Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crimes como estupro e sequestro no Plano Piloto desafiam a PM

Com o maior número de policiais por habitante, proporcionalmente, e a PM mais bem paga do Brasil, o Distrito Federal enfrenta crimes graves que assustam a população. Enquanto São Paulo, que conseguiu reduzir a violência, tem um policial para cada 473 habitantes, Brasília fica com um para cada 176 pessoas (veja quadro). Ainda assim, algumas modalidades de crime crescem e faltam homens nas ruas da capital do país.

O sequestro de quatro mulheres na 711 Sul na última terça-feira e o estupro ocorrido na 208 Norte no sábado passado evidenciam ainda mais essa carência. Somente de janeiro a maio desse ano, foram registrados 232 casos de roubo com restrição de liberdade no DF, 18 a mais que no mesmo período de 2010. O número de estupros também aumentou: nos três primeiros meses deste ano, foram 165 casos contra 154 de janeiro a março do ano passado.

O problema vem se agravando no decorrer dos anos. Mapa da violência divulgado pelo Ministério da Justiça ainda em 2008 indica que o DF havia subido da oitava para a sexta posição entre as unidades da Federação mais violentas do país. Segundo o especialista em gestão da segurança pública, George Felipe de Lima Dantas, nos dois anos posteriores, as políticas de segurança pública engessaram a PM nos postos comunitários de segurança, o que prejudicou diretamente o patrulhamento e deixou os brasilienses ainda mais vulneráveis.

Para aumentar a sensação de segurança, o secretário Sandro Avelar anunciou nesta semana um reforço de 1,3 mil homens na Polícia Militar, entre setembro deste ano e janeiro de 2012. O titular de Segurança Pública disse que reforçará os postos de segurança comunitário no Plano Piloto com até 16 policiais e dois carros, além de trazer de volta o patrulhamento em dupla conhecido como Cosme e Damião.

O GDF mantém o plano de otimizar os postos comunitários e, assim, fazer com que atuem ;da maneira como foram projetados;, segundo o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Paulo Roberto Rosback. Ele diz que os postos foram inaugurados com deficit de pessoal e que o governo pretende equipá-los. ;A previsão é que cada unidade tenha carro, moto e efetivo completo. Isso vai permitir que eles (os policiais) saiam dos postos e policiem a área;, afirma. Rosback acreditam, assim, que a reclamação de que os postos comunitários engessam o trabalho da PM terminará com as novas ações.

Escalas
Essa medida, no entanto, só será colocada em prática no segundo semestre, começando por Plano Piloto, Lago Sul, Lago Norte e Sudoeste. Segundo George Dantas, os postos foram criados para reduzir, inicialmente, em 10% a criminalidade. ;Não há na literatura técnica policial nenhuma ação coordenada que atinja esse tipo de resultado;, ressalta. ;As operações mais eficientes de redução de criminalidade no Brasil e no mundo, geralmente, combatem uma modalidade de crime. Faltam, em Brasília, policiais nas ruas, mas eles sobram nos postos comunitários. A essência da polícia ostensiva é a mobilidade, a surpresa e a concentração súbita;, explicou o especialista.

Já no caso das escalas dos policiais militares, Dantas acredita que não é hora de modificá-las. Atualmente, os PMs trabalham 12 horas seguidas e folgam 36 horas. Com isso, dos 14 mil homens da corporação, 2,7 mil estão efetivamente nas ruas diariamente.

Segundo o ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva, as escalas podem, sim, ser alteradas. Ele sugere, por exemplo, um padrão semelhante ao de Nova York, onde os policiais trabalham, em média, oito horas por dia e folgam as 16 horas seguintes. Se essa medida fosse adotada no Distrito Federal, assim como ocorreu na cidade norte-americana, que reduziu drasticamente os índices de violência, mais policiais estariam em ação e no combate ao crime, lembrou José Vicente .