O mercado de produtos orgânicos cresce na ordem de 30% ao ano no Distrito Federal, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária. Os brasilienses, em virtude do alto padrão de renda e de informação, são potenciais consumidores de frutas e verduras sem agrotóxicos e fertilizantes químicos. Produtores locais, no entanto, poderiam lucrar até 20% mais se resolvessem problemas básicos de logística. A dissertação de mestrado do pesquisador Feruccio Branco Bilich, defendida no Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade de Brasília (UnB), constatou que gargalos no transporte da mercadoria e o uso de embalagens inadequadas dão prejuízo ao agricultor.
O transporte representa um dos maiores custos no processo de produção. Os que vendem orgânicos nas Centrais de Abastecimento do DF (Ceasa), segundo a pesquisa, produzem em áreas próximas umas das outras ; a maioria na região de Brazlândia, Taguatinga e do Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF). No entanto, todos fazem o trajeto de até cerca de 60km em caminhonetes próprias, quase sempre com espaço para mais mercadoria.
Feruccio sugeriu aos produtores que organizem um cronograma para facilitar o transporte dos produtos. ;Definitivamente, não há necessidade de todos irem e voltarem com seus próprios carros;, comenta o pesquisador. Dos 14 entrevistados, nove reconheceram que o transporte é inadequado. Alguns pequenos agricultores chegam a ficar mais de seis horas no mercado, tempo que poderia ser aproveitado para aumento na produção.
Após dois anos de estudo, o pesquisador concluiu que falta interação entre os produtores. Apesar de fazerem parte de uma cooperativa, eles se organizam somente na hora de vender. ;Ninguém quer se meter na produção do outro e, por isso, o grupo deixa de reduzir custos, principalmente com combustível;, diz Feruccio. Outra solução para o problema do transporte, acrescenta ele, seria a terceirização do serviço, que poderia baratear ainda mais o processo.
Desperdício
Um segundo problema que afeta o bolso dos produtores é o desperdício de mercadoria. As perdas, de acordo com a pesquisa, ocorrem pela falta de planejamento e pelo uso inadequado de embalagens. Alguns agricultores ainda transportam frutas e verduras em caixas de madeira. ;Se os orgânicos forem embalados com mais cuidado, chegarão ao mercado com melhor aparência;, afirma Feruccio. As melhorias são fundamentais para que os pequenos possam competir com os grandes produtores.
Joe Valle, deputado distrital e proprietário da maior fazenda de orgânicos do DF, reconhece que muitos produtores são resistentes ao associativismo. ;Mudar isso leva tempo. É uma questão cultural;, diz. Para ele, os entraves na logística serão solucionados quando os envolvidos no processo perceberem que, de fato, estão sendo prejudicados financeiramente. ;Um dos pilares da agricultura orgânica é a viabilidade econômica. Não faz sentido continuar assim;, ressalta. Somente a Fazenda Malunga, de propriedade de Valle, fatura cerca de US$ 4 milhões por ano. A propriedade emprega 200 funcionários e tem produção diária, em média, de duas toneladas de orgânicos.
Massae Watanabe, uma das produtoras que atuam na Ceasa, concorda com o problema do transporte, mas acredita que o maior gargalo seja a produção. ;É claro que a logística é importante, mas hoje precisamos nos preocupar em atender a demanda, que não para de crescer;, pondera. O grupo está em busca de técnicos que possam auxiliá-los a produzir em maior quantidade, sem afetar a qualidade das frutas e verduras e respeitando os princípios da agricultura orgânica.
O DF possui cerca de 250 agricultores orgânicos, a maioria pequenos produtores, com propriedades entre 15 e 20 hectares. O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais Orgânicos do DF, Moacir Pereira Lima, avalia que o mercado só não cresce mais porque a produção não tem conseguido acompanhar a demanda. ;O brasiliense está cada vez mais exigindo produtos orgâncios. O que falta é oferta;, reforça. Segundo ele, as maiores redes de supermercado chegam a faturar R$ 1 milhão por mês com a comercialização de orgânicos em Brasília.
Dados do sindicato e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) indicam que as propriedades rurais de agricultura orgânica ocupam cerca de 2,8 mil hectares em todo o DF, onde são produzidas, por ano, em média 3 mil toneladas de frutas e verduras sem agrotóxicos. Desse total, 85% são olerícolas, principais hortaliças de importância econômica e alimentar. Há áreas produtivas também no Entorno, em cidades como Padre Bernardo e Água Fria, ambas em Goiás. A produção orgânica cria entre três e seis empregos por hectare.
Encerramento da Agrobrasília
A Agrobrasília 2011 termina hoje, com a expectativa de R$ 150 milhões em negócios. Participaram 310 expositores da quarta edição daquela que já é considerada a principal feira de negócios rurais do Centro-Oeste. Às 10h de hoje, técnicos do Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do DF (Sebrae-DF) farão palestra sobre inovação, voltada para expositores. Às 15h, o governador Agnelo Queiroz (PT) participa do encerramento da feira, montada no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no Programa de Assentamento Dirigido do DF (PAD-DF), no caminho de Unaí (MG), a cerca de 60km do centro de Brasília.