A segurança da navegação e do turismo no Lago Paranoá esbarra na falta de infraestrutura portuária. A ausência de um cais público, que ordenaria o embarque de passageiros e os serviços prestados nas águas do lago, e de estaleiros, que reduziriam os custos de manutenção de embarcações, diminuem a eficácia da fiscalização da delegacia fluvial da Marinha. Essa é a visão de especialistas como o comandante da Marinha Mercante Tupac Petrillo, e do diretor náutico da Associação das Agências de Turismo Receptivo de Brasília (Abare), Edmilson Figueiredo.
Segundo Tupac, o mercado do turismo náutico cresceu muito nos últimos 20 anos, mas as políticas públicas na região não acompanharam esse avanço. ;Não acho que falte fiscalização por parte da Marinha, mas há um abandono do setor por parte do Governo do Distrito Federal. Não há estaleiro para os barcos e não há uma marina pública para atracar e que possa receber o público de forma ordenada. Em uma cidade que vai sediar a Copa de 2014, já passou do tempo;, aponta.
Outro item apontado por Tupac como crítico para a segurança do Lago Paranoá é a falta de conscientização dos pilotos de lanchas e jet ski. Manobras arriscadas, barcos trafegando à noite sem iluminação e superlotação são alguns dos problemas a se enfrentar. Para ele, é preciso mais rigor na hora da punição. ;A solução é parar mais barcos, multar, recolher arrais e até apreender embarcações, se for o caso;, pede.
Fiscalização
Na visão do diretor náutico da Abare, Edmilson Figueiredo, a fiscalização também precisa ser intensificada. Isso porque as cerca de 12 mil embarcações de esporte e recreio ;contribuem para o aumento no risco de acidente;.
Ele entende que é preciso estabelecer um fórum de discussão sobre a segurança e o turismo náutico em Brasília. ;É imperativo a necessidade de uma estrutura portuária para que esses passeios tenham o local de saída. A Concha Acústica deveria receber essa estrutura, que aumenta o poder de fiscalização e estabelece uma espécie de padronização dos serviços de cada embarcação. É necessária uma estrutura portuária com guichê, com área de transição, fiscalização. Com um barco saindo de cada marina, fica muito difícil o controle das autoridades;, explica.
O diretor da Abare afirma que o acidente no Lago Paranoá, no último domingo, mancha a imagem de Brasília. Na visão dele, é preciso, além dos investimentos, mais profissionalismo por parte dos empresários. ;Temos que discutir a segurança, o respeito aos passageiros e a qualidade da prestação de serviço. É uma discussão envolvendo a sociedade e as autoridades em benefício da cidade;, declara.
Números
Segundo números da Marinha, o 7; Distrito Naval (DN), que compreende DF, Goiás e Tocantins, registrou oito acidentes envolvendo embarcações em 2009, nove em 2010 e, até maio de 2011, outros quatro. O 1; DN, que engloba o Rio de Janeiro, o Espírito Santo e parte de Minas Gerais, tem o maior número de registros, com 45, 62 e 16 em 2009, 2010 e 2011, respectivamente. Esse ano, em todo o Brasil, foram 54 acidentes.
O delegado fluvial Rogério Leite admite que a fiscalização no DF poderia ser mais robusta. Por isso, segundo ele, é importante transformar a delegacia em uma capitania dos portos. Ainda assim, ele defende que os trabalhos no Lago Paranoá atendem a demanda. ;A fiscalização existe, mas não pode ser em 100% dos barcos, assim como o Detran não para 100% dos carros. Mantemos equipes fixas de, no mínimo, quatro pessoas, 24 horas por dia. Nos dias e horários de maior movimento, aumentamos esse efetivo, que pode chegar a 20 fiscais;, diz.
A Secretaria de Obras do GDF, por meio da assessoria de imprensa, informou que, além do píer da Concha Acústica, da Ermida Dom Bosco e do Pontão do Lago Sul, uma nova marina será inaugurada em julho, no Calçadão do Lago Norte.