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Montadoras asiáticas avançam no DF e derrubam preços de carros no mercado

A exemplo do que vem ocorrendo no Brasil, as concessionárias chinesas chegaram para ficar no mercado candango. Dados do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Distrito Federal (Sincodiv-DF) mostram que, em 2010, a participação delas nas vendas totais de veículos no DF foi de 1,25%. No primeiro quadrimestre de 2011, a proporção mais do que dobrou, passando para 2,22%. A entrada de mais um concorrente na praça foi um dos fatores que contribuiu para o incremento.

Em 18 de março último, a JAC Motors inaugurou 46 concessionárias em todo o território nacional, três delas no Distrito Federal. A Chery, outra montadora chinesa, começou com uma loja no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) e, em 7 de maio, abriu uma segunda unidade na Cidade do Automóvel. Além das recém-chegadas, Lifan, Hafei e outras aportaram no mercado local em 2010. Preços equiparáveis aos dos similares nacionais, com o diferencial de que os carros vêm completos ; com vidros e trava elétricos; ar-condicionado; air bag; e, não raro, até aparelho de som ; são o principal atrativo. Falta de familiaridade com as marcas e eventuais dificuldades na substituição de peças não são empecilho para que os carros da China conquistem os consumidores.

Para Ayrton Fontes, economista da consultoria de varejo automotivo MSantos, a consequência será um acirramento da concorrência. A corrida para não perder clientes começou. A fim de disputar com o Sedan J3, da JAC Motors, que custa R$ 37,9 mil, montadoras e importadoras instaladas no país fizeram ajustes para baixo em até R$ 3 mil nos preços do Ford Fiesta, Peugeot 207 e 307, Citro;n C3 e Renault Sandero. Fontes apostam que, com a chegada ao mercado do 1.0 QQ, da Chery, os carros populares ; Celta, Ford Ka e Fiat Uno, atualmente vendidos a uma faixa de R$ 23,9 mil ; terão que ser os próximos a fazer um alinhamento. Afinal, o carrinho chinês totalmente equipado sai por R$ 22,9 mil.

Concorrência
;O que a gente está prevendo é que vai ter uma disputa muito grande a médio prazo. A grande dúvida é se os veículos 1.0, chamados de carros de entrada no mercado, vão conseguir acompanhar. Os automóveis que concorrem com o J3 têm maior valor agregado. Mas colocar direção hidráulica, freio ABS, painel digital e rádio MP3 em um carro mais popular, vai elevar seu preço a mais de R$ 30 mil;, comenta.

Na China ; onde estão as montadoras da JAC, Lifan, Chery e outras ; está sediada a produção dos extras que recheiam o veículo. Assim, incrementá-lo é barato. No Brasil, os acessórios são importados. Apenas a Chery anunciou intenção de ter montadora no país. A instalação está prevista para 2013 em Jacareí (SP).

A professora Pollyanna Lereth, 28 anos, acaba de trocar um Celta 1.0 da GM pelo J3 da JAC Motors, com motor 1.4 e todo equipado com adicionais de fábrica. O veículo saiu por R$ 37,9 mil. ;Se eu fosse comprar um do mesmo tipo de outra montadora e acrescentasse os adicionais, chegaria a quase R$ 50 mil;, estima.

O advogado Raimundo Nonato Portela, 43 anos, optou pelo QQ, da Chery.;Para mim, o principal é a relação custo-benefício. Vou ter um carro econômico, mas com ar, direção hidráulica, vidro e trava. Não me preocupo com a dificuldade de obter peças.;

Exigências
A importação de veículos ao Brasil está mais complicada desde o último 12 de maio. O Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) passou a exigir que importadoras peçam licença prévia para liberação de guias, processo que antes era automático. De acordo com o MDIC, o aumento de 71% nas importações em abril em relação a março, que causou um desequilíbrio de US$ 1,5 milhão na balança comercial brasileira, foi o que motivou a ação. Entretanto, especula-se que a medida possa ser uma retaliação à Argentina, que vem colocando barreiras às importações de máquinas agrícolas do Brasil.

Campanha agressiva chama a atenção
Apesar de os chineses representarem concorrência adicional, Ricardo Lima, presidente do Sincodiv-DF, faz um discurso a favor da entrada deles no mercado. ;São muito bem-vindos. Eles terão o seu público e vão puxar muitos consumidores, que adquirirão seu primeiro carro;, disse. Lima admitiu que ;toda entrada de novo concorrente toma espaço;. Para ele, porém, tanto a praça nacional quanto a de Brasília ;comportam crescimento;.

As outras montadoras, com ou sem fábrica no Brasil, têm motivo para ficarem atentas. As concessionárias chinesas, principalmente as recém-chegadas, estão investindo pesado em abocanhar clientes. A JAC bancou uma agressiva campanha publicitária, que inclui peças de divulgação com o apresentador de tevê Fausto Silva. A intenção é, até o fim deste ano, conquistar 1% do mercado do país. Já a Chery aposta todas as suas fichas no QQ, anunciado como ;o carro mais barato do Brasil;.

Nas lojas do Distrito Federal, a ordem é não perder vendas. Pablo Macharutto, gerente comercial da unidade da Chery no SIA, informa que, para este ano, a orientação é dobrar o volume de vendas frente a 2010. ;No começo, houve um pé atrás. Hoje, a marca já é conhecida. Não há dificuldade na reposição de peças, pois temos um estoque muito alto em Salto (SP);, diz.

Cleyton César, gerente comercial da JAC no SIA, diz que todos os dias são movimentados na unidade, e que a loja bateu recorde em um fim de semana em que foram fechados 25 contratos. ;Tradicionalmente, fim de semana vende menos. Mas esse foi excepcional;, relata.

O consultor de varejo automotivo Ayrton Fontes diz que não classificaria a chegada dos chineses ao mercado brasileiro de invasão. ;Algo semelhante ocorreu na década de 1990 com as montadoras japonesas, e há alguns anos com as coreanas. A China tem uma produção anual de 18 bilhões de veículos e precisa dar vazão a ela.; Para ele, a decisão do governo federal de monitorar as importações de carros não deve trazer prejuízos significativos às asiáticas. ;Pode haver alguma demora na entrada do produto no Brasil, mas a medida é dirigida a todos os países exportadores de veículos.;.