Os moradores do Distrito Federal têm motivos de sobra para reclamar do preço dos condomínios. Somente no primeiro trimestre deste ano, as taxas cobradas em Brasília superaram em quase quatro vezes a média nacional. O salto de 3,63% no valor cobrado de quem vive em casa ou apartamento é o segundo maior do país, perdendo apenas para Curitiba, onde os valores subiram 4,46%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para uma família de classe média, que mora na capital federal, manter o condomínio em dia significa abrir mão de 5% a 7% do orçamento. A má notícia é que os custos com administração e manutenção de imóveis devem continuar elevados, tendo em vista o reajuste salarial para os trabalhadores da categoria, estimado em 6% segundo representantes do setor.
Ao comparar as regiões da cidade, os preços são maiores no Sudoeste, Asa Norte e Águas Claras. Gama, Planaltina e Samambaia têm as menores taxas do DF. Os valores variam de R$ 100 a R$ 1.300 por mês. Mas, além disso, os moradores frequentemente se deparam com as taxas extras, que financiam melhorias pontuais, não computadas na relação de gastos fixos.
O estudante Matheus de Oliveira Fernandes Sanches, 18 anos, mora com a mãe em um apartamento de dois quartos na Asa Norte. Segundo ele, não há nenhum benefício que justifique o que é pago. ;É muito caro. São R$ 430 por mês de condomínio, mais a reforma do prédio que custa outros R$ 130. Além disso, temos de alugar uma segunda vaga na garagem, aí se vão mais R$ 150. Não vale a pena;.
Para o presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Pedro Carsalade, a cobrança é justificada, acima de tudo, pelo custo da folha de pagamento de cada condomínio. ;Os funcionários comprometem até 50% da arrecadação. Com o reajuste do salário mínimo, agora se discute aumento salarial dos empregados. Tudo isso eleva diretamente os custos;, diz.
Pedro Carsalade também lembra que houve aumento nas contas de água. ;Mais 13% da receita foram comprometidos. Depois somamos o problema da segurança, que obriga a compra e manutenção de equipamentos de vigilância e a inadimplência de alguns, pesando sobre os ombros dos demais moradores;, diz.
Clube
José Geraldo Dias Pimentel, presidente do Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio), destaca outro motivo, como o grande número de condomínios-clube. ;Eles dispõem de academias de ginástica, piscina, sauna, salão de jogos, lavanderias e outros serviços que, de certa forma, levam o condômino para uma nova realidade e para um aumento nos gastos também.;
De acordo com Pimentel, despesas com material de limpeza, higiene e conservação também tiveram aumento. ;Não há como mostrar exatamente o que originou o problema, se foram os centros distribuidores ou a falta de estoque, fato que não ocorria há 5 anos;, diz ele. ;Em virtude da convenção coletiva de trabalho, com previsão de reajuste para porteiros em junho, auxiliares de serviços gerais e jardineiros também devem passar a ganhar mais, outro motivo para impactar as contas dos condomínios;, ressalta.
Antonia Leal Reis faz parte do Conselho Comunitário do Sudoeste. Moradora de uma quitinete na Quadra 103, ela está conformada com o que paga mensalmente para viver em um prédio sem garagem e elevador. ;Quando não há receita para pagar as contas, o jeito é subir mesmo o preço do condomínio. Claro que o edifício deixa a desejar. Não há rampa, por exemplo, mas é bem cuidado. Quem paga em dia também tem desconto de 30% sobre os R$ 170 cobrados.;
O professor de ciências contábeis da Universidade Católica Daniel Fernandes acredita que falta ao brasiliense pôr os gastos no papel e checar o orçamento da família antes de aceitar morar onde as taxas mensais podem comprometer a renda. ;Para uma família de classe média, gastos com moradia podem corroer de 20 a 25% do rendimento mensal. Sem remanejar prioridades, as viagens, o lazer e até o conforto ficam em xeque.;
Tarifas públicas
As tarifas dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto subiram 4,31% desde março. De acordo com a Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa) o reajuste corresponde à inflação do ano passado. O percentual vale até 28 de fevereiro do ano que vem, quando novos cálculos serão feitos.