Jornal Correio Braziliense

Cidades

Cerca de 30 mil pessoas usam irregularmente a água nas áreas rurais

O uso sem critérios da água nas áreas rurais do Distrito Federal tem ameaçado as nascentes de rios e as lavouras de produtores. A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) estima que 30 mil usuários explorem de maneira irregular os recursos hídricos de regiões agrícolas. Especialistas ouvidos pelo Correio alertam para a falta de fiscalização e de políticas públicas dirigidas ao meio ambiente.

De acordo com Rafael Mello, biólogo e técnico da Superintendência de Recursos Hídricos da Adasa, apenas 6,5 mil pessoas estão cadastradas na agência para explorar água no meio rural. Segundo Mello, os problemas ocorrem principalmente em regiões em que a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) não faz atendimento. ;Mesmo sem a presença da Caesb, as pessoas precisam de água. Dessa forma, há uma intensidade na perfuração de poços artesianos para suprir a demanda de abastecimento. Podemos citar, por exemplo, os condomínios onde não existe rede. No núcleo rural do Rio Preto, em Planaltina, também há vários sistemas de pivôs que retiram grandes quantidades de água dos rios;, explicou o biólogo.

Orientação
A agência reguladora pretende identificar todos os usuários irregulares, cadastrá-los e orientá-los a utilizar a água de maneira mais eficiente. O interessado em regularizar a situação deve acessar o site da Adasa (www.adasa.df.gov.br). Quem não possui conexão com a internet deve procurar o guichê de atendimento do órgão regulador na Rodoferroviária e preencher um formulário.

Na avaliação do geógrafo e diretor do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (UnB), Mário Diniz de Araújo Neto, os órgãos competentes não têm feito o monitoramento adequado das áreas rurais do DF e, dessa forma, a exploração dos recursos ocorre de maneira irresponsável. ;Os mecanismos de fiscalização e controle precisam melhorar. O uso da água tem várias finalidades nesses locais e por isso as autoridades precisam saber exatamente como e de que forma é explorada;, detalhou.

Para o diretor do mestrado em planejamento ambiental da Universidade Católica de Brasília, Genebaldo Freire, o DF passa por um problema de ;segurança hídrica; em função do ;analfabetismo ambiental; das autoridades. Segundo Freire, a escassez de água no DF e a exploração irregular podem ser ;combatidas; com campanhas educativas permanentes. ;As pessoas precisam ser orientadas quanto ao uso racional. Esse processo passa pela instalação de equipamentos modernos e reutilização do recurso. Cerca de 70% da água consumida no Brasil vão para irrigação. Isso precisa mudar;, completou.

Abandono
O agricultor Marco Antônio Bicalho, 26 anos, mora no núcleo rural do Rio Preto, em Planaltina, às margens da DF;315, e cultiva tomate, milho, mandioca e pimentão. Toda plantação é regada com água de uma mina que ;nasce; na propriedade e é armazenada em um tanque de 140 mil litros. Para economizar o recurso hídrico, Bicalho irriga as hortaliças por meio do processo de gotejamento. Mangueiras são instaladas próximas as raízes e gotas de água caem lentamente para molhar as plantas.

;Não podemos desperdiçar água de forma alguma. Nos meses de setembro e outubro, temos apenas o suficiente para consumo próprio e a irrigação é suspensa. Nunca recebemos uma visita da Adasa ou da Caesb para orientações. Pagamos todos os impostos em dia e não recebemos a mesma assistência de moradores das cidades. O governo precisa nos dar mais atenção;, reclamou.


Fique de olho
O interessado em regularizar a captação de água em áreas rurais do DF deve acessar o site da Adasa (www.adasa.df.gov.br) e procurar o link ;Usuário de Água;. Basta preencher nome, endereço, o tipo de captação, estimar a quantidade de água que utiliza e qual é a finalidade. Técnicos da Adasa agendarão uma visita e farão um relatório sobre as necessidades de cada pessoa. Quem não possui conexão de internet deve procurar o guichê de atendimento do órgão regulador na Rodoferroviária e preencher um formulário.