Após 50 anos de existência, a região administrativa continua chamando-se Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). A atividade industrial, entretanto, está longe ser a predominante. A Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan) divulgou ontem os resultados do Levantamento Empresarial do SIA. O estudo confirmou o que já se suspeitava. O comércio varejista e a prestação de serviços respondem, juntos, por 82,7% dos negócios. A construção civil e o comércio atacadista vêm logo a seguir no ranking, com percentuais de 6,6% e 5,6%, respectivamente, das empresas existentes. A indústria fica com tímidos 4,7%, sendo o ramo menos representativo de todos.
Além de demonstrar a força do varejo e dos serviços no SIA ; o primeiro comanda 41,5% da atividade privada, e o segundo, 41,2% ;, a pesquisa divulgada pela Codeplan apontou que a região é maciçamente formada por empresas originárias do DF. Um total de 80,7% dos negócios instalados na área são matrizes. Entre as filiais, 38,7% têm matriz no DF.
Os imóveis, em sua maior parte ; 56,5% ; são alugados, e a maioria dos trabalhadores da região administrativa é formada por homens. Eles predominam tanto ocupando cargos de dirigentes (71,3%) quanto de empregados (66,9%). O percentual significativo de diretores e funcionários que andam de carro ; 90,1% e 19,6%, respectivamente ; explicam a dificuldade de encontrar estacionamento e o embaraçado trânsito local.
Um outro ponto importante revelado é que, apesar de o SIA abrigar grandes empresas, pouquíssimas ; 0,8% ; possuem plano de manejo de resíduos sólidos. Além disso, em grande parte delas, a coleta de lixo deixa a desejar. Entre as que foram questionadas pela Codeplan, 43,7% responderam que o recolhimento ocorre de forma pontual, enquanto 23,9% afirmaram que este é realizado com frequencia satisfatória.
Tradição
Para o economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Codeplan, os resultados do levantamento mostram que o Setor de Indústria e Abastecimento firma-se em direção a uma vocação diferente da traçada originalmente. ;Vemos uma consolidação do varejo e dos serviços, mais do que da atividade industrial;, diz.
Edson Buscacio, administrador do SIA, confirma que a indústria não formou tradição no local. Para ele, um dos motivos é o espaço reduzido dos lotes face a outros espaços geográficos do DF. Outra dificuldade é o tráfego intenso de veículos, que desfavorece o transporte de mercadorias. ;Acredito que a maior preocupação atualmente não deve ser trazer indústrias, mas resolver os problemas existentes. Além do trânsito, a falta de segurança preocupa;, afirmou.
Inicialmente subordinado ao Guará, o SIA tornou-se uma região administrativa independente em 2005. Nascido durante a construção de Brasília para armazenar máquinas e material utilizado nas obras, o local completa 51 anos em julho próximo. Embora seja uma das mais importantes áreas da economia do DF, o SIA jamais havia sido alvo de um levantamento confiável. Tudo que se sabia da área baseava-se em estimativas.
No fim de 2010, a Codeplan colocou equipes em campo para coletar dados. Foram ouvidos 1.190 empresários da região administrativa e, ainda, 1.017 lojistas da Feira dos Importados, para um recorte separado. Os números correspondem quase à totalidade dos proprietários de estabelecimentos da região, com exceção de algumas centenas que preferiram não responder às perguntas ou não foram encontrados.
FEIRA DOS IMPORTADOS
Embora localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), a Feira dos Importados, espaço onde comerciantes vendem desde roupas e quinquilharias até caros artigos eletrônicos, mereceu uma análise à parte da Codeplan. De 1.370 proprietários de bancas, 1.017 responderam ao questionário do órgão. Foi constatado que 60,7% das empresas instalaram-se na área após 2006, e 34,6%, entre 1996 e 2005. Das lojas foco da entrevista, 94,8% são matrizes e apenas 5% são filiais. A maioria dos imóveis ; 67,1% ; é alugado. Os próprios correspondem a 31,1% do total. Há ainda 0,5% que ocupa área pública. O comércio varejista predomina, sendo a atividade de 87,7% dos estabelecimentos. Três ramos se destacam: vestuário e calçados (23,9%); peças eletrônicas (20,7%) e relógios/óculos/joias/bijuterias (11,7%). A maior parte dos produtos vendidos, 67,2%, é trazida de outros estados. Apenas 19,8% vêm do DF e 13%, do exterior.
Faltam vagas e segurança
O empresário Hélio Aveiro, presidente da Associação das Empresas do Setor de Indústria, Abastecimento, Transportes, Cargas e Inflamáveis do Distrito Federal (Aeseti), está há 46 anos no SIA. Ele é um dos donos de um grupo empresarial que começou no ramo de venda de veículos e hoje é uma holding, com negócios no ramo da construção civil e fabricação de bebidas.
Aveiro informa que, nos dias atuais, apenas a concessionária e alguns escritórios situam-se no Setor de Indústria e Abastecimento, o que faz jus ao perfil da região administrativa de concentradora de atividades de comércio e serviços.
Hélio Aveiro cobra do governo a solução de problemas como trânsito difícil, transporte público insuficiente e segurança deficiente no SIA. ;O setor tem 17 agências bancárias e 46 concessionárias de veículos. Aqui, circula muito dinheiro diariamente. E não há um Batalhão da Polícia Militar;, queixa-se.
O administrador Edson Buscacio afirmou que já foram solicitados ao Departamento de Trânsito do DF (Detran) e ao Transporte Urbano do DF (DFTrans) estudos sobre o trânsito da região e as necessidades de transporte público. A implantação de um Batalhão da PM ; atualmente, o SIA tem somente uma delegacia, a 8; DP ; também estaria sendo articulada com a Secretaria de Segurança Pública. ;Em 90 dias, deve haver algum posicionamento da parte desses órgãos com relação às nossas consultas;, disse Buscacio. (MB)