As aulas na Universidade de Brasília (UnB) recomeçam na próxima segunda-feira, mas os estragos provocados por um forte temporal em abril deste ano ainda não foram totalmente sanados para a volta das atividades. No subsolo do Bloco B do Instituto Central de Ciências (ICC) Norte, o mais atingido, alunos, professores e funcionários circulam em meio a tapumes, e alguns materiais ainda estão encostados pelo corredor. A administração da instituição já recuperou boa parte do que foi destruído e o restante depende da realização de projeto de engenharia.
Nos espaços onde funcionavam a UnB TV e a pós-graduação em administração, e em dois anfiteatros, as reformas ainda não começaram, de acordo com o prefeito do câmpus Darcy Ribeiro, Paulo César Marques. ;Esses locais foram os mais atingidos e dependem de projeto para aplicarmos os recursos;, explica. Os trabalhos de recuperação devem ter início ainda neste semestre. O restante das obras nos departamentos e faculdades afetados já foi executado e entrou no orçamento da UnB como atividades de manutenção. ;Recuperamos todo o resto ; onde não houve tanta destruição ; com os nossos próprios meios e faltam agora apenas algumas instalações e a limpeza das áreas;, detalhou o prefeito do câmpus.
O Clube do Servidor, localizado no Setor de Clubes Norte, receberá algumas atividades acadêmicas da UnB prejudicadas pela chuva. Segundo Paulo César, faltam apenas pequenos ajustes na parte de iluminação e na rede de comunicação do local, que dependiam de projeto, para a transferência de alguns laboratórios e salas de estudo, por exemplo. No semestre passado, as fundações Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), a Faculdade de Tecnologia e o Instituto de Química receberam alunos e professores prejudicados pela chuva no semestre anterior. Na próxima segunda-feira, essa disposição deve permanecer. ;Abrimos um anfiteatro que não era usado para aulas. Nada nem ninguém ficará prejudicado;, garante o prefeito do câmpus.
Segundo o decano de Administração, Pedro Murireta, o Ministério da Educação (MEC) disponibilizou R$ 3,5 milhões para as reformas das áreas afetadas no ICC Norte. À época, a administração da universidade elaborou um projeto para fazer algumas obras de adaptação no estacionamento do prédio e, assim, diminuir o risco de uma nova inundação, mas elas ainda não saíram do papel. ;Fizemos o orçamento do que seria preciso e o MEC se colocou à disposição para negociar;, indica. Quanto aos equipamentos perdidos, o prejuízo estimado ficou em quase R$ 4 milhões. ;Montamos uma equipe para discutir isso e os processos já estão em andamento para repor o que foi destruído;, adianta Murrieta.
Além da destruição da estrutura física e de equipamentos, o temporal provocou perdas de trabalhos desenvolvidos durante anos: dados de pesquisas encerradas ou em andamento, gravações em fitas cassete, artigos, trabalhos finais, dissertações e teses. O Departamento de Geografia foi um dos mais afetados pela lama. O Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (Ciga) e o Centro de Documentação Geográfica Milton Santos foram tomados pela água. Computadores, móveis e livros boiaram pelo ICC. Cerca de três mil obras foram perdidas.
Recuperação
O temporal de abril destruiu a AD Consultoria Empresarial, empresa júnior formada por alunos de administração. A água da chuva alcançou quase todos os equipamentos de informática e o mobiliário. O diretor de organização e processo, o estudante do 6; semestre Allan Sinimbu, 20 anos, morador de Águas Claras, estimou um prejuízo de R$ 60 mil. ;Conseguimos repor os equipamentos com recursos próprios e também compramos novos móveis, mas ainda não chegaram;, contou. Enquanto seguia a reforma na sala, no subsolo do ICC norte, a empresa mudou-se provisoriamente para um espaço cedido pelo departamento do curso.
Passado o susto, os alunos conseguem olhar para trás e até brincar com a situação. Eles montaram, nos tapumes em frente à empresa júnior, uma linha do tempo com fotos desde a destruição até a reforma completa do espaço onde está localizada a AD. As imagens mostram a estrutura física e móveis sujos de lama, computadores destruídos e quadros de avisos caídos. ;Nosso funcionamento independe da universidade, continuamos atuando durante todo esse tempo. Desde a inundação, paramos apenas durante dois dias para pensar no que fazer. Estamos nos organizando e, aos poucos, voltando ao normal;, comemora Allan.