As famílias do Distrito Federal são as que mais gastam com habitação no país. Despesas com aluguel, energia elétrica, condomínio, taxa de água e esgoto, entre outras, comprometem 14,9% do orçamento dos moradores de Brasília e demais regiões administrativas. O percentual supera a média nacional de 13,08%, e deixa para trás as outras cidades onde o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro e Porto Alegre são as capitais onde a proporção dos gastos com moradia mais se aproxima da registrada no DF, ficando em 14,4% e 14,1%, respectivamente. Curitiba, Goiânia e Fortaleza cravam índices de 13,7%; 13,68% e 13,61%. Em São Paulo, conhecida pelo custo de vida altgo, os habitantes não despendem mais do que 12,88% dos ganhos mensais com moradia.
Embora pese consideravelmente no orçamento das famílias do Distrito Federal, o grupo habitação não é o que mais consome a renda dos brasilienses, segundo a medição do IBGE. Alimentação e bebidas ; 23,4% ; e transportes ; 18,8% ; engolem parcelas maiores dos ganhos mensais. Ainda assim, os moradores do DF sentem fortemente o impacto do alto custo local para morar e reclamam especificamente dos valores elevados dos aluguéis.
Dados do IBGE indicam que, entre os gastos que integram o desembolso com a habitação (veja quadro), a quantia mensal paga pelo inquilino ao proprietário do imóvel é a mais representiva, correspondendo a 4,65% da composição das despesas. Além disso, a inflação do aluguel acumulada até abril deste ano no Distrito Federal foi de 4,74%, 1,4 ponto percentual superior à registrada no Brasil. O grupamento habitação como um todo teve inflação ligeiramente menor, de 3,82% em igual período, patamar equivalente a três vezes a média nacional, que ficou em 1,83%.
A realidade do aluguel caro é vivida pela farmacêutica bioquímica Lara Rodrigues, 33 anos. Vinda de Muriaé (MG), Lara está no DF há um ano, desde que se casou com um brasiliense. O casal escolheu a cidade de Águas Claras para morar, onde o metro quadrado é mais barato do que o de áreas nobres como Sudoeste e Asa Sul. Mesmo assim, desembolsa R$ 2 mil com o aluguel de um apartamento de três quartos. ;É mais do que gastamos com alimentação, que deve dar uns R$ 1,5 mil;, estima a farmacêutica.
Lara ficou surpresa com o elevado custo de vida em Brasília em geral. Entretanto, nenhum outro gasto chamou sua atenção como o das despesas com habitação. ;Supermercado, salão de beleza, tudo me assustou. Mas o preço dos imóveis e aluguéis está fora da realidade brasileira. Brasília está vivendo em um mundo à parte;, opina.
Escassez
Na visão do economista Carlos Alberto Reis, professor da Upis ; Faculdades Integradas, o custo alto para se morar no Distrito Federal é ditado principalmente pela escassez de terras e unidades habitacionais. ;O Distrito Federal é uma região limitada geograficamente. Seu tamanho é fixo. Você não tem venda de imóveis e lotes como há em outros municípios. Por isso, aqui eles são muito caros;, analisa. ;Os donos de imóveis precisam, de alguma forma, recuperar os investimentos altos feitos. E isso acontece via preço de aluguel;, completa. Reis cita ainda o mercado aquecido como catalisador do valor alto dos aluguéis.
Para o economista, a inflação sobre o aluguel registrada pelo IBGE no primeiro quadrimestre deste ano pode estar relacionada ao início de uma nova gestão no Governo Federal. ;A chegada de novos moradores, com bom poder aquisitivo, pode ter contribuído para que os proprietários de imóveis reajustassem vantajosamente seus contratos;, avalia.
Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE, explica que o peso médio da habitação para os brasilienses já situa-se na faixa dos 14% há algum tempo. Segundo ela, uma representatividade elevada do aluguel e outras despesas relacionadas à moradia sinaliza que a região metropolitana onde o fenômeno ocorre tem preços acima da média em relação às demais. ;Pode estar havendo uma inflação mais elevada da habitação no local;, afirma.
Migração
A constante valorização dos imóveis em Brasília está forçando a migração de parte das famílias de classe média que pretendem ter casa própria do Plano Piloto para outras regiões do Distrito Federal, como Cruzeiro, Águas Claras e Guará. Na Asa Sul, um apartamento de dois quartos custa acima de R$ 500 mil, enquanto que em Águas Claras, um imóvel com as mesmas características sai por cerca de R$ 250 mil.