Faltam apenas quatro dias para o fim do prazo do julgamento de Jaqueline Roriz (PMN-DF) em plenário. Mesmo assim, a maioria dos deputados federais não mostra muito interesse pelo caso. As seguidas denúncias contra ministros do governo da presidente Dilma Rousseff e a consequente crise na base aliada têm absorvido a maior parte da atenção dos parlamentares. Deputados e líderes ouvidos pelo Correio evidenciam que a discussão está mais concentrada no baixo clero e não tem ganhado muita repercussão na Casa. Por isso, o resultado da votação é imprevisível. Para muitos, o ;clima; no parlamento será um dos fatores importantes para a definição do futuro político da colega.
Jaqueline foi flagrada em vídeo ao lado do marido, Manoel Neto, recebendo dinheiro de origem supostamente ilegal do então presidente da Codeplan, Durval Barbosa, para usar como caixa dois, em 2006, na campanha para a Câmara Legislativa. Apesar de a Operação Caixa de Pandora ter sido deflagrada em novembro de 2009, as imagens de Jaqueline só foram divulgadas em 4 de março deste ano (leia Linha do tempo). A deputada acabou condenada pelo Conselho de Ética e Decoro da Câmara dos Deputados, que votou pela sua cassação.
O Código de Ética da Casa, no entanto, prevê o período de 90 dias úteis para o encerramento da análise do processo, o que ocorrerá na próxima terça-feira. Depois, o tema passa a ser prioridade da pauta do plenário. O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), tem dito que pretende colocar o caso em votação até o início de setembro, mas a decisão não depende apenas dele. Como o processo não tranca a pauta, pode ser retirado da primeira colocação, se for aprovado requerimento nesse sentido. Para conseguir apreciar a matéria, o petista precisa firmar acordo com os líderes dos blocos e partidos.
O consenso só sairá da boa vontade dos deputados em mudar o foco do atual debate. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), tem passado os últimos dias justamente tratando da relação do partido com o governo. ;Ainda não tivemos a oportunidade de discutir esse assunto com a bancada;, explica. O parlamentar também confessa ainda não ter conversado com a própria acusada para conhecer as justificativas da colega. ;Ela tem uma postura muito tímida, acanhada.;
Críticas
A falta de pronunciamento formal é uma das críticas dos deputados ao comportamento de Jaqueline. Para muitos, ela devia ter ido até a tribuna para se defender e explicar os fatos. A fim de tentar suprir essa lacuna, a deputada tem entregado um memorial de defesa aos demais parlamentares. Uma parte foi repassada pessoalmente. Mas como são 512 colegas, a maior parte dos documentos será enviada pela própria assessoria dela. Ao Correio, Jaqueline disse que tem sido bem-recebida pelos deputados. ;Essa conversa é normal e a expectativa do resultado é muito positiva;, afirmou, confiante.
O presidente do Conselho de Ética e Decoro, José Carlos Araújo (PDT-BA), acredita que a confusão na base pode mexer com os ânimos dos deputados. ;O resultado vai depender muito do momento em que se colocar o caso em votação;, avalia. Ao contrário da maioria dos colegas, ele arrisca um palpite e acredita que a baixa influência de Jaqueline no parlamento federal poderá resultar na cassação dela.
Outro deputado, que prefere não se identificar, afirma que o baixo clero deverá tentar salvá-la. De acordo com José Antônio Reguffe (PDT-DF), a votação secreta torna o resultado imprevisível, mas também favorece a absolvição. ;Nenhuma votação no parlamento deveria ser fechada;, diz o pedetista.
O deputado Ivan Valente (PSol-SP) é do partido que ingressou com o processo contra Jaqueline. Para ele, a estratégia da acusada é justamente confiar no voto secreto. ;Ela é nova, não tem tradição nem força, mas essa questão de ser fato ocorrido antes do mandato assusta muita gente;, avalia.
Silvio Costa (PTB-PE), por sua vez, garante que não tem conversado sobre o caso de Jaqueline Roriz, mas diz que já decidiu votar pela absolvição dela. ;Só agora vou me inteirar do que está acontecendo nos bastidores, mas não dá para cassá-la por ter feito caixa dois;, afirma. O deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) garante não ter opinião formada. ;Mas tenho visto que a tendência da maioria é absolvê-la;, arrisca.