Enquanto cerca de 50 barracos de lona e bambu levantados irregularmente por famílias que aderiram ao Movimento dos Trabalhadores SemTeto (MTST) eram retirados de uma área localizada às margens da BR-070, parte do grupo invadiu o Ministério das Cidades, no Setor de Autarquias, na manhã de ontem. Os manifestantes se instalaram na recepção e em frente ao prédio do órgão. A intenção é pressionar representantes dos governos local e federal para terem atendidas as reivindicações do grupo. Eles exigem uma área provisória para servir de moradia a 400 famílias e a inclusão de todos os integrantes do MTST no DF, um total de 800, no cadastro do programa Minha Casa, Minha Vida.
O coordenador do grupo, Zezito Alves, ressaltou que, caso as pretensões apresentadas não atendam essas solicitações, as famílias permanecerão no edifício. ;Só sairemos daqui quando uma posição positiva for tomada;, disse Zezito. De acordo com a assessoria de comunicação do ministério, o auditório do prédio foi oferecido para abrigar os cerca de 70 manifestantes, mas eles não aceitaram a oferta. ;Preferiram permanecer na entrada do prédio, pois lá há mais visibilidade;, informou o órgão. A mnifestação não impediu a passagem e as atividades dos servidores.
À tarde, o titular da Secretaria Nacional de Programas Urbanos ; órgão ligado ao Ministério das Cidades ;, Norman Oliveira, se reuniu com representantes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para discutir as exigências dos manifestantes. Até o fechamento desta edição, o grupo permanecia no local. A Secretaria de Comunicação do DF declarou que as soluções levantadas pela pasta e oferecidas aos manifestantes na segunda-feira continuam as mesmas. O GDF propôs encaminhar as famílias a um abrigo em Brazlândia e inscrevê-las temporariamente no programa Aluguel Solidário.
Já o governo federal, no início da noite, garantiu que estudará a inclusão dos integrantes do grupo no Minha Casa, Minha Vida caso o GDF disponibilize um local para a construção dos imóveis.
Para a retirada das famílias que acamparam no terreno na BR-070 ; que, segundo a Secretaria de Estado de Ordem Pública Social (Seops) e a Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ;, foram necessários 118 servidores de órgãos como a Seops, Agefis e as polícias Militar e Civil. A ação transcorreu pacificamente. Equipes da PM e da Seops permaneceram no local para resguardar a integridade da área verde.
Sem cadastro
Muitos invasores não estão cadastrados no programa habitacional do GDF. O jovem Vicente Matos, 22 anos, é um deles. Desempregado e com um filho pequeno, ele se viu obrigado a dividir o teto com outros familiares depois que se mudou para a casa da mãe, em Brazlândia. ;Pretendo lutar até o fim;, disse. Os que já integram a lista da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) serão excluídos da relação por conta da invasão. Na madrugada do último sábado, integrantes do movimento ocuparam a área pela primeira vez.
Entre os manifestantes, a maioria é mulher e mora de aluguel em regiões como Brazlândia, Ceilândia e Samambaia, como a goiana Alzerita Pereira de Siqueira, 48 anos. Há quase 30 anos vivendo no DF, ela afirma não ter condições de continuar pagando R$ 250 para locar um imóvel no Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia. ;Eu sou especial, sofro de problemas mentais. Só consigo dinheiro com a venda de cafezinhos quando não estou com problemas nos nervos;, contou ela.
Parceria
O Minha Casa, Minha Vida é um programa do governo federal desenvolvido em parceria com os estados e os municípios, gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela Caixa Econômica Federal. O objetivo da ação é a produção de unidades habitacionais, que, depois de concluídas, serão vendidas sem arrendamento prévio, às famílias que possuem renda mensal até R$ 1.395,00.