Com a tragédia no complexo do Hospital Universitário de Brasília (HUB), o Distrito Federal acumula 11 mortes em 2011. O número é quase o dobro do registrado no ano passado, quando seis trabalhadores da construção civil perderam a vida enquanto estavam a serviço (leia quadro). O aumento na quantidade de obras na capital do país e a precariedade na fiscalização aparecem como os principais fatores para o crescimento de acidentes fatais.
No caso do acidente ocorrido no HUB, as más condições no local haviam sido denunciadas pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília (Sticmb) em março deste ano (veja fac-símile). O documento indicou 13 irregularidades praticadas na construção do Instituto da Criança e do Adolescente, realizada pela Construtora Anhanguera. Entre elas, equipamentos operados por pessoas sem qualificação, descumprimento das normas de higiene e de segurança e falta de vestimenta completa.
A insegurança no local e de outras sete obras em andamento na Universidade de Brasília (UnB) renderam notificações por parte dos fiscais do sindicato. Apesar dos alertas, a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) do DF não tomou nenhuma providência. Representantes do órgão só estiveram no local após o acidente.
A segurança dos operários é de responsabilidade da DRT. Cabe ao sindicato da categoria receber as denúncias dos trabalhadores e comunicar às autoridades competentes. Segundo Milton Alves de Oliveira, diretor do Sticmb, um ofício encaminhado à Delegacia Regional do Trabalho demora de seis a oito meses para ser verificado. ;Quando a delegacia chega, a obra está em outro estágio ou até mesmo finalizada. No caso de hoje (ontem), fizemos o que podíamos, mas não adiantou, pois quem tem o poder de multa é a DRT;, reclama.
Momentos antes do acidente, um antigo trabalhador da obra denunciou irregularidades no canteiro do Instituto da Criança e do Adolescente. As duas acusações ; horas extras fora do cartão e escavação sem proteção ; seriam notificadas pelo Sticmb na manhã de hoje. ;Ele foi mandado embora na última quarta-feira e hoje (ontem) fez as reclamações. O ofício ficou de ser feito amanhã (hoje);, contou o diretor do sindicato, Milton Alves.
Associados
O advogado responsável pela Construtora Anhanguera LTDA., Otávio Carneiro, informou ao Correio que a empresa sabia das irregularidades listadas pelo sindicato da categoria. ;Tudo o que foi notificado foi atendido prontamente;, garantiu. A empresa tem sede em Goiânia (GO) e atua no mercado da construção civil há 18 anos. O site da firma cita que a construtora levantou um prédio comercial de 6,4 mil metros quadrados em Águas Claras.
Pelo menos 3,4 mil construtoras atuam no DF. Por meio de nota, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) informou que ;muitas dessas são de fora e desembarcam aqui para trabalhos pontuais, não tendo, portanto, compromisso com a qualidade e o desempenho que o sindicato busca para a nossa cidade;. Apenas 370 empresas estão associadas no Sinduscon.
Para a especialista em Segurança do Trabalho Renata Marson de Andrade, da Universidade Católica de Brasília, o aumento na quantidade de obras na capital do país contribui para a insegurança nos canteiros. ;Com a realização da Copa do Mundo no Brasil, a demanda por mão de obra atrai pessoas sem treinamento para o ramo da construção civil.;
Vítimas
Mortes na construção civil no DF em 2011:
Janeiro
; José Morais Freitas, 55 anos, servente de obras
Abril
; Carlos dos Santos, 35, servente de obras
; Carlos Alberto Lima, 51, pintor
; Ivaldo Bisco dos Santos, 61, poceiro
Junho
; João Alves da Cruz Junior, 35, servente de obras
; Paulo do Amaral Assunção, 66, poceiro
; Roberto José da Silva, 60, eletricista
Julho
; Lourival Leite de Moraes, 46, pedreiro
; Nelson Holanda da Silva, 37, auxiliar de pedreiro
; Raimundo José da Silva, 24, carpinteiro
; Um operário não identificado morreu no começo do mês em Águas Claras
Fonte: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília (Sticmb)