No início deste mês, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) assumiu a gestão do sistema de informática do órgão, há 16 anos operado por uma empresa terceirizada. A mudança, no entanto, vem deixando os usuários insatisfeitos. Eles reclamam do aumento no tempo de espera em algumas unidades de atendimento e da indisponibilidade de serviços on-line, por meio da página eletrônica da entidade.
O Detran reconhece as falhas e estima que elas possam continuar nos próximos três meses, até a conclusão da migração do sistema. Equipamentos, serviços, operações e consultas computadorizadas dependiam exclusivamente de suporte técnico e banco de dados fornecido pela antiga operadora ; uma das empresas citadas no inquérito da Caixa de Pandora. A partir de agora, no entanto, a administração de todos esses serviços fica a cargo dos servidores do Departamento.
Na manhã de ontem, a reportagem do Correio foi a duas unidades do Detran: no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e no Setor de Administração Municipal (SAM). No primeiro deles, havia grande movimentação de pessoas entre as 12h e as 13h, onde o tempo médio de espera, segundo atendentes, era de 60 minutos. No segundo ponto, contudo, o movimento era menor e, no mesmo horário observado, os serviços aconteciam normalmente. A demora por atendimento girou em torno de 30 minutos.
O militar Jhonny Marconi, 37 anos, esperou uma hora e meia para ser atendido na unidade do Detran no SIA na manhã de ontem ; mais do que o tempo médio. ;Eu só queria pegar os débitos do meu carro, como multas e taxas que faltam ser pagas. Para conseguir imprimir as folhas, esperei esse tempo todo. Normalmente, fico entre 30 a 40 minutos aguardando. Hoje, certamente, foi pior;, avaliou. ;Ainda bem que já tinha saído do trabalho, porque se tivesse algum compromisso chegaria atrasado;, ressaltou. Diferente de Marconi, alguns dos usuários que aguardavam a vez acabaram indo embora antes de serem atendidos na unidade.
O diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, afirma que a transição no sistema de informática foi prevista desde o último contrato assinado com a antiga gestora. ;Os moldes do convênio deste ano foram diferentes dos anteriores. Por quatro anos, foram mantidos contratos emergenciais, mas isso não estava dando certo. Nesse último documento, a empresa se comprometeu a passar o banco de dados para os nossos equipamentos e capacitar nosso pessoal para assumir a operacionalização. Esse ciclo durou seis meses;, revelou. ;Acontece que não deu tempo de fazer a transição por completo. Era preciso mais quatro meses para que o sistema tivesse as mesmas consistência e sustentabilidade de antes;, assinalou.
Menos gastos
Com o fim da terceirização, o Detran abriu 18 licitações a fim de contratar empresas para manutenção, desenvolvimento e suporte do sistema. ;Com a quebra do monopólio, mais empresas poderão oferecer proposta e o valor que pagávamos à antiga empresa irá baixar. Acreditamos que vamos ter entre R$ 16 milhões a R$ 19 milhões de economia por ano;, revelou Bezerra. ;As pessoas têm que entender que foi necessária a suspensão desse contrato. Vamos ter, sim, oscilações no sistema porque precisamos entender como ele funciona. Mas isso não implica, necessariamente, no aumento do tempo de atendimento. Claro que pode acontecer;, completou.
O diretor-geral do Detran acrescenta que, na última quarta-feira, foram verificadas falhas em pagamentos feitos por meio do Banco do Brasil. Eles estariam demorando 24 horas para serem reconhecidos. Além disso, alguns serviços oferecidos no site estão fora do ar.
A microempresária Cledilene Pereira da Silva, 31 anos, chegou ao Detran do SIA, ontem, por volta das 11h. Passava das 12h e ela ainda não havia sido atendida. ;Vim para fazer a transferência de um carro, mas o atendimento está demorado. Não imagino quando vão me chamar. Ainda tenho que almoçar e resolver várias coisas;, relatou. ;Vamos ver como vai ficar essa mudança, pois ela pode atrapalhar a vida de muita gente que depende de tempo.;
Suspeita
Desde que foi criado, em 1967, o Departamento de Trânsito do Distrito Federal nunca teve um sistema de informática próprio. A Search Informática foi quem prestou o serviço por quase 17 anos. Ela é uma das empresa suspeitas de superfaturamento no contrato com o GDF.