Há uma década o Riacho Fundo estava entre as menores regiões administrativas do Distrito Federal. A cidade tinha pouco mais de 41 mil moradores, distribuídos pelas poucas quadras recém-implantadas. Nos últimos 10 anos, a realidade da região mudou. Com a criação do Riacho Fundo II e, principalmente, com os casos de grilagem de terras, a área cresceu rapidamente. A cidade registrou o maior aumento da população desde 2000: o número de habitantes saltou de 41.404 para 71.584, o que representa um crescimento de 73,3%. Os dados (veja quadro ao lado) são do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O aumento da população no Riacho Fundo é muito superior à média do Distrito Federal. De 2000 para cá, a quantidade de habitantes do DF saltou de 2.051.146 para 2.570.160 ; um acréscimo de 25,3%. Além do crescimento demográfico natural, o inchaço do Distrito Federal ocorreu, entre outras causas, por conta de fenômenos como as invasões de terras. O ritmo de migração, entretanto, sofreu fortes quedas na última década, em comparação com os anos 70 e 80, quando milhares de brasileiros vieram para Brasília em busca de oportunidades e de uma vida melhor.
A rápida elevação do número de moradores não foi acompanhada, na maioria dos casos, da infraestrutura necessária para a população. A campeã de crescimento do Distrito Federal é um exemplo disso. No Riacho Fundo I, por exemplo, os moradores têm à disposição um único posto de saúde e encontrar vaga na agenda dos médicos da unidade é missão quase impossível. A comunidade da área também reclama do aumento da criminalidade.
A presidente da Associação de Moradores do Riacho Fundo, Cleny Lima Souza, afirma que o aumento do número de pessoas na região não foi proporcional aos acréscimos de investimentos públicos. Ela destaca ainda que o crescimento populacional registrado pelo IBGE se deve, em grande parte, à criação do Riacho Fundo II. ;Temos muitos problemas com a violência e, principalmente, com o tráfico de drogas. Precisamos de mais segurança, para que o policiamento atenda todos os moradores;, explica Cleny.
Uma das áreas que teve crescimento desordenado na região foi a antiga Colônia Agrícola Sucupira, que também faz parte de Riacho Fundo. Alvo constante de grileiros, a área sofreu um rápido processo de parcelamento irregular de chácaras, que foram transformadas em condomínios horizontais. As áreas ainda estão em processo de regularização.
A segunda cidade no ranking das que mais cresceram no Distrito Federal é Sobradinho. Lá, a quantidade de moradores aumentou de 128.789 para 210.119, o que representa um acréscimo de 63,1% na população total. Assim como no Riacho Fundo, uma das principais causas desse crescimento é a criação da cidade de Sobradinho II ; que não existia formalmente na época da realização do censo de 2000. Aqui também, o fenômeno da grilagem e o surgimento de novos parcelamentos ilegais também contribuíram para o incremento da população.
Políticas públicas
Os dados do censo do IBGE são de grande importância para a elaboração de políticas públicas, mas, no caso do DF, um problema na delimitação das cidades atrapalha bastante a utilização dos dados. O DF tem hoje 30 regiões administrativas, mas apenas 19 fazem parte da lista do IBGE, cuja última atualização foi em 2003. Com isso, a população total do Lago Norte, por exemplo, não reflete a realidade, já que a comunidade do Varjão está incluída nos dados do bairro.
Em 2007, o governo mandou à Câmara Legislativa um projeto de lei para delimitar as poligonais das novas regiões. Hoje, estão fora dos dados do IBGE as cidades de Águas Claras, Itapoã, Jardim Botânico, Park Way, Riacho Fundo II, Setor de Indústria e Abastecimento, Setor Complementar de Indústria e Abastecimento, Sobradinho II, Sudoeste e Octogonal, Varjão e Vicente Pires.
Delimitação é urgente
O diretor de Gestão de Informações da Codeplan, Júlio Miragaya, afirma que a delimitação das poligonais das regiões administrativas é uma medida urgente e essencial ao melhor planejamento da cidade. ;Isso gera uma distorção muito grande dos dados. O total da população de São Sebastião divulgado pelo IBGE, por exemplo, inclui os moradores do Setor Jardim Botânico;, exemplifica Miragaya. Para ele, é preciso que essa delimitação dos limites de cada região seja feito com critérios técnicos. O projeto anteriormente enviado à Câmara, que acabou arquivado, fazia a separação geográfica entre as cidades, muitas vezes com o intuito de atender a interesses políticos.
;O projeto era ruim e estava desvirtuado. Ele incluía algumas áreas em determinada cidade apenas com interesse de valorizar as quadras, mas sem seguir critérios técnicos;, justifica. (HM)