Aos 13 anos, a estudante do 8; ano do ensino fundamental Eduarda Duarte administra o próprio negócio. Ela é dona de um canil que só vende cachorros de raça e funciona no quintal de sua casa, no Gama. A menina aprendeu a cuidar das finanças e dos funcionários cedo, quando tinha apenas 10 anos.
À época, Duda, como é conhecida entre amigos e familiares, descobriu ser portadora de problemas no coração: síndrome vasovagal e arritmia. O primeiro mal provoca a perda súbita da consciência. O outro é relacionado ao ritmo inconstante das batidas do órgão.
Diante do diagnóstico, um médico sugeriu que Duda tivesse um animal de estimação, o que a tornaria mais feliz e, consequentemente, mais saudável. Filha única, ela decidiu adotar um casal de cachorros pequenos, os yorkshires Bob e Flor. O pai dela já criava um cão da raça labrador. A convivência entre os dois animais machos, porém, terminou mal. O maior mordeu o menor durante uma briga e Bob acabou morto.
Duda entrou em depressão. Preocupados, os pais compraram um novo cachorro, esse da raça shitsu, para fazer companhia à menina e à cadela Flor. Tempos depois, presentearam a filha também com uma cadela do tipo lulu da pomerânia, chamada Raqueli, para compor a turma. Hoje, Duda tem 52 cachorros adultos. Eles se reproduzem e ela vende os filhotes. ;No começo, meu pai foi contra termos esse tanto de cachorros em casa. Dizia que faziam muito barulho, que ia dar sujeira. Mas hoje ele também gosta;, conta a jovem.
Todo mês, em média, 10 animais saem do canil. Todos têm pedigree, o certificado de registro do animal. No documento, estão as características básicas, a raça e a pelagem. O papel mostra ainda os ascendentes do animal obrigatoriamente até a terceira geração e comprova a propriedade. A maior parte dos bichos é vendida para fora de Brasília. Eles são transportados em aviões. É o cliente quem paga pelo envio aéreo.
[FOTO2]A pequena Úrsula, filhote de lulu da pomerânia, por exemplo, em breve será enviada a Santa Catarina. Os bichos são vendidos depois dos quatro meses de idade, com todas as vacinas já tomadas. As encomendas são feitas por meio do site de relacionamentos Orkut. Basta procurar pelo nome da empresa. O canil é registrado e os cães são tratados por um veterinário, José Sato. Vivem em um ambiente limpo e repleto de verde por todos os cantos.
Despesas
É Duda quem paga os salários dos funcionários. Além do médico, ela remunera uma cuidadora, o tosador e um treinador, que adestra os bichos para desfiles e competições. No total, são necessários R$ 5 mil para esse fim. Os animais se alimentam de ração especial. Não comem nada além disso. Só para comprar o alimento, a adolescente precisa desembolsar quase 1,3 mil por mês.
A conta no banco, porém, é registrada em nome da mãe de Duda, a empresária Thaís Duarte, 37 anos. A família preferiu agir dessa maneira até que a menina complete 18 anos. ;Quem assina os cheques é minha mãe. Mas quem tem o cartão com a senha e saca o dinheiro sou eu. Tudo que tem lá é dinheiro das vendas;, orgulha-se a menina. Quando falta verba, os pais de Duda ajudam, para os salários não atrasarem. ;Tudo fica na ponta do lápis;, explica Thaís. ;Ela sabe que tem que pagar depois, repor a quantia. Nada é de graça. Acho ótimo ela manter um negócio, porque aprendeu a dar valor em dinheiro.;
A pequena empresária tem fama de ser boa em negociações. ;Ela sempre pede abatimento para quem presta algum serviço. Muita gente prefere negociar com a mãe dela, que ;chora; menos por desconto. Duda é boa nisso;, afirmou o veterinário Sato. ;A Duda briga comigo quando ela não está em casa, alguém vem receber e eu pago. Ela diz: ;Mãe, por que você não insistiu para ele fazer mais barato?;;, confirma Thaís.
Investimento
Todo mês, Duda tem por volta de R$ 2 mil de lucro. Guarda parte da quantia em poupança e investe o restante em melhorias no canil. ;Eu compro mais cachorrinhos ou faço algo bom para eles. Meu interesse é investir neles sempre.; Ela pretende ser veterinária quando crescer. Enquanto não chega à faculdade, observa de perto os cuidados de Sato com os animais. Aprende aos poucos.
A paixão de Duda vai além dos cachorros. Ela cria em casa um gato e uma lhama, mamífero ruminante, comum no Peru. Quem entra na casa da família Duarte pela primeira vez, geralmente, se surpreende ao dar de cara com esse bicho inusitado solto no quintal. Para criar o animal, é preciso autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), documento que a família tem.
Além disso, os pais de Duda mantêm uma fazenda. Lá ela cria uma vaca, que foi alimentada com mamadeira quando recém-nascida. Mas a maior parte de seu tempo, ela gasta no universo canino: passa as tardes conversando com os cachorros. ;Muita gente diz que cachorrinho não pensa, que não tem sentimento. Isso é uma grande mentira. Eles falam com os olhos. Sei quando estão felizes ou tristes.; A estudante nunca mais se sentiu deprimida, depois de ganhar tantos companheiros e descobrir um passatempo lucrativo. Duda não tem dúvidas de qual foi a cura para o mal de sua tristeza: ;Eles (os cachorros) são os melhores amigos que alguém pode ter;.
Distúrbio nervoso
A síncope (perda de consciência) é um dos problemas médicos mais antigos registrados. Nas últimas décadas, tem-se focalizado uma causa em especial: os distúrbios do sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle da pressão arterial e do batimento cardíaco. Tais alterações podem levar à hipotensão, incapacidade de ficar de pé e,
por último, aos desmaios.
Alguns preços
Saiba quanto custam os filhotes vendidos por Duda
Lulu da pomerânia
Fêmea: R$ 1,8 mil
Macho: R$ 1,5 mil
Shitsu
Fêmea: R$ 1,2 mil
Macho: R$ 1 mil
Yorkshire
Fêmea: R$ 1,5 mil
Macho: R$ 1,2 mil