O santo é, acima de tudo, um amigo e um intermediário entre o homem comum e Deus. Esta foi a definição dada pelo frei Casimiro Cieslik, da Paróquia São Francisco de Assis, na 915 Norte, ao apresentar a relíquia do papa polonês beatificado, João Paulo II. O tesouro, uma gota do sangue retirado do pontífice para um exame poucos dias antes de sua morte, em abril de 2005, foi dividido em quatro partes. Uma ficou no Vaticano e as outras foram levadas para Cracóvia (Polônia), Moscou (Rússia) e Brasília. Exibido em um relicário, o pequeno resto mortal ficará na capital federal e será apresentado para os fiéis durante as missas comuns de domingo do santuário.
Frei Casimiro explica que a relíquia serve para os católicos como uma forma de ligação entre os fiéis e o santo, que, por sua vez, os liga a Deus. ;Nós entramos em comunhão com eles e os santos estão no céu, ao lado de Nosso Senhor. Na verdade, eles são um instrumento divino que nos ajudam a louvar a Deus;, afirma.
A gota de sangue de João Paulo II foi enviada ao Brasil no último dia 6, por franciscanos brasileiros que atuam como confessores no Vaticano. Aqui, o tesouro fica sob responsabilidade da Província de São Maximiliano Kolbe, que reúne mosteiros e conventos franciscanos brasileiros.
De acordo com o frei, enfermeiras freiras da Igreja Católica que cuidaram de João Paulo II nos últimos momentos de vida guardaram o sangue do pontífice. O fluido foi entregue ao então secretário pessoal do líder da igreja, Stanislav Dziwisz, que decidiu guardar o material. ;Ele (Stanislav) já esperava que João Paulo II fosse proclamado santo, e que aquele sangue, no futuro, fosse virar uma relíquia, uma recordação, algo concreto daquela pessoa. O papa Bento XVI venerou esse tesouro após a missa de beatificação. Depois disso, as partes da relíquia foram enviadas para as cidades;, conta o frei Casimiro.
João Paulo II foi beatificado pelo papa Bento XVI em 1; de maio. Essa é a última fase do processo antes da canonização, o reconhecimento oficial de um santo pela religião. O milagre que garantiu a beatificação foi a cura da freira francesa Marie Simon-Pierre. Ela sofria de mal de Parkinson e, quando sua doença se agravou, em 2005, rezou pedindo a intercessão do papa. A freira, que tinha se encontrado com o pontífice uma única vez, em 1984, teria se curado após as preces. No ritual de beatificação, foi Marie quem levou a ampola de sangue de João Paulo II para o altar.
Comissões do Vaticano vão estudar a vida e os escritos de João Paulo II e é preciso a confirmação de mais um milagre para o reconhecimento como santo. No entanto, o papa Bento XVI, que ignorou o período mínimo de cinco anos para o início do processo de beatificação do antecessor, pode decidir encurtar os trâmites da canonização. Nesse caso, bastaria comprovar as virtudes de João Paulo II para canonizá-lo. ;Não acredito que vá demorar. Os fiéis católicos têm um carinho muito grande por ele. Muita gente pede intercessões, graças a Deus por intermédio de João Paulo II;, descaca o frei Casimiro.
História de vida
Karol Wojtyla ; nome de batismo de João Paulo II antes de virar papa ; nasceu em 18 de maio de 1920 em Wadowice, no sul da Polônia, e morreu aos 84 anos, em 2 de abril de 2005, no Vaticano. Um dos papas mais carismáticos que a Igreja já teve, atrás apenas de João XXIII, Karol tem uma história de vida marcada pela persistência e pela força de vontade. Sofreu os horrores da Segunda Guerra Mundial e foi obrigado a trabalhar em uma fábrica de produtos químicos para não ser deportado de sua terra natal. Fez oposição ao regime alemão por meio da arte e também foi um dos responsáveis pela queda do comunismo em seu país.
A ascensão religiosa de Karol teve início em 1; de novembro de 1946, quando ele foi ordenado sacerdote católico. O papado de Karol foi o terceiro mais longo da história da Igreja Católica: durou 27 anos. O maior deles foi o de São Pedro, por 34 anos, e o segundo maior foi o do papa Pio XI, que comandou a igreja por 31 anos. De espírito visionário, João Paulo II manteve aberto o diálogo entre a igreja e os jovens, pregou em uma igreja luterana, em uma mesquita e foi o primeiro pontífice a visitar o Muro das Lamentações, em Jerusalém (Israel). Beatificou 1.338 pessoas e canonizou outras 482.
Santidade restrita
A beatificação é o último passo do processo de canonização de um santo. Nesse estágio, o beato já pode ser considerado um santo menor. Isso porque os cultos reconhecidos serão apenas regionais, limitados ao país em que o santo viveu ou a locais previamente definidos pela Igreja Católica. Cada santo tem um dia do ano dedicado à sua veneração. No caso de João Paulo II, é 22 de outubro, dia de sua primeira missa como papa.