O Distrito Federal ocupa uma posição vergonhosa perante as demais unidades da federação no que diz respeito à cobertura de atenção à saúde mental. Ele ocupa a pior colocação entre todas as 27 regiões do Brasil, segundo dados do ano passado do Ministério da Saúde. A população de mais de 2,6 milhões de habitantes dispõe de apenas seis Centros de Atenção Psicossocial (Caps) espalhados pelo território, quando, na verdade, seriam necessárias 48 dessas unidades. Esse número representa 0,21 na proporção de Caps por 100 mil habitantes, ainda de acordo com o levantamento. Em contraponto, vem o estado de Alagoas com índice de 0,88 - em primeiro lugar no ranking.
No Plano Piloto, há apenas um centro de atenção voltado à pacientes que sofrem de problemas como psicoses, neuroses graves e transtornos diversos, mas ele não pertence à rede pública. Trata-se de uma clínica particular com demanda de 822 atendimentos diários. Diante desse panorama, profissionais da área, parentes de doentes e membros da sociedade civil se uniram em torno de uma causa: sensibilizar a sociedade para a carência do setor e reivindicar junto ao Governo do Distrito Federal (GDF) espaço no centro da capital para atendimento desses pacientes.
Nos moldes atuais, o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (Pdot) não prevê áreas para funcionamento de Caps, Hospitais-Dia, Hospitais-Noite e residências terapêuticas fora do Setor Hospitalar de Brasília. Em função disso, os manifestante pleiteiam mudanças na lei de zoneamento urbano. No momento em que se discutem atualizações no documento, o grupo busca alterações na redação a fim de resguardar a incorporação dessas atividades na área central da capital.
Mudanças
"A Reforma Psiquiátrica previu espaços nos centros urbanos para inserção social das pessoas com sofrimento psíquico, acabando com instituições de caráter asilar. Mas quando Plano Diretor foi criado, essa transformação ainda não tinha acontecido. É preciso que isso seja revisto", avalia Márcia Guiot Henning, presidente do Anankê - um centro de atenção à saúde mental com sede na Asa Norte. "Não queremos essas pessoas marginalizadas mais uma vez. Não somos hospitais, não produzimos lixo hospitalar, temos atividades psicoterapeuticas, como dança, artes plásticas. Nossa função é diferenciada", argumenta.
Na manhã deste domingo (10/7), cerca de 100 pessoas se reuniram no Parque da Cidade em um ato público para tratar da questão do atendimento à saúde mental no DF. Na ocasião, foram promovidas atividades culturais como música, pintura e uma peça de teatro. Os participantes seguravam cartazes com frases de protestos como: "Diga não ao preconceito e sim à saúde" e "Saúde mental necessidade na cidade". Outros tocavam instrumentos musicais e cantavam. As atividades tiveram início às 9h e terminaram às 12h, atraindo muitos curiosos.