Um em cada cinco pacientes internados na rede pública de saúde do Distrito Federal vem de outro estado. No ano passado, os hospitais recepcionaram 19.275 pessoas de fora, o que representa mais de 17% do total desse tipo de procedimento em todas as unidades do DF, com exceção do Hospital de Base, que não tem dados disponíveis. Goiás continua sendo o campeão em exportação de pacientes: mais de 94% dos que permaneceram em tratamento nos hospitais locais vêm de lá. Moradores de Águas Lindas, do Novo Gama, de Luziânia e Valparaíso são os que procuram com maior frequência os médicos na capital do país, segundo dados da Secretaria de Saúde do DF.
Pela proximidade com a região do Entorno, a cidade do Gama continua recebendo a maioria dos pacientes de fora para internação. No ano passado, quase a metade (46%) veio de fora. Se comparada ao ano de 2009, a porcentagem da participação de internos de outros estados nas unidades de saúde locais teve queda, passando de 21,91% para 17,44% no ano passado. Entretanto, em termos absolutos, a redução não é tão expressiva em decorrência do aumento no número de internações. Enquanto em 2009 os 12 hospitais da rede ofertaram serviços de longa duração a 95.128 pacientes, dos quais 20.840 eram de outros estados, no ano passado, o total chegou a 110.529, sendo 19.275 residentes de fora.
Historicamente, o atendimento a moradores de outros estados é uma queixa recorrente entre as autoridades da área de saúde, que alegam não dispor de previsão orçamentária para oferecer consultas extras. O resultado é a sobrecarga da rede local. Além de internar, o Distrito Federal suporta o atendimento de emergência das populações de cidades mineiras e goianas. Elas representaram 11% das mais de 2,4 milhões de pessoas atendidas ao longo de 2010. Mais uma vez, são os moradores do Entorno que demonstram maior carência. Está prevista para o próximo dia 30 a inauguração do Hospital de Valparaíso e estão em curso os trabalhos para a conclusão de unidades em Santo Antônio do Descoberto, no Novo Gama e em Águas Lindas. O funcionamento pleno desses estabelecimentos desafogaria a rede do DF em 168 mil atendimentos.
Deficiências
Os pacientes buscam aqui o que não conseguem obter em suas cidades de origem. Os relatos são quase sempre os mesmos e refletem as deficiências dos locais onde moram: faltam médicos, equipamentos para exames, estrutura adequada e atendimento de qualidade. Mesmo que a própria rede de saúde do DF esteja passando por uma grave crise, eles vêm de longe, às vezes de muito longe, para conseguir uma operação ou consulta médica. É comum a chegada de ambulâncias de outras cidades aos hospitais locais.
O Correio passou uma manhã no Hospital Regional do Gama (HRG), o mais procurado por moradores do Entorno sul do Distrito Federal, por onde, diariamente, param seis ambulâncias vindas de outros estados. Em determinados dias, o número sobe para 10. Por mês, a unidade interna 1.065 pacientes de fora.
Foi a bordo de uma ambulância de Valparaíso que o funcionário da prefeitura Antônio Souza Ferreira deixou o hospital, com a ajuda de muletas, após fazer exames para avaliar a situação de seu fêmur, operado em janeiro no mesmo hospital. Ele passou 16 dias internado no HRG no início do ano. Voltou para sua cidade, mas previa retorno na semana seguinte para avaliar outra possível fratura. ;No Hospital de Valparaíso não tem nada. Felizmente, aqui consegui a operação. Todo mundo do Entorno vem pra cá;, diz. A cidade de Antônio é a mesma de 2.391 pessoas que se internaram no DF no ano passado (veja quadro).