O número de moradores de Águas Claras triplicou em apenas seis anos e, diante desse crescimento que surpreende até mesmo especialistas, os problemas de infraestrutura não param de se agravar . Não é preciso chegar à cidade para perceber que a área está sobrecarregada. Nas horas de grande movimento, o trânsito se estende para além das fronteiras da região, o que afeta a vida de motoristas de outros bairros. De longe, é possível acompanhar o crescimento do horizonte de prédios e o vaivém de trabalhadores de pelo menos 185 canteiros de obras. Os incômodos decorrentes da concentração populacional também se multiplicam. Os serviços públicos começam a dar sinais de saturação, como é o caso da rede de coleta esgoto. Em algumas ruas, a água suja e fétida transborda e alaga o asfalto, causando transtornos. A falta de luz também é uma realidade no bairro e obriga os moradores a subirem dezenas de andares de escada nos arranha-céus.
Apesar de trazer dores de cabeça para a comunidade, essa lista de problemas parece pequena diante das perspectivas de crescimento de Águas Claras. A cidade tem hoje 135 mil moradores, distribuídos em 520 lotes ocupados. Mas existem 387 lotes vazios e 185 edifícios em construção. Ou seja, apenas 47% das projeções foram edificadas até agora. A expectativa é que a cidade fique com 200 mil habitantes, quando estiver concluída. Com essa população, os problemas atuais certamente ficarão pequenos diante dos desafios que a comunidade terá de enfrentar para se adaptar ao enorme contingente de moradores.
Um dos exemplos da saturação de Águas Claras está na Rua 36 Norte, uma das mais nobres da região. Em frente a um luxuoso condomínio residencial cercado, poças de esgoto crescem ao lado das galerias de águas pluviais. Os carros que passam no local jogam a água negra sobre os pedestres e quem circula pela área comercial da região também fica incomodado com o cheiro forte.
A estudante Isa Vieira, 37 anos, acabou de comprar um apartamento na região. Ela se surpreendeu ao encontrar os vazamentos em uma área tão nobre de Águas Claras. %u201CÉ inacreditável que isso aconteça na cidade, justamente em um local onde os preços estão tão altos%u201D, comenta Isa. Ela atribui o vazamento ao crescimento desordenado da região. %u201CTemos poucas áreas verdes e muitos prédios. Mais cedo ou mais tarde, esse tipo de problema iria acontecer. Águas Claras cresceu muito rápido%u201D, acrescenta a estudante.
A Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb) informou que esse vazamento de esgoto se agravou depois que um supermercado realizou uma ligação irregular para despejar resíduos na rede de águas pluviais. A empresa garantiu que o estabelecimento foi notificado para interromper o despejo ilegal e, que assim que for feito, o problema será solucionado. Para evitar novos casos, a Caesb está construindo mais uma estação elevatória em Águas Claras, que tem previsão para ficar pronta em nove meses. A companhia garantiu que a estrutura existente hoje atende a demanda.
Trânsito
O tráfego de veículos também é uma das grandes reclamações de quem vive em Águas Claras. No início da manhã e no fim da tarde, as ruas estreitas ficam muito pequenas para a frota de carros que circula pelo bairro. O resultado são engarrafamentos que podem transformam curtos percursos em viagens demoradas. A falta de estacionamentos é outra reclamação. Nas áreas comerciais, é quase impossível encontrar um espaço para deixar o veículo.
A professora universitária Marili Quadros, 34 anos, mora há apenas seis meses em Águas Claras. Trocou o Sudoeste pela região em busca de espaço e tranquilidade. Mas reclama da dificuldade para circular pelo bairro. %u201CO trânsito daqui é muito ruim, não imaginei que o problema fosse tão grave. Me surpreendi%u201D, comenta Marili. Ela critica ainda a falta de equipamentos públicos. %u201CNo Sudoeste, havia muitas praças e áreas de convivência. Aqui, é raro encontrar um parquinho para as crianças%u201D, acrescenta a professora, mãe de uma menina de 4 anos.
Apesar de a localidade abrigar 135 mil pessoas, boa parte dos equipamentos públicos para a comunidade ainda não saiu do papel. Terrenos inicialmente previstos para escolas e postos de saúde viraram projeções imobiliárias e os que mantêm a destinação continuam vazios. Águas Claras tem 28 lotes destinados para educação, mas não há escola pública. Quem não tem recursos para pagar por uma vaga na rede particular precisa enfrentar uma viagem até Taguatinga para estudar. Além disso, não há postos de saúde, nem delegacia.
Investimentos
As melhorias para Águas Claras dependem de uma união de esforços de várias áreas do governo. As lideranças comunitárias do bairro são atuantes e percorrem gabinetes do GDF com dezenas de pleitos, que vão desde melhorias no asfalto até a construção de grandes obras, como a duplicação de pistas. Por conta de problemas políticos, desde o começo deste ano, a cidade teve quatro administradores regionais. O atual, Manoel Carneiro, assumiu o posto no mês passado e fez uma lista de obras prioritárias. Ele garante que procurou dezenas de secretários e de presidentes de empresas públicas para pleitear mais investimentos.
Uma das medidas que ele promete seguir é obrigar as empreiteiras a realizar um relatório de impacto de trânsito (RIT) para a aprovação dos alvarás de construção. %u201CAlém disso, exigimos que cada unidade tenha duas vagas de garagem a partir de agora, porque não há mais espaço para estacionar os carros na cidade. Temos que fazer isso para evitar um colapso%u201D, justifica Manoel.
Uma das prioridades é a implantação do Parque Central, um espaço multiuso de 175 hectares que será o segundo grande parque da região. %u201COutra briga será para que Águas Claras tenha três creches públicas e uma escola de ensino médio do governo. A cidade ainda tem ruas sem pavimentação, vamos nos empenhar para completar a urbanização%u201D, finaliza o administrador.