Entre as suspeitas de fraude apuradas no Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), uma recai sobre convênio assinado entre a autarquia e um consórcio formado por três empresas para vender câmaras de segurança ao órgão oficial. A Transoft Tecnologia da Informação, a Intercom Consultoria em Sistema de Segurança e a Sync ; Materiais e Serviços
Ltda. estão entre os alvos de mais uma sindicância em curso no DFTrans. Dessa vez, existe a desconfiança de que o convênio tenha sido direcionado para beneficiar políticos e empresários do setor de transporte.
Assinado em dezembro de 2009 e com vigência de um ano, o contrato com o consórcio tinha como objeto a instalação de 2.850 kits com câmeras de segurança em ônibus que circulam no Distrito Federal. O valor da parceria: R$ 8.854.950. Toda a quantia chegou a ser empenhada. Mas as denúncias da Caixa de Pandora frearam a liberação do valor para as empresas. Uma das firmas citadas num dos primeiros depoimentos de Durval Barbosa sobre o esquema de corrupção no DF, em 16 de setembro de 2009, foi a Sync. Segundo o delator da Caixa de Pandora, ela seria do ex-deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido).
As declarações de Durval expuseram o contrato com o DFTrans e o governo se viu forçado a anular os empenhos com o consórcio envolvendo a Sync. Mas no fim do ano passado, depois que a poeira baixou, o governo retomou os pagamentos. O Correio teve acesso a ordens bancárias indicando que R$ 1.805.425 foram repassados às empresas Transoft e Intercom. Não foi registrado empenho em nome da Sync, mas há suspeita da existência de um contrato de gaveta para manter a empresa no negócio.
Esse caso é objeto de investigação não apenas pelo suposto beneficiamento de políticos, mas também pela essência do contrato, que atende a donos de empresas de ônibus com o dinheiro público. Segundo integrantes da comissão de sindicância, que já foi aberta, mas ainda está no princípio, o negócio seria imoral na essência, pois verbas públicas não poderiam financiar benfeitorias para patrimônio de empresas privadas. Também há a denúncia, ainda pendente de apuração, de que cada um dos kits contendo duas câmeras, uma unidade de gravação de vídeo e um pen drive, custou R$ 2,9 mil, o que seria bem acima do preço praticado no mercado. A sindicância sobre as câmeras de segurança será encaminhada em alguns dias, tão logo o comitê de investigação finalize a apuração sobre irregularidades cometidas na contratação do serviço de guinchos.