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Cidades

Alta de condomínio devora 7% da renda dos moradores do Distrito Federal

Nos primeiros três meses do ano, a taxa acumulou um reajuste de 3,63%, cerca de quatro vezes a média nacional. As famílias da classe C são as que mais sentem o impacto dos aumentos, que prometem avançar com as negociações da data-base dos empregados do setor


Os moradores do Distrito Federal têm motivos de sobra para reclamar do preço dos condomínios. Somente no primeiro trimestre deste ano, as taxas cobradas em Brasília superaram em quase quatro vezes a média nacional. O salto de 3,63% no valor cobrado de quem vive em casa ou apartamento é o segundo maior do país, perdendo apenas para Curitiba, onde os valores subiram 4,46%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para uma família de classe média, que mora na capital federal, manter o condomínio em dia significa abrir mão de 5% a 7% do orçamento. A má notícia é que os custos com administração e manutenção de imóveis devem continuar elevados, tendo em vista o reajuste salarial para os trabalhadores da categoria, estimado em 6% segundo representantes do setor.

Ao comparar as regiões da cidade, os preços são maiores no Sudoeste, Asa Norte e Águas Claras. Gama, Planaltina e Samambaia têm as menores taxas do DF. Os valores variam de R$ 100 a R$ 1.300 por mês. Mas, além disso, os moradores frequentemente se deparam com as taxas extras, que financiam melhorias pontuais, não computadas na relação de gastos fixos.

O estudante Matheus de Oliveira Fernandes Sanches, 18 anos, mora com a mãe em um apartamento de dois quartos na Asa Norte. Segundo ele, não há nenhum benefício que justifique o que é pago. ;É muito caro. São R$ 430 por mês de condomínio, mais a reforma do prédio que custa outros R$ 130. Além disso, temos de alugar uma segunda vaga na garagem, aí se vão mais R$ 150. Não vale a pena;.

Para o presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Pedro Carsalade, a cobrança é justificada, acima de tudo, pelo custo da folha de pagamento de cada condomínio. ;Os funcionários comprometem até 50% da arrecadação. Com o reajuste do salário mínimo, agora se discute aumento salarial dos empregados. Tudo isso eleva diretamente os custos;, diz.

Pedro Carsalade também lembra que houve aumento nas contas de água. ;Mais 13% da receita foram comprometidos. Depois somamos o problema da segurança, que obriga a compra e manutenção de equipamentos de vigilância e a inadimplência de alguns, pesando sobre os ombros dos demais moradores;, diz.

Clube
José Geraldo Dias Pimentel, presidente do Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio), destaca outro motivo, como o grande número de condomínios-clube. ;Eles dispõem de academias de ginástica, piscina, sauna, salão de jogos, lavanderias e outros serviços que, de certa forma, levam o condômino para uma nova realidade e para um aumento nos gastos também.;

De acordo com Pimentel, despesas com material de limpeza, higiene e conservação também tiveram aumento. ;Não há como mostrar exatamente o que originou o problema, se foram os centros distribuidores ou a falta de estoque, fato que não ocorria há 5 anos;, diz ele. ;Em virtude da convenção coletiva de trabalho, com previsão de reajuste para porteiros em junho, auxiliares de serviços gerais e jardineiros também devem passar a ganhar mais, outro motivo para impactar as contas dos condomínios;, ressalta.

Antonia Leal Reis faz parte do Conselho Comunitário do Sudoeste. Moradora de uma quitinete na Quadra 103, ela está conformada com o que paga mensalmente para viver em um prédio sem garagem e elevador. ;Quando não há receita para pagar as contas, o jeito é subir mesmo o preço do condomínio. Claro que o edifício deixa a desejar. Não há rampa, por exemplo, mas é bem cuidado. Quem paga em dia também tem desconto de 30% sobre os R$ 170 cobrados.;

O professor de ciências contábeis da Universidade Católica Daniel Fernandes acredita que falta ao brasiliense pôr os gastos no papel e checar o orçamento da família antes de aceitar morar onde as taxas mensais podem comprometer a renda. ;Para uma família de classe média, gastos com moradia podem corroer de 20 a 25% do rendimento mensal. Sem remanejar prioridades, as viagens, o lazer e até o conforto ficam em xeque.;

Tarifas públicas
As tarifas dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto subiram 4,31% desde março. De acordo com a Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa) o reajuste corresponde à inflação do ano passado. O percentual vale até 28 de fevereiro do ano que vem, quando novos cálculos serão feitos.