A minoria dos brasilienses contaminados pela hepatite C sabe que tem o problema. Silencioso, o vírus passa anos, décadas no organismo sem que a pessoa saiba. Enquanto isso, consome o fígado do paciente. Existem hoje no Distrito Federal cerca de 24 mil pessoas provavelmente infectadas, mas apenas 1 mil ; o equivalente a 4% ; se encontram em tratamento. O restante da população continua sem saber que carrega no corpo uma ameaça à saúde.
O diagnóstico de quem contraiu o vírus e ainda não descobriu está na mira da Secretaria de Saúde. Os especialistas do órgão fizeram ontem um mutirão de testes rápidos gratuitos na Rodoviária do Plano Piloto. Cerca de 500 pessoas se submeteram aos exames. A diretora da Vigilância Epidemiológica, Sônia Geraldes, explicou que a identificação do micro-organismo pode evitar o avanço da hepatite C. ;É uma bomba-relógio viral que, às vezes, demora 20 anos para se manifestar, normalmente com a ocorrência de cirrose;, explica.
Quanto antes vier a descoberta da doença, maiores ficam as chances de cura. ;A estimativa de 24 mil infectados no DF foi calculada por meio de um inquérito feito pelo governo federal. A gente tem de descobrir quem são essas pessoas. O jeito de fazer isso é oferecer os testes ao paciente;, afirma a diretora da Vigilância Epidemiológica.
A hepatite C foi identificada em 1989. A contaminação ocorre por meio de contato sanguíneo. Os especialistas defendem que o exame seja realizado por pessoas que fizeram transfusão de sangue ou cirurgia antes de 1993. A recomendação também vale para usuários de drogas injetáveis e para quem fez piercing ou tatuagem. A transmissão também é possível quando há o compartilhamento de objetos cortantes, como lâminas de barbear e instrumentos de manicure.
Em apenas 3% dos casos, de acordo com a Secretaria de Saúde, o contágio da hepatite C se dá por meio do ato sexual. ;Essa não é uma via de importância. Não é impossível, mas é improvável que ocorra;, explica o médico gastroenterologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Vinícius Lima. O especialista estima que 1,5% da população brasiliense tenha o vírus. ;Não é um índice desprezível. É importante identificar antes da fase de cirrose porque ainda há possibilidades de tratamento. Em torno de 50% a 60% desses pacientes acabam se curando;, afirma. Se o diagnóstico ocorre depois, a alternativa é fazer um transplante de fígado. ;O processo é mais complicado e mais arriscado.;
Mais campanhas
O atendimento aos brasilienses que sofrem do mal ainda apresenta deficiências. O coordenador do Grupo C de Apoio aos Portadores de Hepatites Crônicas, Epaminondas Campos, acredita que falta informação à população. ;Os problemas são pontuais. Conseguir a realização de exames e o fornecimento de medicamentos foi uma vitória, mas o governo tem de investir em campanhas. O brasiliense precisa de esclarecimento e recepção nos centros de atendimento;, afirma.
Ações como o mutirão de testes de ontem chamam a atenção das pessoas. Não faltou gente querendo ser examinada na Rodoviária. A empregada doméstica Marilene Gomes, 32 anos, saiu de casa, em São Sebastião, só para passar pela avaliação médica. O resultado foi negativo. ;Não sabia dos perigos e que a forma de transmissão é tão fácil. Fiquei com medo;, justifica.
Previna-se
Os exames para HIV, sífilis e hepatites B e C podem ser feitos no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), no mezanino da Rodoviária do Plano Piloto. Basta assistir a uma palestra e fazer a coleta do material biológico. O resultado sai, em média, em 10 dias úteis. Os atendimentos ocorrem de segunda a quinta-feira, das 8h30 às 10h30 e das 12h30 às 15h, e às sextas-feiras, das 8h30 às 10h30. Mais informações pelos telefones 3325-6711 e 3325-6079.