Jornal Correio Braziliense

Cidades

Soldados do Exército se mobilizam para reformar escola na Asa Norte


A tinta descascada que antes estampava paredes, portas, grades e brinquedos da Escola Classe (EC) 415 Norte está dando lugar, aos poucos, a novas camadas de matizes pinceladas pelas mãos de quatro soldados do Exército. Eles ganharam a missão de pintar a instituição durante as férias da garotada. Os quase 18 litros de tinta que agora cobrem as superfícies antes desgastadas da EC foram adquiridos com muito suor pelos funcionários da própria entidade.

Há cerca de um mês, os soldados Marcos Vinícius Silva Moraes, Erik Pereira Silva, João Paulo Alves e Jean Sousa da Costa, todos com 18 anos, frequentam a escola nos cinco dias da semana, das 9h às 16h. Nesse período, correm contra o tempo para que a revitalização esteja concluída antes mesmo de as aulas serem retomadas, no início de agosto, e para que os 380 alunos, entre quatro e 10 anos de idade, sejam recepcionados à altura.

Fardados com uniformes do Exército apropriados para a ocasião ; camiseta e bermuda ;, os recrutas colocam em prática durante os serviços na escola tudo o que aprenderam sobre técnicas de pintura no quartel. Até o fim das férias, Marcos Vinícius, Erik, João Paulo e Jean já terão pintado cerca de 30 portas e as paredes das sete salas de aula e de outros espaços da entidade. ;É satisfatório o que estamos fazendo. Eu tenho o prazer de vir para cá. Quando cheguei aqui, a escola estava sem vida. Agora eu vejo a transformação;, contou Marcos Vinícius.


A reforma também manterá o espaço pronto para a comemoração do aniversário da instituição, que completa 77 anos em 25 de agosto. Além dos reparos na estrutura do local, há 15 dias, os recrutas revitalizaram as pequenas hortas da escola. As plantações de alface, cenoura, cebolinha, rúcula e coentro já começam a crescer. A esperança da diretora daEC, Nailda Rocha, é que, em breve, a horta esteja pronta e possa ser utilizada na merenda escolar dos alunos.

;O ambiente agradável também ajuda na educação desses meninos e meninas, que são o futuro do nosso país;, avaliou Marcos Vinícius. ;O que eles fazem é uma contribuição cívica. Como estamos em tempos de paz, eles podem servir para uma causa tão nobre como essa. Esses rapazes irão levar uma experiência rica para o resto da vida deles;, frisou Nailda.

Quartel está a postos
Segundo a diretora Nailda Rocha, a escola não contou com a ajuda da Secretaria de Educação do Distrito Federal para realizar os reparos. ;Não recebemos até hoje as parcelas do Pdaf (Programa de Descentralização Administrativa e Financeira) deste ano. Por isso, temos que nos virar e fazemos eventos para arrecadou verbas destinadas às manutenções daqui;, desabafou. Com a verba adquirida nas festas, foi possível financiar apenas o material para a reforma. ;Não tínhamos dinheiro para pagar a mão de obra.; A Secretaria de Educação do DF afirmou que uma das três parcelas do projeto ; R$ 5 milhões, dos R$ 15 milhões previstos ; já foi disponibilizada pela pasta há um mês. ;É possível que a escola não tenha requerido o dinheiro ou esteja em dívidas com a secretaria;, explicou o órgão, por meio da assessoria de comunicação.

A situação chegou ao conhecimento do comandante do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército (Ccomgex), general Antonino dos Santos Guerra Neto. ;Eu não sei bem quem informou ao Exército. Acho que eles mantêm em sigilo por conta da hierarquia lá de dentro. Mas eu sou bastante agradecido a quem fez a menção a eles. Essa é a primeira vez que temos a ajuda do órgão;, declarou a diretora da escola.

Há um ano e seis meses, o quartel presta serviços às escolas públicas que carecem de mão de obra, cedendo soldados que já passaram pela primeira fase de formação para desenvolverem trabalhos que envolvem pintura, parte mecânica e elétrica. ;Depois que aprendem a atirar e sabem o que é ser militar, os soldados passam a desenvolver atividades técnicas;, explicou o coordenador da iniciativa, tenente Cláudio Alves Gomes, 46 anos.

Enquanto a EC da 415 Norte passa pela reparação, outras instituições, como EC 113 Norte e o Centro de Ensino Médio do Paranoá, também têm ajuda do Exército.

Segundo o tenente, o projeto já passou por cerca de 60 instituições desde que foi iniciado. ;Nosso objetivo é apoiar apenas escolas públicas;, destacou o oficial.

Um reforço
Implementado em 2007 pela Secretaria de Educação do DF, o Pdaf tem por objetivo principal oferecer autonomia às escolas e às Diretorias Regionais de Ensino (DREs), criando condições para colocar em prática seus projetos pedagógico-administrativo-financeiros, por meio de verbas destinadas a essas instituições.

Como requerer
Qualquer escola da rede pública de ensino do DF pode contar com o apoio do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército. O pedido deve ser enviado para o e-mail do Ccomgex: c.dyb2002@gmail.com.