No Setor Comercial Sul, no Eixinho Norte (altura da Quadra 215), na Vila Planalto, na DF-463 (que liga São Sebastião ao Setor Mangueiral) e na CNB 9, no centro de Taguatinga, a situação se repete. Segundo o patologista de edificações, professor de fundações e geotecnia da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, quando a situação chega a esse ponto, significa que a estrutura da pavimentação foi comprometida. ;As pessoas pensam que a parte mais importante do pavimento é o asfalto, mas se a base estiver danificada, é preciso refazer um serviço de compactação. Se ainda houver salvação para essa via, basta raspar essa primeira camada com uma lixadeira e fazer um recapeamento. Isso melhoraria a sensação dos motoristas;, analisou.
De acordo com ele, é preciso aproveitar o período de seca ; que deve acabar na segunda quinzena de setembro ; para concretizar esse tipo de serviço. ;Fazer isso na hora da chuva é a mesma coisa que tentar enxugar gelo. O serviço não vai ter durabilidade;, detalhou. A vida útil de uma pavimentação benfeita dura de cinco a 20 anos. Depende de como é construída a base. ;Os brasileiros sabem fazer asfalto. Mas, às vezes, por quererem economizar em certos pontos e ter a necessidade de terminar aquilo depressa, para mostrar serviço, muitas obras são feitas com um revestimento fino que se degrada mais rápido;, ressalta Dickran Berberian.
Prejuízos
O técnico em refrigeração Claudinei Brandão, 25 anos, sai todos os dias do Novo Gama (GO) para trabalhar no Plano Piloto. O motociclista afirma ter dificuldades para desviar dos remendos. ;Já cheguei a me desequilibrar nesses pedaços com as ondulações maiores;, ressalta. Ele diz que gasta até R$ 250 por mês com manutenção do veículo. ;A pista ruim danifica com mais frequência a suspensão, sem falar nas rodas empenadas que tenho de arrumar;, completa.
Alisson Daniel Arruda, 30 anos, abriu mão de uma motocicleta mais confortável para evitar prejuízos. ;Não posso colocar rodas de liga-leve na minha moto. Venho de Águas Claras todos os dias. A EPTG (Estrada Parque Taguatinga) até que está boa, mas aqui no Setor Comercial Sul é muito ruim;, diz, ao mostrar os amassados nas rodas da moto.
Para quem anda de carro o incômodo é o mesmo. Além do aborrecimento com as trepidações, o faturista Evanildo Mangueira Carneiro, 46 anos, é outra pessoa que colocou a mão no bolso para reparar defeitos no carro causados por remendos na W3 Sul. ;A ondulação estava tão alta que empenou a roda. Não deu para aproveitar, tive que trocar;, destaca.
O mecânico Elias Cavalcanti ressalta que as elevações na pista podem reduzir em até 50% a vida útil de uma suspensão do carro. ;Geralmente, atendo clientes com automóveis que estragam a suspensão, o rolamento, amassam as rodas e precisam fazer alinhamento e balanceamento com maior frequência;, elenca. Todos esses serviços podem custar mais de R$ 1,5 mil ao dono de um carro popular.
Responsabilidade
A Novacap é responsável por 9.149.72 quilômetros de vias internas do Distrito Federal. Outros 2 mil quilômetros são controlados e mantidos pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). São pistas como a Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG) e a Estrada Parque Taguatinga (EPTG). No total, o DF possui cerca de 11 mil quilômetros de malha viária.