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Governador em exercício, Filippelli quer mostrar que crise já passou


Em viagem oficial à China, o governador Agnelo Queiroz (PT) transferiu ontem o comando do Distrito Federal ao vice, Tadeu Filippelli (PMDB), em meio a uma tensão entre os dois principais partidos que compõem a aliança em torno do Palácio do Buriti. Na interinidade até a próxima terça-feira, Filippelli vai trabalhar para contornar a crise provocada pela demissão do deputado federal Luiz Pitiman na Secretaria de Obras. O governador em exercício não fará gestos ousados que representem uma ruptura com a administração de Agnelo. Pelo contrário, ele pretende demonstrar em discursos que o PMDB quer deixar os desentendimentos no passado.

Na noite de ontem, Filippelli representaria o governo em solenidade recheada de petistas: o recebimento do Plano Anual de Investimentos e Serviços do Orçamento Participativo do Distrito Federal, no Museu da República. O documento foi elaborado pelos conselheiros do programa, com base em reivindicações da comunidade. O modelo de democratização dos gastos orçamentários foi idealizado na gestão de Cristovam Buarque, primeiro governador petista no DF, entre 1995 e 1998, mas suspenso nas administrações seguintes. Ao preparar o discurso, Filippelli começou o texto com um ;companheiros e companheiras;.

Na semana passada, o recado duro ao PT já foi dado. No programa do PMDB que foi ao ar em inserções de 30 segundos, Filippelli deixou claro que o partido estava cumprindo todos os termos acordados com o partido de Agnelo na campanha de 2010, quando as legendas decidiram se coligar. ;O PMDB não fugiu a suas responsabilidades, não criou obstáculos para o governo, não rompeu compromissos, não fraquejou;, afirmou. E acrescentou, citando ;um novo caminho; numa alusão à marca de campanha da dobradinha PT-PMDB: ;O grande compromisso do PMDB é com Brasília e com o verdadeiro novo caminho;.

Numa demonstração de respeito a Agnelo, Filippelli vai preparar uma pasta com todos os atos que assinar até a volta do governador da China. O petista embarcou ontem com destino a Shenzhen, cidade ao Norte de Hong-Kong, onde participará da abertura da XXVI Universíade, uma competição internacional que ocorre a cada dois anos e reúne esportistas universitários para disputar modalidades olímpicas. Agnelo representa o Brasil, uma vez que Brasília concorre com outras duas cidades para sediar o evento esportivo em 2017. Ele chega à China apenas amanhã e embarca de volta no domingo. Chegará de volta na terça-feira, depois de uma longa viagem, com duas conexões em aeroportos na Europa. Filippelli deverá buscar Agnelo no aeroporto e neste momento entregará a ele um relatório com todas as decisões tomadas na ausência dele.

Gestos
A viagem de Agnelo é uma oportunidade para Filippelli demonstrar que a parceria entre eles vai bem. Ontem, em entrevista ao Correio, o governador em exercício disse que o PMDB aprova a indicação do engenheiro Oto Silvério Guimarães para a Secretaria de Obras. ;O PMDB se sentiu respeitado e atendido com a escolha do novo secretário de Obras;, declarou Filippelli. Presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) no governo de Cristovam, Guimarães tem bom trânsito no setor de construção civil e é considerado um técnico com traquejo político. Agnelo anunciou que se tratava de uma escolha pessoal que não desagradaria aos partidos da base de sustentação.

De acordo com aliados de Agnelo e Filippelli, governador e vice têm uma boa relação, são afinados e têm respeito mútuo. O problema são as crises entre petistas e peemedebistas na base, além do apetite do PT em relação ao quinhão destinado ao PMDB no governo. A tensão foi grande a ponto de Filippelli buscar no vice-presidente da República, Michel Temer, apoio para manter os compromissos pré-eleitorais. Ex-presidente nacional do PMDB, Temer é um dos principais avalistas desse acordo.

Na disputa
Com o apoio do Ministério do Esporte, Brasília disputa com outras duas cidades a escolha para sediar a Universíade de verão em 2017. A capital brasileira tem como concorrentes as cidades de Taipé, em Taiwan, e Kocaeli, na Turquia. A decisão é tomada pela Federação Internacional de Esporte Universitário (Fisu) e será anunciada em novembro.