Jornal Correio Braziliense

Cidades

Abertura de Flipiri tem pipas e recital de música sacra e poesia


Pirenópolis (GO) ; ;É um prazer ouvir os gritos das crianças. Sentir a linha, a pipa no ar, e você no comando do voo. Você é o piloto;, diz a escritora de livros infantis Vera Lúcia Dias, encantada com as mais de 600 crianças que alegraram o fim de tarde em Pirenópolis, e marcaram a abertura oficial da terceira edição da Festa Literária (Flipiri). Quatro escolas municipais, somadas a meninos e meninas das iniciativas sociais Pró-Jovem e Programa de Erradicação Infantil (Peti), ocuparam o gramado à beira do Rio das Almas e congestionaram os céus numa harmoniosa disputa por espaço.

Com cerca de 45 minutos de atraso, a solenidade de abertura ocorreu no Theatro Pyrenópolis Sebastião Pompeu de Pina. Entre os presentes, destacava-se Vicência Bretas Tahan, caçula e única filha viva de Cora Coralina. Depois, a Igreja Nossa Senhora do Rosário acolheu um recital de música goiana. No palco montado na praça central, a celebração que marcou a abertura do evento terminou com recital poético e sessão de autógrafos da atriz Elisa Lucinda. ;O pirenopolino é um povo aberto a todas as artes;, ressaltou Íris Borges, presidente da Casa de Autores e curadora do evento.

Até ontem, parecia que os textos de Cora Coralina ficariam fora das pipas. Mas alunos e professores improvisaram e conseguiram decorar as asas em miniatura a tempo de a revoada começar. Vera, carioca que vive em Brasília desde 1962, aproveitou para lançar seu 17; livro, Céu, vento e pipa (Editora Dimensão), uma reedição do título comercializado originalmente em 2000. Depois da sessão de autógrafos, ela arriscou empinar uma pipa que ganhou de presente. E conseguiu fazê-la subir bem alto, apesar de, reconhece, ;ter perdido a prática já há algum tempo;.

A autora acredita que a integração entre escritores e crianças é o principal motivo da existência da festa. ;A revoada tem tudo a ver com meu livro, que fala desse voo individual que cada um faz. A literatura faz você voar também;, destaca a vice-presidente da Casa de Autores de Brasília. ;Cada vez esse contato com as crianças vai ficando mais intenso. Elas leem os textos de Cora, fazem as pipas, lançam-nas no ar, conversam com autores. Isso fica no imaginário delas para sempre e ajuda a formar novos leitores;, observa.

Internet
Talita Oliveira e Letícia Melo estudam no Colégio Estadual Comendador Christovam de Oliveira, em Pirenópolis. São de séries diferentes: Talita, 10 anos, cursa o 6; ano; Letícia, 11, o 7;. As duas conheceram os pensamentos de Cora Coralina pela internet, em busca de algo especial para colar no corpo das pipas. Algo que se expressasse pessoalmente com sentimentos, memórias e sensações. Talita selecionou um texto que fala sobre a importância da sabedoria no desenvolvimento de cada pessoa. ;Achei interessante, porque sem a sabedoria a gente não é nada;, diz. Mesmo sendo estreante, ela não teve dificuldades em empinar seu texto voador.

Letícia gosta do jeito todo carinhoso com que Cora fala da sua terra natal, a cidade de Goiás (Goiás Velho). ;Os poemas dela falam da cidade dela, contam histórias;, comenta. Ao contrário da colega, ela teve dificuldades com a pipa. ;Achei difícil, ficou embaraçando demais;, conta. Realmente, o céu parece ter ficado pequeno para tantas palavras e tantas pipas.