Um terreno localizado dentro da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Santuário de Vida Silvestre Riacho Fundo, nos limites da Candangolândia, é usado como depósito de lixo por carroceiros e moradores da região. Apesar da placa colocada sobre o portão trancado que alerta sobre a ilegalidade da prática, todos os dias a pilha de entulho ganha mais volume. A administração regional alega que limpa a área quase que semanalmente com a ajuda do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), mas admite não poder fazer nada que impeça o depósito de entulho no local. O terreno fica atrás de um colégio e em frente à antiga invasão do setor de chácaras.
A área cercada tem o portão trancado com cadeado e a entrada principal bloqueada por um monte de terra, mas da rua que dá acesso ao local é possível ver a quadra de futebol de terra abandonada e uma densa vegetação. Entre a mata e o entulho há uma torre de tijolos, único pedaço remanescente da estrutura da primeira olaria de Brasília, desativada há mais de 20 anos. O cenário é rodeado por pilhas de lixo, levadas ao local por carroceiros que ignoram os avisos de proibição e a proximidade de diversas casas, de um ginásio e do Centro de Ensino Médio (CEM) Julia Kubitscheck.
A diretora do colégio, Irisneide Moura, diz que o depósito irregular não atrapalha os estudos, mas reprova a prática de abandono de entulho no local. ;As crianças não precisam da quadra, porque a cidade tem muita opção de esporte e lazer. Mas a gente vê as carroças entrando, e isso vai de encontro com a educação ambiental dos alunos;, ressalta a educadora.
Moradores da cidade também reclamam do descuido do patrimônio histórico da cidade. Lar de construções memoráveis, como a primeira caixa-forte de Brasília e a Rua dos Engenheiros, a região administrativa optou pela não preservação da olaria, transformada em ruínas e depois no entulho inicial do depósito de lixo. ;Os moradores viam a fumaça no céu quando queimavam os tijolos. Era gente demais trabalhando lá, mas isso já tem muito tempo;, lembrou o pedreiro Cícero Pereira da Silva, 59 anos. Morador da Candangolândia desde 1970, ele contou que a antiga fábrica de tijolos tinha diversas chaminés, galpões e um grande pátio onde secavam os tijolos. Hoje, resta apenas uma das torres.
;Há uns 25 anos eu brincava lá. A gente subia na chaminé e na escada, fantasiávamos lendas sobre os muros arruinados. Lembrava-me algo como Atenas, não tinha nada além de ruínas, mas era muito interessante;, recordou-se Juliano Rosa de Oliveira, 31 anos. Ele passou os últimos anos no Egito a trabalho, e assustou-se ao reencontrar o lugar onde criou algumas de suas memórias de infância. ;Está tudo imundo, cheio de lixo, horrível;, avaliou.
Limpeza
Segundo a administração da Candangolândia, são feitas limpezas frequentes no local, mas o lixo sempre volta a tomar conta do terreno. ;A administração se empenha muito para mudar isso. Antes eram montanhas de lixo. Mas não consigo controlar os carroceiros;, lamenta o administrador da cidade, João Hermeto. O terreno é responsabilidade do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Ibram) desde o final de 2010, quando o órgão recebeu a Arie da Fundação Jardim Zoológico de Brasília.
Por meio de nota, o Ibram afirmou que está fazendo um levantamento das áreas degradadas nos parques e unidades de conservação do DF, inclusive da Arie em questão. O órgão alertou que ;a conservação do local depende da colaboração da sociedade;.