Um dia depois de entregar a carta de demissão, o secretário de Obras, Luiz Pitiman, ainda falava ontem como integrante do governo. Evitou dar declarações públicas e prometeu comentar a crise apenas depois que a exoneração for publicada no Diário Oficial do Distrito Federal, o que deve acontecer no início da próxima semana. ;Continuo trabalhando. Em respeito ao cargo de confiança ao qual fui nomeado pelo governador Agnelo Queiroz, eu me reservo ao direito de não falar;, limitou-se a dizer Pitiman ontem ao Correio sobre a saída do Executivo.
O silêncio foi a estratégia adotada também pelo vice-governador Tadeu Filippelli, presidente regional do PMDB e padrinho político de Pitiman. Ele espera indicar o novo secretário de Obras e o nome em discussão é o do atual presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Maurício Canovas. O governador Agnelo Queiroz (PT) passou o dia em reuniões. Não teve compromissos públicos e espera a volta do secretário de Governo, Paulo Tadeu, que passou os últimos dias fora de Brasília, para anunciar o sucessor de Pitiman.
A troca no comando da Secretaria de Obras era aguardada com interesse por petistas do Distrito Federal. Agnelo prometeu, na última semana de junho, que mexeria na pasta, mas queria tomar providências de forma a não provocar atritos com o secretário, a quem quer manter como um aliado na Câmara dos Deputados. Pitiman tem mandato de deputado federal e assumirá o posto com a saída do governo. Além disso, durante os meses em que esteve no cargo de chefe das obras, manteve uma boa relação com o governador. O problema dele é outro. O estilo dele desagradou petistas de diversas correntes. Inaugurou obras sem o aval do PT e se colocou abertamente como um candidato a cargo majoritário.
Um outro detalhe provocou discórdia. Pitiman tem a imagem associada ao ex-governador José Roberto Arruda, de cujo governo participou como presidente da Novacap, entre 2008 e 2010. Para petistas, essa vinculação tornou-se um risco político. O próprio Filippelli manteve atritos com o secretário de Obras que escolheu. Os dois são amigos, mas Pitiman passou a trilhar caminho independente.
O vice-governador foi solidário ao correligionário e não concordou com a fritura política imposta a Pitiman. Ele esperava que qualquer reclamação relativa ao trabalho da Secretaria de Obras fosse feita diretamente ao comando do PMDB, assim como a troca no comando da pasta. Em entrevista ao Correio, há duas semanas, Filippelli declarou que estava solidário a Pitiman e, se houve erros de integrantes do PMDB, falhas também foram praticadas por representantes de outras legendas, inclusive do PT. Falava, assim, como presidente de partido, preocupado em preservar um liderado.
Justificativas
Pitiman entregou a Agnelo na última quinta-feira uma carta de duas laudas, escrita com minúcias, em que apresentou as justificativas para o pedido de demissão. O governador afirmou, por meio de assessores, que Pitiman é um colaborador e permanecerá como tal onde estiver, no Executivo ou na Câmara dos Deputados. O documento tem apenas uma cópia, que permanece com o peemedebista. Em conversas reservadas, o secretário não escondia certa mágoa com a campanha promovida por setores do PT para derrubá-lo do cargo.
Além da Secretaria de Obras, outras áreas do governo podem passar por mudanças. Há possibilidade, por exemplo, de remanejamento na Secretaria de Educação. Agnelo também prometeu a petistas que faria uma troca na pasta, com a indicação de um novo técnico para o cargo hoje ocupado pela professora Regina Vinhaes Gracindo. Nesse caso, existe uma pressão do comando do Sindicato dos Professores (Sinpro), base petista, para a escolha do sucessor. O PDT também espera ver no cargo um técnico ligado ao partido.
Mais alterações
A semana será decisiva para Agnelo. Ele deve anunciar alterações na estrutura administrativa para começar o mês de agosto, depois das férias dos deputados distritais, fortalecido para os embates do segundo semestre na Câmara Legislativa. O governo precisa aprovar o Plano Plurianual, com as diretrizes estratégicas para os próximos quatro anos (2012-2015), a revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial(Pdot) e o primeiro orçamento elaborado pela equipe de Agnelo Queiroz. Por isso, há possibilidades de outras mudanças no primeiro e segundo escalões para atender demandas dos partidos que apoiam o GDF.
Nova discussão
A revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial foi anunciada pouco depois do início da nova gestão. Como o Tribunal de Justiça do DF considerou inconstitucionais 60 dispositivos do projeto aprovado em 2007, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano decidiu reabrir as discussões sobre esse assunto para substituir artigos que haviam sido derrubados pelo Judiciário local.