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Com a iminente saída de Pitiman, PT e PMDB medem forças por mais espaço


A aliança que sustentou a eleição de Agnelo Queiroz (PT) ao Governo do DF passa pela primeira provação. Com a iminente saída do secretário de Obras, Luiz Carlos Pitiman (PMDB), o vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), espera fazer o sucessor. A indicação do novo homem da infraestrutura, que movimentará orçamento robusto, será como uma régua para indicar se houve, nos primeiros seis meses de governo, um deslocamento de poder. O vice-governador quer indicar para o cargo o presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Maurício Canovas. Mas ainda não há consenso sobre o nome. Petistas se preparam para avançar algumas polegadas em direção ao espaço aberto com a saída do peemedebista do GDF.

Pitiman teve uma atuação ousada no governo. Cresceu, apareceu ; demais para o gosto de petistas e até do próprio Filippelli ; e, com essa postura, cavou a própria saída do Executivo. O retorno do secretário para a Câmara dos Deputados é como uma carta retirada de uma torre de baralho. Se a operação não for feita com muito cuidado, pode derrubar toda a estrutura. Por se tratar de uma vitrine, o setor das obras foi um dos mais negociados na formação do novo governo. A escolha de Pitiman foi interpretada como o triunfo logo na largada de Filippelli, que, ao sugerir o nome do amigo, conseguiu demarcar um território estratégico.

Avaria
Seguindo um raciocínio linear, se Pitiman é uma indicação de Filippelli, o afastamento dele provoca uma avaria na musculatura política do vice-governador. As circunstâncias da exoneração do secretário de Obras, no entanto, não permitem um entendimento simplista desse movimento no tabuleiro do poder. Pitiman tem pretensões de crescer na carreira pública e usou o cargo no primeiro escalão com o foco de onde quer chegar. O atrevimento de inaugurar obras, noticiar ações e articular indicações incomodou petistas sobretudo, mas causou desconforto também a Filippelli, que conquistou o posto de vice, mas tem como meta a função de governador.

Ainda não há, no entanto, um ganhador na batalha por mais influência no governo. A escolha do nome que ocupará a vaga aberta por Pitiman é fundamental para decretar quem ganha e quem perde com a queda do secretário indicado por Filippelli. É exatamente neste ponto que se encontra o cabo de forças entre o PT e o PMDB. O vice-governador manterá o prestígio na pasta se conseguir, por exemplo,
confirmar Maurício Canovas, que hoje preside a Novacap na Secretaria de Obras.

Mas ainda não há consenso sobre a indicação. Com a vaga aberta, o PT sabe que terá de ouvir Filippelli, mas espera se apropriar de, pelo menos, uma fatia do espaço até então sob o domínio dos PMDB. Segundo petistas, o perfil que Agnelo espera do próximo titular da pasta é o de um engenheiro sem pretensões políticas. Para o PT, no entanto, um consenso que favoreça o partido deve ser tratado com cautela, pois a estratégia é avançar um pouco sobre o espaço cedido aos peemedebistas sem ruir a relação que sustenta o governo.

Novo caminho
Em menos de dois anos, o PMDB teve uma trajetória movimentada.Passou das mãos do ex-governador Roriz, fez escala na gestão de Arruda e, após disputas internas, abraçou o PT em uma campanha vitoriosa. A crise de identidade do PMDB começou com a decisão do então presidente da legenda, Tadeu Filippelli, de se descolar de Roriz, que não correspondia às suas expectativas políticas.

Filippelli comandou um movimento interno no partido que determinou a saída do ex-governador da sigla em setembro de 2009. Roriz pressionou para ter a garantia da legenda em 2010, quando pretendia se lançar ao governo. Na batida de frente, perdeu o ex-governador, desgastado em função do escândalo da Bezerra de Ouro.

Com a saída de Roriz do PMDB, o partido se aproximou de Arruda. Mas a aliança foi interrompida em função da Caixa de Pandora. Ao vislumbrar o cenário de crise dos partidos diretamente envolvidos no escândalo, Filippelli iniciou as conversas com o PT ao mesmo tempo em que trabalhou o partido para concorrer às eleições indiretas.

O resultado foi a condução de Rogério Rosso ao governo temporário e a aproximação com Agnelo. Em junho do ano passado, Rosso tentou concorrer à reeleição, mas foi desautorizado por Filippelli, que, àquela altura, já estava acertado com o PT.

Mudanças à vista
A troca na Secretaria de Obras é a mexida mais importante nessa primeira etapa do governo. Mas provavelmente não será a única. Agnelo ainda pensa em substituir a secretária de Educação, Regina Vinhaes. Há algumas semanas, a decisão estava tomada. Mas o governador ainda não encontrou um nome considerado ideal para colocar no comando de um dos setores mais delicado do governo.

Uma das explicações comentadas no meio político para a substituição de Regina seria a necessidade de abrir mais espaço para o PDT. Integrantes da cúpula do governo, no entanto, não confirmam a versão, com o diagnóstico de que a possível saída de Regina se deve um ajuste técnico numa área que, segundo autocrítica dos próprios petistas, ainda não apresentou resultados satisfatórios. Além disso, consideram que o PDT estaria muito bem contemplado com a Secretaria de Trabalho.

Já as negociações com o PTB são no sentido de que o partido ganhe um naco no GDF e abra uma vaga na Câmara Legislativa para a acomodar outro petebista, o suplente de distrital Dr. Charles. A ideia é que o deputado Cristiano Araújo (PTB) vá para o Executivo. Ele queria o Desenvolvimento Econômico, área que o governo resiste em ceder. Tentou o Trabalho, o que desalojaria o indicado do PDT, resolvendo uma questão, mas criando um outro problema. Foi então oferecida a Secretaria de Juventude a Cristiano, pasta que o deputado, a princípio, rejeitou com desdém. A pessoas próximas, confidenciou que é novo, mas não bobo. Quer uma vaga com prestígio e orçamento.

O governador ainda deve abrir espaço no GDF para abrigar Ricardo Quirino, que, com o retorno de Pitiman para a Câmara, perdeu o mandato de deputado. Representante do PRB, partido aliado de Agnelo, Quirino deverá ser absorvido em algum posto da área social. Na próxima semana, ele se sentará com o governador para conversar sobre as hipóteses de trabalho no Executivo. (LT)

Por isso, representantes dos dois grupos tratam o caso com muita reserva. Filippelli tem evitado falar sobre o assunto e integrantes do PT preferem contemporizar a crise. ;A escolha do próximo secretário deve levar em conta um acerto com o vice-governador. Apesar de a gente achar que o PMDB tem muito espaço no governo, sabemos que a aliança não foi apenas para vencer as eleições. Estamos no início da gestão, precisamos fazer acertos e correções, mas não pode haver ruptura em hipótese alguma;, considerou o presidente do PT no DF, deputado federal Roberto Policarpo.