Desde que abriu as portas, há três meses, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia atendeu quase 30 mil pessoas, uma média de 333 por dia. O resultado está abaixo do previsto para uma UPA de Porte III, única em operação no DF, que tem a estrutura mais complexa e pode fazer até 450 atendimentos diários. O início da oferta dos serviços foi turbulento devido à imensa procura e a ajustes técnicos, como a conclusão da montagem do aparelho de raios-X. Assim como o restante da rede, a unidade tem carência de profissionais, principalmente médicos.
Apesar de a largada ter apresentado tropeços, na avaliação do gestor da unidade, Bruno de Paula Coutinho, bons resultados foram colhidos no primeiro trimestre. ;Das 29.420 pessoas que foram atendidas, apenas 690 precisaram ser encaminhadas para internação em hospitais, o que é muito relevante. É um número de resolutibilidade muito bom e isso ajudou a desafogar o sistema;, avalia. Ele reconhece, no entanto, que a falta de profissionais causa transtornos para quem espera. ;Toda a rede está com esse problema e é uma deficiência que a UPA também apresenta. E, como temos menos médicos, precisamos dar prioridade aos casos mais graves;, explica. As inscrições para o próximo concurso da secretaria, que deve chamar mais 11 mil servidores em três anos, foram concluídas na última semana.
Classificação de risco
O objetivo da UPA é oferecer procedimentos de baixa e média complexidade e, quando preciso, estabilizar pacientes gravíssimos antes da remoção para um hospital. Ao chegar à unidade, o paciente é classificado em uma escala de risco dividida por cores. O azul (bom estado) e o vermelho (estado gravíssimo) não são atendidos ali, mas encaminhados para centros de saúde ou unidades mais equipadas, respectivamente. Quem se enquadra no verde (intermediário) e amarelo (mais grave) recebe cuidados médicos, sendo que a pessoa em pior estado é sempre atendida primeiro. Acostumados ao sistema de acolhimento por ordem de chegada, a princípio, muitos pacientes estranharam o novo modelo.
A auxiliar de produção Rosânia Ferreira de Paula, moradora do Recanto das Emas, elogiou o atendimento prestado ao filho Adriel Ferreira de Paula, 8 anos. O menino passou mal na escola e foi levado pelo Samu à UPA. ;Ele foi medicado com rapidez e encaminhado para uma consulta no Hospital de Base;, contou. A criança tem problemas de colestorol.
O gerente de lotérica Felipe Silva, 19 anos, tem avaliação diferente sobre o trabalho desenvolvido na unidade. Queixando-se de dores em todo o corpo, ele aguardava há algumas horas a consulta médica na tarde de ontem. ;Para mim, isso aqui é igual ao hospital, se não for pior. Quando você chega aqui, já avisam que vai demorar;, disse.
Paralisação descartada
Médicos do Hospital Regional de Santa Maria ameaçaram fazer uma paralisação caso não recebessem os salários, que, segundo eles, está atrasado desde março. O problema afetaria essencialmente aqueles que trabalham por meio de contrato temporário e aceitaram permanecer no quadro após a administração do hospital passar das mãos da Real Sociedade Espanhola de Beneficência para o Governo do Distrito Federal. A Secretaria de Saúde confirmou o problema e garantiu que uma folha de pagamento suplementar já foi rodada e os salários cairiam na conta dos servidores até a noite
de ontem.
Parceria com o Samu
As unidades de pronto atendimento são uma iniciativa do Ministério da Saúde para a realização de procedimentos de baixa e média complexidade. A ideia é oferecer serviços que estão disponíveis nos postos de saúde e não precisam, necessariamente, ser realizados em hospitais. Cada unidade conta com as seguintes especialidades: clínica médica, pediatria, ortopedia e odontologia. As UPAs são equipadas para realizar serviços como raios X, exames laboratoriais e eletrocardiograma. Elas também têm condições de manter um paciente em observação por até 24 horas. Diferentemente dos hospitais e dos centros de saúde, não há marcação de consultas. Segundo o governo federal, idealizador do programa, as unidades devem funcionar em parceria com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim, quando um paciente em estado grave chega a uma UPA, ele pode ser levado com rapidez ao hospital mais próximo.