O Dia dos Namorados será triste para dois leões dos zoológicos de Brasília e de Niterói (RJ). Separado há quatro meses, o casal Dengo, 11 anos, que está no Rio de Janeiro, e Elza, 10, hospedada no zoo do DF, sofre com a ausência. Eles se afastaram com a vinda da fêmea para a capital do país em 16 de fevereiro, por determinação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiento e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O órgão ambiental retirou mais de 200 bichos do zoológico de Niterói, com a alegação, sustentada por um juiz federal, de que o espaço ecológico não tinha condições adequadas para mantê-los.
Assim, Elza passou a ser moradora de Brasília, distante 1.148km de onde Dengo está. A dupla dividia o mesmo recinto havia oito anos. Os dois zoológicos fizeram campanhas (opostas) para reunir o par até 12 de junho, a simbólica data romântica. O de Brasília queria trazer Dengo para cá. O de Niterói tinha a intenção de receber Elza de volta. A briga foi parar na Justiça e se transformou em um cabo de guerra entre as diretorias das duas instituições.
Enquanto isso, os dois leões continuam sozinhos. Dengo perdeu o apetite e emagreceu 8kg. Passa os dias apático. Elza tem comido normalmente, de acordo com os cuidadores de Brasília. Mas, segundo os veterinários que cuidavam dela no Rio de Janeiro, o animal parece mais magro. ;Nós vimos algumas fotos dela e ela está visivelmente abalada, perdeu peso. O que estão fazendo com esses leões é cruel;, afirmou o veterinário do Zoológico de Niterói (Zoonit) Marco Janackovic.
Elza, que pesa quase 200kg, vive hoje em um recinto pequeno, com por volta de 20 metros quadrados, do tamanho de algumas quitinetes. A metragem mínima de espaço aconselhada pelo Ibama para manter um animal desse porte é de 70 metros quadrados. O chão é coberto de areia e não há verde ao redor nem companhia do público, pois o lugar é isolado da área de visitação. Somente os veterinários, zootecnistas e tratadores se aproximam dela, três vezes por semana para alimentá-la. Em cada refeição, Elza consome 10kg de carne bovina ou de frango.
Inadequação
Os bichos precisaram deixar Niterói por conta da precariedade das estruturas do zoo local. Porém, mesmo sem ter um lugar ideal para abrigar os espécimes animais, o Zoológico de Brasília aceitou recebê-los. De acordo com o atual diretor da instituição brasiliense, José Berlamino, a vinda de Elza foi negociada pela gestão anterior da instituição. ;Eles não tinham condições de receber os bichos e, mesmo assim, aceitaram trazê-los. Para resolver isso tudo, nós criamos o projeto de um novo recinto, do tamanho adequado, para abrigar Elza e outros dois leões e dois tigres vindos de circos;, explicou Belarmino.
O administrador do zoo do DF quer construir um ambiente com 1,3 mil metros quadrados. O espaço vai custar R$ 200 mil e deve ficar pronto até janeiro de 2012. ;Queremos trazer o Dengo para Brasília para viver junto da Elza nesse novo recinto, que será temático e voltado para o combate à exploração de animais em circos;, explicou o diretor. Os visitantes poderão ver os leões de perto, separados apenas por um vidro.
Sacrifício
Elza não chegou sozinha a Brasília. Ela veio acompanhada de outro leão, Yuri. Ele, porém, acabou sacrificado em 4 de maio. Um relatório assinado pela coordenadora da medicina veterinária do Zoológico de Brasília, Luisa Helena Rocha da Silva, afirma que o leão precisou ser morto devido a um câncer na boca, chamado de carcinoma de células escamosas, com características invasivas.
Um dentista detectou a doença durante tratamento para a retirada de um dente inflamado de Yuri, que se recusava a comer. Depois de uma biópsia, segundo informações do documento, uma junta médica chegou à conclusão de que a eutanásia seria a melhor opção. ;Se Yuri ficasse vivo, perderia a função da mandíbula e não conseguiria se alimentar, sangraria quando tentasse. Seria crueldade deixá-lo assim e isso vai contra a ética do médico veterinário;, disse Belarmino.
O clima é de revolta no Zoológico de Niterói por conta da morte do animal. A diretora da instituição, Giselda Candiotto, denunciou o sacrifício à Delegacia do Meio Ambiente de Brasília e enviou ofícios ao Ibama. ;Não havia nenhum motivo aparente para matar Yuri. Nós éramos muito ligados a ele e estamos abalados. Ele morreu porque não quiseram cuidar dele;, afirmou.
De acordo com Marco Janackovic, Yuri saiu do Rio de Janeiro com boa saúde, apesar de ser portador do vírus da imunodeficiência felina (FIV). ;Ele era forte e saudável. Eutanásia talvez fosse justificável caso houvesse metástase (quando o câncer se espalha). O que seria uma evolução pouco provável em apenas quatro meses;, explicou. O relatório do zoo do DF informa que o nível de metástase era baixo, mas classificou a recuperação de Yuri como impossível.
Felinos
Esse tipo de carcinoma é um tumor cujo surgimento envolve fatores relacionados ao animal e ao ambiente onde ele vive. A maioria das lesões localizam-se na cabeça. Em gatos domésticos, elas costumam estar perto da área nasal e nas pálpebras.