A falta de servidores para executar tarefas básicas na rede pública de saúde no Distrito Federal compromete o tratamento de pacientes com suspeita de câncer. No Hospital de Base do DF (HBDF), pelo menos mil exames de biópsia estão prontos, mas ainda não foram entregues simplesmente porque não há quem os digite. A situação foi denunciada pelo Correio em reportagem publicada em 25 de outubro do ano passado. Na ocasião, a Secretaria de Saúde, em parceria com o Exército Brasileiro, conseguiu praticamente zerar a pilha de documentos, por meio de um mutirão. O governo também informatizou o sistema, instalando computadores na seção de anatomia da maior unidade de saúde da capital do país. No entanto, não há funcionários para operá-los. Menos de um ano depois, o resultado é novamente o acúmulo de exames. Sobra para o paciente, que pode aguardar até seis meses para saber se está ou não com a doença grave. Uma demora que pode ser fatal.
Se nada for feito para mudar o cenário, a tendência é que a situação piore, pois previsões nada animadoras do Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao Ministério da Saúde, estimam que 5.930 mil casos da doença devem ser registrados no DF até o fim do ano. A maior parte (3.220) deve atingir mulheres. Somente no HBDF, há cerca de 5 mil pessoas em tratamento.
O início precoce do tratamento para eliminar um câncer é determinante para salvar a vida de um enfermo. Em muitos casos, mesmo que haja a suspeita da doença, a pessoa não pode começar o tratamento sem ter em mãos o laudo do médico patologista que confirme o diagnóstico. A diarista Maria Helena da Silva, 42 anos, ficou três meses, entre idas e vindas ao Hospital de Base, até finalmente obter o resultado de uma biópsia feita em sua mãe, a aposentada Rita Maria Lopes, 70. ;Foram três meses de agonia porque a gente não sabia se a mamãe estava com um câncer na mama ou não. Graças a Deus, deu negativo, mas perdemos muitas noites de sono pensando que poderia ser pior;, contou Maria Helena.
Atualmente, no HBDF, apenas três funcionários são responsáveis pela digitação de todos os laudos emitidos pelos patologistas. A situação fica crítica quando um deles entra em férias, pede licença ou se afasta por motivo de doença. Um servidor contou que é comum ter dias que nenhum deles aparece no serviço por motivos diversos. ;Às vezes, um está em férias e os outros dois, de atestado. Tudo isso faz com que a papelada acumule. É doído ver as pessoas angustiadas querendo uma solução para o seu problema e que tudo isso poderia ser resolvido com um pouco mais de boa vontade do governo;, afirmou um funcionário, que preferiu não revelar a identidade.
Membros amputados
No laboratório de anatomia patológica, a falta de pessoal também ameaça o bom andamento do serviço. Desde o início do ano, 4.084 amostras de tecidos e células foram analisadas. Esse é um dos processos do exame de biópsia que consiste em colocar em lâminas fragmentos para que o médico identifique, por meio da microscopia, se a parte analisada é cancerígena. O trabalho minucioso foi feito por apenas quatro técnicos. Na semana passada, um deles se aposentou e não há previsão da substituição da mão de obra.
Atrasos também são verificados em biópsias de quem teve algum membro amputado. O procedimento deveria ser a realização do exame logo após os médicos retirarem uma parte do corpo do paciente, mas não é o que ocorre na prática. Numa pasta velha, estão guardados 49 pedidos de biópsias referentes a esses casos extremos. Os mais antigos datam do início do mês de março deste de ano e, como não são considerados prioritários, devem permanecer esquecidos por mais um bom tempo antes de serem concluídos. ;Como não dá para fazer milagre, a mentalidade que adotamos é que ;se já está amputado, pode esperar mais um pouco. Tentamos dar prioridade àqueles com risco maior de desenvolver um câncer, mas é difícil;, destacou o funcionário.
Quadro defasado
O último concurso para o provimento de vagas para técnicos administrativos da Secretaria de Saúde ocorreu em 2008. Foram chamados 433 aprovados, mas poucos tomaram posse. A última nomeação saiu em 29 de setembro do ano passado, quando 23 novos servidores foram convocados. Como o concurso foi homologado em 2009, os aprovados podem ser chamados até 2013, considerando a prorrogação por mais dois anos.
Fase fundamental
A biópsia é um procedimento cirúrgico importante, no qual se colhe uma amostra de tecidos ou células para posterior estudo em laboratório, tal como a evolução de determinada doença crônica, principalmente o câncer.
Erro resulta em indenização
Uma paciente da rede pública de saúde do DF irá receber R$ 20 mil do GDF por dano moral. O Hospital Regional do Gama (HRG) diagnosticou erroneamente que ela era portadora do vírus HIV. A constatação falha ocorreu durante um teste pré-parto. A sentença é do juiz da Primeira Vara da Fazenda Pública e cabe recurso. Para o magistrado, a conduta dos profissionais de saúde causou ;danos de toda ordem moral à paciente. Por achar que estava realmente com aids, ela foi impedida de amamentar seu filho. Ela só descobriu que era vítima de um erro quando realizou um outro exame.;