O Eixão faz parte da vida do brasiliense. O lugar por onde circulam, em dias úteis, cerca de 80 mil veículos se transforma, aos domingos e nos feriados, em um grande centro de lazer. Liberadas para bicicletas, skates, patins, cachorros e carrinhos de bebê, as seis faixas e a pista central da rodovia recebem crianças, jovens, idosos, famílias inteiras. Sem o vaivém frenético de carros, a estrada vira espaço de alegria e de convivência para a população.
No próximo mês, o Eixão do Lazer completa 20 anos. Moradores das asas Sul e Norte, mas também de outros cantos do Distrito Federal, comemoram. A última sondagem divulgada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER), responsável pela rodovia, indica que pelo menos 2 mil pessoas aproveitam as pistas livres. Em dias de sol, esse número aumenta consideravelmente, assim como a venda de água de coco e refrigerantes às margens da rodovia.
Ambulantes se instalam ao longo dos 13km do Eixão e aproveitam o movimento para faturar. Antes, durante ou depois do passeio, é possível sentar nas barraquinhas, comer pastel e tomar um caldo de cana bem gelado. Na cidade onde o mercado imobiliário se mantém superaquecido, corretores também usam o espaço de lazer para anunciar imóveis. Partem do princípio de que ali, em um ambiente mais descontraído, podem cativar melhor os clientes.
Grupos religiosos também aproveitam para orar e tentar arrebanhar fiéis enquanto caminham pelas pistas do Eixão. Debaixo da sombra das árvores, casais namoram. Sob o sol do meio-dia ; horário não recomendado para atividade física ; há quem corra de roupa de banho, para se bronzear. Mais cedo, ainda antes das 7h, os primeiros frequentadores do Eixão usam casacos para se proteger do vento gelado do início da manhã.
Energias
Popular e democrático, o Eixão abre espaço, aos domingos e feriados, para quem não se incomoda em pedalar de calça jeans, correr de tênis, meia social e camisa polo. O lugar não é exclusividade dos atletas, é de todos: dos cachorros da médica Ladjane Bandeira; do empresário Marcus Leal e os três filhos carregados em uma única bicicleta; do adolescente Gabriel Félix; da galera da patinação de velocidade; da rapazeada do skate no fim da Asa Norte; e de tantas outras pessoas (veja arte).
No Eixão sem carros, deseja-se ;bom-dia; e ;boa-tarde; a desconhecidos. Por aquelas pistas palco de acidentes terríveis, encontra-se paz e tranquilidade. Dá para escutar o canto dos pássaros, contemplar o horizonte e o céu da capital; esticar as pernas e os braços; exercitar o corpo; e desopilar a mente. Aos domingos e feriados, o brasiliense gasta e recarrega suas energias. Esquece-se dos pardais, do acelerador e das buzinas para descobrir um outro Eixão.
Para saber mais
A faixa central do Eixão (foto) é comumente chamada de ;faixa presidencial;. Diz a lenda que aquele espaço, no início de Brasília, era usado pelo comboio de presidentes da República que moravam na Granja do Torto e trabalhavam no Palácio do Planalto. Os mais antigos na cidade garantem, porém, que isso nunca existiu, até porque, naquela época, o trânsito era tranquilo e não havia, portanto, necessidade para a regalia. Dirigir pela faixa central do Eixão é proibido. Segundo o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), responsável pela rodovia, a ;faixa presidencial; nada mais é do que um canteiro central para separar os dois sentidos da via. Somente ambulâncias e carros oficiais podem usar o espaço ; e quando extremamente necessário.