As facilidades de locomoção e o baixo custo do veículo, além da precariedade do transporte público, aumentaram a quantidade de motocicletas nas ruas do Distrito Federal. Hoje, há uma para cada sete carros em circulação pela cidade. O crescente índice de condutores sobre duas rodas levou os agentes do Departamento de Trânsito (Detran) a intensificar a fiscalização sobre esse meio de locomoção. Nesta semana, as equipes percorreram várias regiões administrativas do DF e encontraram 16 motociclistas inabilitados, autuaram outros 43 e apreenderam 25 motocicletas em situação irregular.
O número de motos na capital federal quintuplicou nos últimos 11 anos. De 25 mil em 2000, a frota atingiu 137 mil neste ano (veja arte). O gerente de Fiscalização do Detran, Marcelo Madeira, credita o salto às dificuldades encontradas por quem depende dos ônibus que servem às regiões administrativas do DF. ;Com os problemas no transporte público, as pessoas preferem comprar uma motocicleta. O condutor que usa esse veículo como alternativa é até mais prudente, mas, muitas vezes, não tem o reflexo e a habilidade ideais;, observa.
Em 2000, as motocicletas representavam 4,4% do total de veículos da cidade. Hoje, contabilizam 11%. O supervisor de logística Valdim Rodrigues, 39 anos, faz parte dos brasilienses que engrossam as estatísticas. Há um mês, ele comprou uma moto. Apesar de considerar mais ágil, ele admite que o meio de locomoção é também mais arriscado. ;O gasto com combustível é menor e dá para chegar aos lugares com rapidez. Mas existem muitos motoristas desatentos e motoqueiros ousados que só andam pelo corredor. Os acidentes acabam ocorrendo;, aponta.
As operações para coibir as irregularidades aumentaram nos últimos meses. Como no início do ano não havia espaço nos depósitos para veículos grandes, os agentes do Detran se concentraram na fiscalização de motoqueiros. ;A ênfase apresentou bons resultados. Em março, não foram registrados acidentes fatais com motocicletas. Entendemos que era preciso continuar nessa linha;, explica o gerente de Fiscalização do órgão. Segundo Marcelo, somente no depósito de Taguatinga há 851 motos, cerca de 70% delas por falta de licenciamento.
Perigo
Mesmo com a quantidade elevada de motos nas ruas, o DF experimenta uma queda nos índices de acidentes. Em janeiro e fevereiro de 2011, nove pilotos morreram depois de se envolver em colisões. No mesmo período do ano passado, o número de óbitos chegava a 13.
No transporte sobre quatro rodas, há cerca de 20 feridos para cada óbito. Enquanto isso, nas colisões de motocicletas, 50 pessoas se machucam a cada morte, conforme as estimativas do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito. ;O carro é uma espécie de escudo. Mas, na motos, o condutor já está do lado de fora. Qualquer acidente com elas significa, no mínimo, ferimentos;, explica o especialista em segurança no trânsito e presidente da entidade, David Duarte Lima.
A exposição não é suficiente para conter a invasão de motocicletas no DF. Para David, além da precariedade do transporte público, o aumento se justifica pela facilidade de mobilidade com esse tipo de veículo. ;Os ônibus em Brasília são impontuais e desconfortáveis. A pessoa tende a querer sair disso o quanto antes e, assim que pode, compra uma moto. Elas são versáteis, não ficam presas em congestionamentos e são mais fáceis de estacionar. Além disso, o custo é baixo em comparação a um carro;, pontua o especialista.
A popularização conquistou o público feminino. A vendedora Danielle Cristine de Sousa, 29 anos, usa o veículo há oito anos e percebe que a quantidade de mulheres sobre duas rodas cresceu com o passar do tempo. ;Não tinha tanta moto nem tanta mulher. Mas existe uma competição. Alguns motoqueiros nos desrespeitam, dificultam a passagem;, afirma. Por conta dos perigos, Danielle prefere fazer as viagens longas em automóveis. ;Os carros têm um ponto cego e tiram fino da gente. É muito arriscado;, acrescenta.