Tiros, facadas e socos levam a juventude brasiliense aos hospitais do Distrito Federal. No ano passado, 1.582 pessoas foram internadas depois de sofrerem agressões nas ruas da capital federal. E a maioria dos pacientes tinha entre 15 e 29 anos. A violência deixa marcas nos jovens agredidos e dá trabalho aos médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem que atuam nas emergências e nos ambulatórios da rede pública. As agressões não têm hora para acontecer, mas boa parte dos casos ocorre nos fins de semana. O uso de álcool e de drogas é apontado por especialistas como o grande elemento causador da violência que leva os jovens feridos às unidades de saúde.
No Hospital Regional de Ceilândia (HRC), as vítimas da violência estão por toda parte. Ao lado dos acidentados no trânsito, os pacientes agredidos nas ruas do DF ajudam a superlotar o pronto-socorro da unidade. A chefe da emergência do Hospital de Ceilândia, Adriana Portilho, conta que os casos são ainda mais comuns no início de cada mês, quando trabalhadores recebem seus salários e os gastos com álcool são mais intensos. ;Há pacientes que chegam tão alcoolizados que, mesmo feridos, temos que amarrá-los para prestar os primeiros atendimentos;, explica.
Antes de chegar à unidade de Ceilândia, a médica Adriana Portilho trabalhava no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Ela notou a diferença entre os dois pontos de atendimento. ;Aqui em Ceilândia, a gente recebe um número infinitamente maior de esfaqueados e baleados. E problemas como a falta de anestesistas na rede, por exemplo, agravam ainda mais a situação porque o paciente tem que ficar internado enquanto aguarda a cirurgia. Alguns passam até três semanas dentro do hospital;, comenta a médica. ;Outro agravante são as drogas. Há feridos que chegam aqui e que usaram vários tipos de droga. A gente tem dificuldade até para identificar o que eles usaram;, finaliza a chefe da emergência do Hospital de Ceilândia.
Pacientes importados
Entre as vítimas de violência que chegam aos hospitais do DF, muitos são moradores do Entorno. É o caso de Leonardo Pereira da Silva, 22 anos, atingido por quatro disparos de arma de fogo na Quadra 19 de Planaltina de Goiás. Era o dia de folga do jovem e ele saiu de casa para se divertir com os amigos. Depois de uma confusão próximo a um bar, um desconhecido disparou contra Leonardo, que foi atendido em um hospital de Brasilinha e, em seguida, transferido para o Hospital Regional de Sobradinho.
A vítima recebeu um tiro em cada braço e dois projéteis atingiram seu abdômen. O jovem, que trabalha na equipe de manutenção de um shopping center do Lago Norte, teve que ser submetido a exames e a uma cirurgia. ;Graças a Deus, a bala não ficou presa no corpo dele. Mas o Leonardo teve que fazer muitos exames, até agora ninguém sabe exatamente se ele teve alguma lesão dentro da barriga. No hospital, vários médicos tiveram que atender o meu filho porque o caso era complicado;, comenta a doméstica Maria Helena Pereira da Silva, 48 anos, que permanece ao lado do jovem na enfermaria do Hospital de Sobradinho.
O menino Caio Vítor Alves Barreto, 8 anos, foi atingido recentemente por uma bala perdida na rua onde mora, no bairro do Céu Azul, município goiano do Novo Gama. Ele foi levado às pressas para o Hospital de Santa Maria, onde fez exames como raios-X e tomografia. ;A sorte é que a bala não atingiu nenhum órgão;, comemora a mãe da vítima, a autônoma Joana d;Arc Santos Barreto, 23 anos.
[SAIBAMAIS]Apesar de já ter recebido alta médica, a criança ainda vai depender da rede pública por tempo indeterminado. ;Vamos ter que voltar ao posto de saúde para tirar os curativos. Além disso, acredito que o meu filho vai precisar ainda de atendimento psicológico porque ele está em pânico depois que levou a bala na barriga. Não tem coragem de brincar na rua e fica muito assustado quando ouve um barulho;, afirma a mãe do garoto.