A impunidade toma conta do Entorno. Cerca de 5 mil inquéritos policiais referentes a assassinatos estão parados na região vizinha ao Distrito Federal. É a metade do total de investigações ;10 mil ; que estão sem solução nos órgãos de segurança dos 19 municípios dos arredores da capital do país Na maioria dos casos, as apurações não passam da ocorrência. Em relação aos homicídios, a lentidão permite que os autores dos crimes permaneçam soltos e possam voltar a fazer novas vítimas.
Enquanto muitos criminosos continuam nas ruas, faltam policiais (veja quadro). E a população é obrigada a conviver com constantes episódios de violência. Na noite da última quinta-feira, uma mulher de 32 anos foi encontrada morta com um tiro no rosto, no Parque São Bernardo, em Valparaíso (GO).
Outros quatro homens morreram em uma chacina ocorrida na cidade goiana na noite de terça-feira. ;A situação é muita caótica. São 5 mil homicídios e muita gente sem ser presa;, afirma o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás, Silveira Moura.
A Polícia Civil no Entorno trabalha com 330 homens, quando o ideal seria com, pelo menos, 790. O deficit de 58% nos recursos humanos faz com que os inquéritos se acumulem nas prateleiras das delegacias. No Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) do Jardim Ingá, em Luziânia, há 540 ocorrências paradas relativas a homicídios que ocorreram desde 1990. A investigação dos assassinatos nunca avançou por conta do pequeno efetivo formado por um delegado, quatro escrivães e oito agentes.
Os esforços para dar andamento aos inquéritos esbarram na falta de estrutura das unidades policiais. Os integrantes da Força Nacional de Segurança designados nesta semana para ajudar no trabalho do Ciops do Jardim Ingá encontraram problemas antes mesmo de começar a analisar as 60 ocorrências recebidas. Uma sala do local foi cedida para o grupo, mas não há computadores disponíveis para o serviço. Até a possibilidade de emprestar a máquina do delegado para os visitantes foi cogitada. Por enquanto, eles usarão a de uma funcionária em férias.
No Ciops do Novo Gama, há 1,9 mil inquéritos acumulados e sem solução. Assim como na cidade distante 38km do DF, os veículos usados pela polícia do Entorno são alugados. Os carros disponíveis para as operações parecem distantes de um veículo policial padrão. A baixa potência do motor dos automóveis dificulta a perseguição a bandidos. Não há rádios de comunicação, e os agentes usam os celulares pessoais para trocarem informações.
A falência das instituições de segurança do Entorno pode ser resultado da omissão do governo. ;O principal problema é que o Estado não tem investido, não fez a sua parte. Não há policiais militares, civis, nem técnico-científicos;, ressalta o promotor Luís Guilherme Gimenes, do Ministério Público de Goiás. Segundo ele, 300 pessoas foram aprovadas em concurso público. ;O Estado insiste em não convocá-las. No Entorno, cerca de 6 mil mandados estão em aberto, mas não há quem prenda.;
O governo admite que o número de policiais não é suficiente. O chefe do gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, coronel Edson Araújo, afirma que apresentará na próxima semana um panorama ao governo federal. ;O quantitativo atual não é suficiente. A atual situação é de impunidade. O projeto pede a instalação de uma unidade especializada em homicídio;, explica.
Fugitivos presos no DF
Dois dos cinco detentos que fugiram da Agência Prisional de Alexânia (GO) após uma rebelião, no último dia 23, foram localizados por agentes da 38; Delegacia de Polícia, em Vicente Pires, em um apartamento, na Colônia Agrícola Samambaia. Quinze investigadores locais, apoiados pela Divisão de Operações Especiais (DOE), encontraram a dupla ontem por meio de denúncia anônima. Há informações de que eles conseguiam dinheiro por meio do tráfico de drogas. No local, a polícia apreendeu 5g de cocaína e cerca de 50g de crack. A Justiça definirá se eles ficarão detidos na capital do país ou se voltarão ao presídio de Alexânia. ;Se o Judiciário do DF entender que eles devem ficar no DF, eles ficarão. Mas o que acontece, em geral, é o retorno do foragido para o local de origem;, explicou o delegado Norton Luiz Ferreira, da Polícia Civil de Goiás.
Ação conjunta para a região
A solução para conter o avanço da criminalidade no Entorno pode estar na aplicação de ações conjuntas entre os governos de Goiás e do Distrito Federal. O assunto foi tema de discussão ocorrida na tarde de ontem, em Goiânia (GO), entre o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, e o titular da pasta goiana, João Furtado Neto. Os dois se encontraram com representantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, Edemundo Dias, para debater melhorias na região.
Entre as medidas está o apoio aos trabalhos da polícia goiana no Entorno. Para isso, as autoridades locais aguardam a definição dos termos do acordo de cooperação entre os governos federal, do DF e de Goiás. O pacto está em análise no Ministério da Justiça e será uma forma de colocar em prática medidas de apoio aos policiais que atuam no Entorno.
Ajuda judiciária
Avelar ressaltou a importância da contribuição do governo federal nas ações de diminuição da violência no Entorno. ;Embora administrativamente o Entorno seja parte de Goiás, o governador Agnelo Queiroz sabe da necessidade de se encontrar uma solução conjunta para o problema. E, para isso, é importante a união das forças de segurança de Goiás e do DF, mas é também muito importante a participação do governo federal nesse esforço.;
A violência na região mobilizou o governo ao longo da semana. Agnelo chegou a pedir ajuda à presidente Dilma Rousseff, em reunião na última quinta-feira. Na próxima semana, pelo menos 18 policiais civis da Força Nacional Judiciária serão deslocados para Luziânia para reduzir o número de processos parados no Entorno à espera de investigação. Procurado, o secretário João Furtado Neto, de Goiás, não retornou às ligações do Correio.