As muitas ocorrências policiais, pichações nos muros e o medo que cercava alunos e professores do Centro de Ensino Fundamental (CEF) n;1, em Brazlândia, fizeram com que a escola, durante anos, fosse conhecida como ;Carandiru; ou ;filial do Caje;. O clima criado pelos episódios de violência registrados na instituição tornavam o peso dos apelidos cada dia mais presente na vida dos estudantes e professores da região do Setor Veredas. Mas isso ficou para trás. Após o desenvolvimento de um amplo projeto pedagógico, o colégio ; que chegou a ser avaliado como o pior da cidade ; é hoje motivo de orgulho para alunos e para a comunidade. O CEF 1 está em segundo lugar no ranking das escolas da região com melhor rendimento, segundo dados do Ministério da Educação. Os muros limpos, o pátio arborizado e as muitas fotos estampadas nas paredes revelam a superação na história de uma instituição de ensino que já foi campeã em reprovações e evasão.
A mudança começou em 2004, quando a atual diretoria assumiu a administração. ;Assim que chegamos, nos deparamos com um grande número de alunos defasados e esses eram, justamente, os que nos criavam mais problemas. Assim, foi para esse grupo que voltamos a nossa atenção;, explica a diretora do CEF 1, Alessandra Alves, 36 anos. Foi criado, então, o Projeto Resgate. A ideia é conscientizar os alunos sobre a necessidade de manter um ambiente saudável dentro e fora das salas de aula. ;Para que a ideia funcionasse, estabelecemos com eles uma relação de troca. A preservação do ambiente e o bom rendimento escolar foram revertidos em banquinhos na área de lazer, reforma do espaço para educação física e eventos no colégio;, explica o coordenador Cleiton Vital, 36. Paralelamente, outros grupos de trabalho foram desenvolvidos, como o Construindo valores e atitudes, também trabalhando com a conscientização dos estudantes.
O processo, no entanto, foi demorado. Em 2008, em um período de apenas oito dias, a coordenação da escola precisou ir 14 vezes à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) ; em uma dessas, levando um micro-ônibus repleto de estudantes. ;Eles furtavam material do Projeto Ciência em foco;, conta a diretora. O Batalhão Escolar da Polícia Militar teve de ser acionado e passou a marcar presença na escola. Brigas entre alunos também eram constantes. Um estudante armado com uma faca chegou a agredir a namorada nas instalações do centro de ensino. ;Tínhamos poucos alunos. Os pais não tinham confiança para deixarem seus filhos aqui. Nós mesmos nos sentíamos inseguros dentro do colégio, nenhum professor queria trabalhar nessa escola;, lembra a vice-diretora, Isabel Cristina, 32 anos.
Novos tempos
Hoje, a presença dos policiais em tempo integral não é mais necessária. ;Eles passam aqui para conferir a segurança, mas nada ostensivo;, diz a diretora. A estratégia da coordenação voltada a dar mais atenção aos alunos repetentes logo surtiu efeito. Enquanto em 2008 a escola contava com oito turmas de reprovados, hoje são apenas duas. ;Muitos deles vêm de outras escolas para cá e se surpreendem com o tratamento que recebem. Eles vivem dizendo que não querem sair daqui;, afirma o coordenador Jeferson Vilela, 28 anos.
Se a procura pelo CEF 1 era pequena, há dois anos, a lista de espera de alunos que buscam se matricular no centro e não conseguem vagas passou a ser extensa. ;Só na 8; série foram 40 alunos, o suficiente para formar uma nova turma;, disse a diretora. Atualmente, a escola tem 950 alunos. O estudante da 6; série Andrey Willian Nunes Rocha, 11 anos, é um deles. ;Outro dia, picharam uma carteira na minha sala, mas a professora limpou e eu também. Não gosto de ver a minha escola suja, ela é linda;, conta o adolescente. Há dois anos na escola, ele se sente muito feliz com o novo ambiente. ;A minha mãe sempre fala que esse colégio é melhor do que muitas escolas particulares que existem por aí;, diz.
Além dos projetos para resgatar a autoestima dos estudantes, a direção adotou um planejamento diferenciado a fim de que os reprovados recuperassem o tempo perdido. ;Passamos a fazer dois anos em um;, conta a diretora. Saídas de campo também foram incorporadas aos roteiros das aulas. ;Temos o Projeto Brasília, em que levamos as crianças para pontos turísticos da capital. A maioria deles não conhece o centro de Brasília e todos ficam maravilhados;, destaca o coordenador Cleiton Vital.
Recreios culturais, embalados por música, festas juninas e bailes também estão na extensa lista de projetos desenvolvidos pelo colégio, que atende alunos de 10 a 16 anos. O resultado é uma escola tranquila, com estudantes dedicados às aulas, e um ambiente físico exemplar. A grama foi plantada pelos próprios estudantes, a limpeza é impecável e a disciplina, idem. ;A própria comunidade começou a respeitar mais esse espaço. O muro externo, que vivia pichado, hoje está limpo;, comemora a coordenadora Régia de Fátima, 43 anos. Com todo o trabalho, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escola, que em 2005 era de 2,5, passou para 3,7 em 2007 ; em uma escala que vai de zero a 10. ;Queremos, agora, alcançar o título de melhor escola da cidade. Tudo isso é o resultado de um trabalho de equipe que deu certo;, conclui a diretora.
População jovem
; Brazlândia possui um total de 53 mil habitantes, representando 2,55% dos moradores do Distrito Federal. Com relação à faixa etária, a cidade revela uma população bastante jovem. Em 2000, 44% dos habitantes tinham até 19 anos.