Estimar o preço de monumentos como a Catedral Metropolitana de Brasília, um dos mais visitados da capital federal, não é tarefa fácil. Significa somar o custo do templo com o valor cultural, que é subjetivo. No caso da obra de Oscar Niemeyer, no entanto, a estrutura de colunas curvas e vitrais coloridos vale R$ 75 milhões, segundo o mestrando em contabilidade da Universidade de Brasília (UnB) Matheus de Mendonça.
Ele diz que só há como chegar ao número de forma indireta. ;Não há como medir o valor do edifício em si, principalmente quando tratamos de lugares abertos à visitação pública. Utilizamos o método do custo de viagem. O turista gasta, em média, R$ 1 mil para vir a Brasília e visitar a Catedral, mas estaria disposto a desembolsar até R$ 1,4 mil. Isso gera uma sensação de ganho. Com base nisso e no número de visitantes para cada 100 mil habitantes, chegamos à quantia;, explicou.
O estudo é inédito no país. Para saber quanto gasta o turista que viaja para Brasília, Matheus usou uma pesquisa de 2010 do Centro de Excelência em Turismo da UnB. De acordo com o levantamento, 15% dos visitantes de outras unidades da Federação vão ao templo. Desse total, 60% têm entre 31 e 65 anos e 40%, o ensino superior completo. A maioria dos visitantes é de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Roraima. ;Os questionários são próximos dos elaborados exclusivamente para fazer a mensuração. Eu fiz uma série de adaptações até chegar ao que precisava: o custo de viagem de cada indivíduo e a taxa de visitação relativa ao local. Quanto menor o custo da viagem, mais visitado o atrativo vai ser;, disse.
A intenção do mestrando é qualificar os cálculos para deixá-los mais precisos e, em seguida, alcançar outros monumentos de Brasília. Com os dados, o governo terá uma ferramenta precisa para determinar quando e como fazer as reformas e em que época do ano e para que público as campanhas publicitárias de visitação devem ocorrer. ;Por enquanto, temos uma série de limitações. Nossa pesquisa não considera pessoas que moram em Brasília. O valor do prédio em si é subjetivo. A intenção é ver qual período agrega mais valor e qual o efeito disso no valor do bem. Se formos investir em reforma e em marketing, vamos destinar a quem? Por isso, a informação é importante para o turismo;, avaliou.
O diretor do Centro de Excelência em Turismo da UnB, professor Neio Campos, elogiou a pesquisa, mas ressaltou que ainda há muito trabalho a fazer. Segundo ele, é uma forma mais eficiente de medir os impactos do turismo na capital federal e o número de visitantes nos monumentos. O centro vai apoiar as pesquisas de Matheus com novos dados. ;Muitas vezes, temos o conhecimento de que o atrativo é bem visitado, mas não sabemos o que representa para a cidade. Se um atrativo atrai turistas, o que isso representa em termos econômicos? Uma viagem para conhecer um monumento envolve vários setores econômicos. Isso é o início de uma sistematização;, afirmou o especialista.
Admiração
Flora Beatriz Galdino, 15 anos, faz parte do rol de turistas que chegam de longe para conhecer a Catedral (leia Para saber mais). Ela veio de Trairi (CE) para conhecer a cidade. Viajou cerca de 2.112 quilômetros em um ônibus para passar 10 dias na capital federal. Ontem, passeou pela Esplanada dos Ministérios e se encantou com o céu aberto de Brasília e a arquitetura dos prédios. ;Estou gostando muito. Os prédios daqui são bem diferentes dos da minha cidade;, comparou. A tia da jovem, Suzete Galdino, 35 anos, fez questão de apresentar os monumentos à sobrinha. ;Todo mundo tem que conhecer Brasília. Nossa cidade não deixa nada a desejar às outras capitais;, afirmou.
O comerciante Arnold Serapião dos Santos veio com a mulher e a filha de Curitiba (PR) para visitar o filho e conhecer a capital federal. Resultado: ficou impressionado com ;a organização e com a beleza da cidade;. ;Brasília é bonita, e a Catedral é admirável. Gastamos cerca de R$ 350 com gasolina e hotéis na estrada para chegar até aqui e valeu muito a pena;, elogiou.
Obras
Atualmente, além da Catedral, que passa por reformas, mas está aberta à visitação, o Palácio do Catetinho e a Torre de TV estão em obras. De acordo com a subsecretária de Políticas de Turismo do DF, Ariadne Bittencourt, esses investimentos significarão, a longo prazo, uma potencialização do setor na capital do país.
Espressão artística
O arquiteto Oscar Niemeyer é o autor do projeto da Catedral Metropolitana de Brasília. A igreja é uma das mais famosas expressões artísticas de Niemeyer, que é declaradamente ateu. A estrutura do prédio, dividida por 16 colunas curvas de concreto, levou mais de 10 anos para ficar pronta. O primeiro passo para o início da obra foi o lançamento da pedra fundamental, em 12 de setembro de 1958. Dois anos depois, a estrutura ficou pronta. Em 1967, antes da conclusão dos trabalhos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou o monumento como patrimônio histórico da humanidade. Cada um dos pilares da Catedral pesa nove toneladas. Recentemente, o Governo do Distrito Federal e a Petrobras financiaram uma reforma total do prédio, com investimento de R$ 25 milhões. A revitalização contou, entre outras coisas, com a restauração dos vidros externos e dos vitrais (foto), de autoria da artista Marianne Peretti. Também houve a impermeabilização das 16 colunas.