A perícia sobre o acidente que matou os irmãos Pedro Lucas, 3 anos, e João Marcos, 7, na BR-060 confirma que a Saveiro estava em alta velocidade e na contramão quando acertou o carro da família Campos Moraes às vésperas do Natal, em 17 de dezembro de 2010. O posicionamento do carro de Fabrício Rodovalho é apontado como a causa do acidente que machucou muito Marcos, Vyviane, o próprio Fabrício e abriu uma ferida eterna no casal, que perdeu suas duas crianças. De acordo com o documento, que deve ser entregue hoje à Polícia Civil e aos advogados dos motoristas, não há muita diferença entre as velocidades apuradas dos dois veículos no momento do choque. O problema, no entanto, foi a ultrapassagem proibida em local de faixa contínua, como havia atestado o documento da Polícia Rodoviária Federal.
O laudo produzido pela Divisão de Perícias Externas do Instituto de Criminalística de Goiás concluiu que no instante da batida, a Saveiro conduzida pelo engenheiro ambiental Fabrício Rodolhavo estava a 94km/h. A velocidade apurada no mesmo momento em relação ao Idea de Marcos e Vyviane foi de 89km/h. Os dados foram informados pelo coordenador da divisão, Jair Alves da Silva. Ele afirmou ao Correio que a velocidade, no entanto, não leva em consideração a perda de aceleração em função da frenagem. ;Essa aceleração não considera a redução natural quando os motoristas enxergam uma situação de perigo e pisam no freio até parar ou bater. Há casos em que a velocidade entre a frenagem e a batida diminui pela metade.;
Inquérito
Os dados produzidos pela perícia serão juntados ao inquérito em curso na delegacia de Guapó, município onde ocorreu o acidente no ano passado. O laudo era a última peça que faltava para a conclusão das investigações. Agora, os delegados à frente do caso vão relatar o inquérito, ou seja, escrever uma conclusão sobre as apurações. Nesse texto, os policiais devem indiciar Fabrício por homicídio culposo ou doloso ; ou ainda dolo eventual, quando mesmo sem a intenção de matar, a pessoa assume o risco.
O passo seguinte será com o Ministério Público. O órgão aguarda o inquérito para oferecer a denúncia contra Fabrício. Assim como no caso do indiciamento da Polícia, a denúncia pode apresentar variações de responsabilidade. ;Na semana que vem, devo encaminhar essa denúncia ao Poder Judiciário;, estimou o promotor de Justiça Marcelo Franco Assis Costa. Em 13 de junho, ele determinou à Polícia Civil a abertura de inquérito, que, até àquela altura, nem sequer tinha começado. No último domingo, o Correio mostrou a dificuldade de Marcos e Vyviane, ainda fragilizados pela dor da perda dos dois meninos, tiveram para cobrar a apuração do caso na Polícia Civil com a ajuda do Ministério Público.
Para formar a opinião sobre o acidente, tanto os delegados de polícia quanto o promotor de Justiça vão levar em consideração vários aspectos da investigação. Entre os elementos, há um boletim de ocorrência do Departamento de Polícia Rodoviária Federal. O documento descreve o acidente indicando que, ;segundo testemunhas e vestígios encontrados no local do acidente, V1 (Saveiro Preta de Fabrício) trafegava pela BR-060 no Km 179,9, sentido Jataí/Goiânia, quando inadvertidamente em um local de proibida a ultrapassagem, faixa contínua, não respeitando um fluxo forte de veículos que trafegavam em ambos os sentidos, colidiu com V2 (o Idea da família Campos Moraes), que não conseguiu desviar de V1;.
O relato de testemunhas que viram o acidente e falaram à Polícia Civil recentemente também contará para indicar as responsabilidades pela tragédia. O engenheiro civil Eduardo Henrique Marquez disse que no dia do desastre tinha pressa em chegar a Goiânia para ir a um casamento. Por isso, dirigia seu Vectra em alta velocidade. Mesmo a 140 km/h, ele disse que foi ultrapassado pelo condutor da Saveiro que bateu no carro da família Campos Moraes. Duas outras testemunhas que seguiam 300 metros atrás do Idea de Marcos e Vyviane confirmaram a versão do casal. Policiais civis estavam numa viatura que perseguia o Vectra de Eduardo, justamente porque trafegava bem acima da velocidade máxima da via. O carro da Polícia foi deixado para trás pela Saveiro. O policial Florêncio Marques Filho alegou ter sido surpreendido com o automóvel em ;altíssima velocidade;, ;ultrapassando em lugar proibido;. Fabrício preferiu não dar entrevistas.
Testemunhas
O policial Florêncio Marques estava acompanhado de seu colega João Ernesto Lara. Os dois trabalham na delegacia de Guapó, justamente a unidade que investiga as causas da tragédia com a família Campos Moraes. Os dois prestaram os primeiros socorros às vítimas. Em depodimento, disseram que a Saveiro conduzida por Fabrício corria muito e fez uma ultrapassagem proibida.
Opinião do internauta
Leitores do Correio comentam a demora na liberação do laudo pericial sobre o acidente
Elvira Gouveia
;É um absurdo e um descaso total com os sentimentos dos pais. Como justificar tanta demora, se não por pura incompetência. Peritos façam aquilo que pagamos para vocês fazerem.;
Leonardo Macedo
;Será que é tão difícil para os peritos colocarem num papel que o carro bateu de frente na contramão, pois estava fazendo uma ultrapassagem perigosa? Coloca logo esse Fabrício Rodovalho para pagar por sua imprudência e pronto.;
Mônica Nobre
;Mais uma vez, temos que conviver com notícias como esta. É a certeza da impunidade. Às vezes, até torcemos, desculpe, para que isso ocorra com o filho de alguma autoridade para que, quem sabe, eles se sensibilizem. Fiquei sabendo que os pais estão desolados. Será que mais uma família ficará sem resposta?
Caio Alcântara
;Triste ver isso. Que Deus abençoe as famílias. O trânsito precisa ser melhorado e apoiar as empresas de ônibus é uma bela alternativa. Vamos melhorar o sistema de transporte.;
Laura Fonseca
;Revolta-nos saber que foi preciso esperar sete meses para que alguma providência fosse tomada. É um círculo vicioso: certeza da impunidade, desrespeito às leis, morte, sofrimento de pessoas inocentes e ; elo mais grave da corrente ; a banalização da morte. Antes de estatísicas, são pais e filhos.;
Valéria Aparecida Correa
;Absurda a impunidade neste país, além da inoperância da polícia goiana. Sete meses de agonia e desespero de pais que perderam seu maior tesouro. Vidas são descartadas e as autoridades deixam o tempo passar. Até quando?;
Marcus Oliveira
;Não é possível que esta barbárie fique impune. Rogo ao Ministério Público que, investido da autoridade concedida pela Constituição Federal, investigue esse fato e não deixe que a polícia sente em cima desse terrível crime.;