Jornal Correio Braziliense

Cidades

Serviços que promovem encontro de casais chegam a cobrar até R$ 18 mil


Nos filmes de romance, o final feliz vem quase sempre acompanhado de um casamento. Na vida real, no entanto, encontrar o companheiro perfeito parece ter se tornado um desafio. As dificuldades são tantas que empresários passaram a ver nesse sonho uma oportunidade de faturar. Firmas que se propõem a desempenhar o papel de cupido e sugerir pretendentes compatíveis com os clientes começam a borbulhar em território nacional. Hoje, centenas estão em operação no Brasil. A diferença entre elas está no tipo de serviço prestado, na possibilidade de detalhar, nos mínimos detalhes, o parceiro desejado e no preço. É possível fazer parte de redes de encontro de graça, assim como há opções para quem pode pagar até R$ 18 mil pela possibilidade de encontrar um amor.

Apesar de o valor assustar os apaixonados, a promessa parece compensar o esforço financeiro: viver uma paixão digna de novela das nove. Cada interessado pode buscar a companhia que mais lhe agrade. Algumas empresas mantêm contato com o cliente apenas pelo universo virtual, outras fazem questão de recebê-lo em uma sede fixa para uma conversa. Além dos grupos tradicionais de paquera, também é possível se inscrever em sites voltados a candidatos que seguem uma determinada preferência sexual ou religiosa, como o Gencontros, espaço exclusivo para o público gay, e a Divino Amor, focado nos evangélicos.

Nos Estados Unidos, os sistemas on-line de relacionamento são bastante conhecidos. Uma empresa se diz responsável por 4,8% de todos os casamentos atuais daquele país. A organização chegou ao Brasil no ano passado e foi acompanhada por similares, que, a partir de um amplo cadastro de pessoas e interesses, elas garantem gerar combinações bem-sucedidas.

Uma marca nacional concentra hoje o maior número de solteiros na rede: 30 milhões. De acordo com dados da empresa, os 816 mil internautas registrados no Distrito Federal seguem a mesma tendência dos demais estados do país, em que a maioria dos inscritos são homens. Na capital federal, eles representam 50,3%. Do público total, 38% possuem ensino superior, enquanto 10% têm pós-graduação e MBA. Outros 6% têm doutorado ou Ph.D.

Uma pesquisa divulgada pela empresa na última semana indica que os anseios de homens e mulheres estão se invertendo. Enquanto eles querem casar, ter filhos e viver em família, inclusive abrindo mão das saídas com os amigos, elas aparecem menos dispostas a abdicar da própria programação para estar com o parceiro. E mais: na visão masculina, a expressão “Eu te amo” significa “Eu quero passar o resto da minha vida com você”, enquanto, para a maioria das mulheres, simplesmente demonstra o quanto “Eu quero você na minha vida”.

Novo começo
Como ocorre na contratação de qualquer serviço, os consumidores precisam ficar atentos. É necessário analisar a fundo o contrato e investigar a idoneidade da empresa antes de compartilhar informações pessoais e pagar pelo pacote. A servidora pública Patrícia Monteiro, 39 anos, conta que caiu recentemente em um golpe. “Soube de uma empresa que cobrava R$ 700 para analisar o perfil e fazer a seleção de candidatos. O motoqueiro veio até a minha casa, pegou o dinheiro e eu nunca mais tive retorno”, conta.

Pouco tempo depois, ela conheceu uma companhia com conceito diferenciado, voltada às classes A e B. Como a empresa não trabalha com perfis virtuais e ainda não foi lançada em Brasília, ela decidiu se inscrever no Rio de Janeiro. “Eu sou de lá, mas passei em um concurso público e vim morar aqui. Não tinha amigos na cidade e achei muito difícil encontrar pessoas para me relacionar”, diz. “Na verdade, eu comecei a procurar essas empresas depois que rompi um relacionamento. Trabalho muito e não tenho tempo de sair. Acho tudo muito divertido. Receber mensagens de um possível pretendente levanta o astral. Saber que alguém te quer, ainda que você não queira”, revela.

Há três meses inscrita no cadastro, Patrícia diz que teve encontros com pessoas interessantes. “Até agora, não arrumei um namorado. Mas como eles checam a compatibilidade, mesmo que você não sinta atração pela pessoa, o papo é legal”, afirma. “Para mim, conhecer alguém com bom nível salarial é importante, porque eu ganho bem. Determino mais ou menos a idade, até mesmo o nível cultural. Cheguei a conhecer uma pessoa com esse perfil, mas não rolou. É como ir a uma boate, nem sempre quem você quer te acha bonita”, resume.

Cláudia Toledo, criadora do site, explica que ainda não tem sede em Brasília, mas, mesmo assim, há 2 mil pessoas da cidade inscritas aguardando a chegada dos serviços à capital. “Nós cuidamos de cada demanda pessoalmente, temos uma equipe de psicólogos que montam os perfis. As pessoas não escrevem o que querem. Precisam, obrigatoriamente, apresentar atestado de antecedentes criminais, comprovante de profissão, renda e estado civil”, explica. O preço do serviço sai de $ 1,8 mil a R$ 18 mil por ano. “Quem paga o teto, normalmente procura alguém muito específico. É um embaixador que quer uma mulher com uma determinada idade, limite de filhos, que saiba falar certas línguas e possa morar em outras cidades. Para encontrar o par é feita uma avaliação criteriosa, um a um”, conta.

Além da apresentação propriamente dita, os clientes passam por uma espécie de treinamento afetivo, visando prepará-las para um relacionamento. É o caso da engenheira Anna Paula Godoy, que preferiu não revelar a idade. “Eu fui casada por seis anos e me separei há três. Depois disso, não consegui um namoro estável. Certo dia, procurei na internet por uma agência de casamentos, achei uma e me inscrevi”, lembra. Para tanto, ela teve de ir até Belo Horizonte para encontrar o psicólogo da empresa. “Me disseram que eu ainda não estava pronta para uma relação e tive que passar por um workshop. E foi aí que eu entendi o que estava fazendo de errado, passei a me dar valor, a me maquiar. Quem sabe se tivesse passado por isso antes meu casamentonão teria terminado”, desabafa.

Hoje, ela se diz mais bem preparada para encontrar um companheiro. “Eu estou me moldando ainda, por incrível que pareça. Meus ex-namorados voltaram a me procurar, mas eu não quero. Já sei quem eles são e os defeitos de cada um.” Ainda antes de participar da seleção da empresa, ela já se diz feliz e vitoriosa. “Eu sinto que falta apenas um degrau para que eu conheça o amor da minha vida.”

50,3%
Percentual de homens, que moram no Distrito Federal, inscritos em um dos
maiores sites brasileiros