Foi-se o tempo em que engarrafamentos no Distrito Federal tinham local e hora para começar, além de se restringirem aos momentos de pico, como início da manhã, horário de almoço e fim da tarde. Com uma frota de 1,2 milhão veículos para 2,57 milhões de habitantes e um crescimento de 8%, as vias ficam lotadas a qualquer horário e em diversos locais da capital. Os engarrafamentos chegam a 30km de extensão em dias sem acidentes graves ou chuva. ;Eu saio de Valparaíso (GO) às 5h10 para conseguir chegar 6h50 no Setor Bancário Sul por conta do engarrafamento na BR-040;, conta o manobrista Jailton Santana Caldas, 49 anos.
Apesar do trânsito intenso ser rotina em todo o DF, alguns pontos são mais críticos, como é o caso da BR-040, principalmente na área próxima ao viaduto de Santa Maria, onde os condutores enfrentam frequentes retenções causadas pela grande quantidade de carros que trafegam na via. Por ela, transitam os carros vindos de Luziânia e Valparaíso. A BR-070 ; que leva a Águas Lindas ;; a BR-020 ; Sobradinho e Planaltina ;; a Epia, a Estrada Parque Núcleo Bandeirante e a Estrutural são pistas onde o motorista também costuma enfrentar trânsito lento diariamente.
A Estrada Parque Taguatinga (EPTG), em especial no viaduto Israel Pinheiro, costuma ficar parada. ;A EPTG engarrafa uns 20 minutos todo dia. Para chegar à aula no horário certo, saio de casa mais cedo;, conta a estudante Ádria Neri, de 18 anos, que mora e estuda em Taguatinga. Para fugir do transtorno, o brasiliense abusa das irregularidades. Ontem, a equipe do Correio flagrou, por volta das 11h, na EPTG sentido Taguatinga, um congestionamento causado por um caminhão tombado desde o último sábado. Para escapar, muitos motoristas atravessavam o meio-fio e mudavam de pista, davam ré em plena via e saíam na contramão.
A falta de educação no trânsito é outro fator que contribui para a lentidão das vias. Infrações como mudança de faixa sem a adequada sinalização e carros estacionados em fila dupla são os principais responsáveis pela demora nos trajetos. As obras em execução também atrapalham o fluxo contínuo. A construção do viaduto no Núcleo Bandeirante e a obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) deixam o trânsito ainda mais confuso na região.
Baixa qualidade
A reclamação está na ponta da língua de todo brasiliense: o transporte público da cidade é ruim. O tempo de espera, tanto nas estações de metrô quanto nas paradas, desagrada que tem horário para chegar à escola ou ao trabalho. ;Quando é para ir para Taguatinga, o ônibus demora entre 20 e 30 minutos. No caso do Plano Piloto, pode levar até uma hora;, explica a estudante Mariana do Nascimento, 18 anos. Sempre lotado, independentemente do horário, o ponto não oferece bancos para quem aguarda os coletivos.
A frota velha também incomoda. De acordo com a assessoria de comunicação do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), atualmente, 2.980 ônibus atendem a demanda de um milhão de passageiros por dia, ou seja, uma média de 335 passageiros por veículo. Para diminuir a lotação e o tempo de espera, o DFTrans espera pela realização de uma licitação para que sejam adquiridos mais 900 carros.
Longe das paradas, quem opta pelo metrô também reclama da demora e do elevado número de pessoas por vagão. Segundo a assessoria de imprensa do Metrô DF, o tempo médio de espera para a linha tronco (Rodoviária do Plano Piloto ; Águas Claras) é de 3 minutos e 50 segundos no horário de pico ; das 6h30 às 8h30 e das 17h30 às 19h30 ; e de 7 minutos e 10 segundos nos demais períodos. Já nas linhas ramais (Ceilândia e Samambaia), os intervalos são de 7 minutos e 40 segundos, quando há muito movimento, e de 15 minutos no restante do dia.
Hoje, 24 dos 32 trens da frota total operam no Distrito Federal. E, apesar de ter mais carros disponíveis, só suporta operar com 25 trens, uma vez que a tecnologia usada é a mesma desde o início da construção do metrô, em 1992. O diretor de Operação e Manutenção do Metrô, Fernando Sollero, espera recursos do PAC Mobilidade para modernizar o sistema e inaugurar cinco novas estações ; uma na Asa Norte, duas em Samambaia e duas em Ceilândia. Nenhuma licitação foi feita ainda. ;Com as reformas, vamos diminuir o intervalo para 2 minutos e atenderemos 300 mil pessoas por dia;, calcula o diretor, que espera estar com a obra pronta até a Copa de 2014.
Filas
Espera cansativa
Aguardar por atendimento em estabelecimentos ou para pagar uma conta em banco é motivo para tirar a paciência de muita gente. Quando se espera sentado é mais fácil dominar os nervos, mas, diante de uma fila quilométrica, a irritação quase sempre é inevitável. Quem precisa de uma consulta, um exame ou uma cirurgia na rede pública de saúde, conhece bem essa rotina. Ficar doente em Brasília está entre as maiores preocupações da população. A falta de remédios, de medicamentos, de enfermeiros e de leitos em unidades de terapia intensivas (UTIs) é o principal gargalo do sistema.
Anualmente, mais de 2,3 milhões de pacientes são atendidos na emergência dos hospitais regionais. Muitas pessoas, no entanto, desistem das consultas ou morrem pela falta de atendimento adequado. A desempregada Maria Elisabeth Sousa, 55 anos, relutou muito até procurar uma unidade em busca de tratamento para a filha Lúcia Batista Sousa, 22. Há mais de uma semana, a jovem sofre com uma forte tosse, além de dores no peito e nas costas. Preocupada com o agravamento do quadro, a moradora do Setor P Sul seguiu ontem, por volta das 4h30, para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC).
Ao chegarem ao local, mãe e filha foram informadas de que não havia médicos. Em seguida, elas partiram para o Hospital Regional do Guará, mas a busca por um diagnóstico se tornou uma peregrinação por diversas unidades de saúde do Distrito Federal. No Guará, segundo as atendentes, os profissionais não estavam disponíveis.
Já pela manhã, as duas foram então para o Hospital Regional de Samambaia (HRSam) e depois para o de Taguatinga (HRT). Em nenhum dos dois, porém, Lúcia conseguiu ser atendida. A única alternativa foi voltar para o HRC, pouco antes das 13h. ;Não queria procurar hospital porque imaginava que seria assim. E o pior é que todo mundo está passando pela mesma coisa. A saúde nunca foi boa, mas agora parece que está pior;, reclamou Elisabeth. Às 14h, após oito horas de espera, ela ainda não havia sido examinada.