Jornal Correio Braziliense

Cidades

Líderes pressionam Câmara Legislativa por CPI do DFTrans

Em reunião marcada para amanhã, os chefes dos blocos partidários na Câmara defenderão que as suspeitas de irregularidades sobre o DFTrans, ocorridas em gestões passadas, sejam foco de apuração. Tema será tratado também em encontro de representantes da base

Os líderes de blocos parlamentares vão pressionar a Mesa Diretora da Câmara Legislativa (CLDF) para instaurar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a fim de investigar o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). O tema será levado pelo petista Chico Vigilante à próxima reunião do Colégio de Líderes, marcada para ocorrer amanhã, às 14h. Procurados pelo Correio, todos os líderes em exercício disseram ser a favor da CPI e que defenderão o início das apurações. Sindicâncias divulgadas nos últimos dias mostram que a autarquia ligada à Secretaria de Transportes se tornou foco de corrupção em gestões passadas.

A Mesa Diretora recebeu no início deste ano três requerimentos de CPI: do Pró-DF, da Saúde e do DFTrans ; nessa ordem. De acordo com o Regimento Interno da Câmara, o presidente da Casa deve mandar publicar os pedidos, desde que atendam aos requisitos legais; caso contrário, deve devolvê-los aos autores, cabendo recursos ao plenário. Apesar disso, nada foi feito até agora. Na última quinta-feira, o presidente, deputado Patrício (PT), disse que a abertura das comissões não está dentro das prioridades da Casa. A declaração causou revolta de deputados da própria base do petista.

Vigilante convocou reunião do bloco, hoje, às 15h, para conversar sobre o fato. ;Essa história de que CPI só acaba em pizza é conversa fiada. A Câmara não pode ficar assistindo passivamente às denúncias contra o DFTrans. A quem interessa isso?;, disse o líder do bloco
PT-PRB. Além de discutir internamente, Vigilante vai inserir o tema no Colégio de Líderes. O grupo tem a prerrogativa de definir a agenda da Câmara e os temas que serão tratados na Casa. Além disso, os representantes dos blocos podem definir a ordem das CPIs a serem instauradas.

O regimento determina a abertura das comissões de acordo com a ordem cronológica de apresentação dos requerimentos. Apenas duas CPIs podem funcionar simultaneamente. Dessa forma, a do DFTrans não começaria agora. Para abrir a terceira, seria necessária votação em plenário. No entanto, o Colégio de Líderes pode mudar a prioridade de abertura e a tendência é que isso aconteça. A maioria dos deputados da base trabalha para deixar para depois as investigações sobre a Saúde, apresentada pela vice-líder do bloco de oposição, Celina Leão (PMN). A deputada, que representará o grupo nesta terça-feira, aceita negociar a mudança de ordem, desde que a segunda seja a CPI da Saúde. ;É possível fazer esse acordo, mas não podemos deixar de investigar o que as gestões passadas fizeram para deixar os hospitais nessa situação caótica;, afirmou.

Publicação
O líder do bloco PMDB-PSL-PSC-PTC, o peemedebista Rôney Nemer avalia que DFTrans e Pró-DF são os temas mais urgentes. No entanto, ele destaca que o Colégio de Líderes não tem poder para instaurar as CPIs, mas que o movimento ajuda a pressionar o presidente a publicar os requerimentos. Após a publicação, os partidos podem automaticamente fazer as indicações de representantes para o começo dos trabalhos. Nos bastidores, o governo avalia que a abertura das CPIs ;tumultuaria; o cenário político justo no começo do mandato. A da Saúde seria o maior problema, visto que a área é o carro-chefe da gestão do governador, Agnelo Queiroz (PT).

O deputado Joe Valle (PSB), více-lider do bloco PPS-PSB-PDT e membro da Mesa Diretora, também é a favor da abertura da CPI do DFTrans. Segundo ele, a Câmara não tem condições para abrir as três comissões ao mesmo tempo, mas pode fazer a investigação de dois temas. ;Não é que se vai deixar de abrir as CPIs. Somos a favor das averiguações, sendo a do Pró-DF e do DFTrans as primeiras;, afirma. Aylton Gomes (PR), líder dos partidos PTB, PP, PR e PSDB, disse, por meio da assessoria de imprensa, que a Câmara não pode se furtar a fazer as investigações e que é a favor da instalação da comissão do DFTrans. Patrício foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado.

Os oito volumes compostos de quase 2 mil páginas da Sindicância n; 098005434-2009 do DFTrans mostra que houve irregularidades em convênio feito com a autarquia pública com o Centro de Assistência Social às Pessoas Portadores de Deficiência do DF (Casped), entidade sem fins lucrativos. De 2007 a setembro de 2010, teriam sido desviados R$ 2,9 milhões na execução do contrato, que previa a indicação de deficientes físicos para trabalhar no órgão. De acordo com as investigações divulgadas pelo Correio na última semana, os servidores não apresentavam necessidades especiais, eram fantasmas e alguns eram parentes de gestores do DFTrans.

Apurações em curso
Outra sindicância mostra que houve direcionamento, tráfico de influência e superfaturamento na compra de móveis para o DFTrans. O prejuízo teria sido de R$ 1,36 milhão. Isso porque os itens foram comprados pelo dobro do valor praticado no mercado. A empresa escolhida para o negócio, a Gion Comércio e Representações de Móveis, vendia os produtos da marca Marelli, representada pelo pai do então diretor técnico do DFTrans, Cristiano Dalton Mendes Tavares. Além do sobrepreço, houve a compra de mais móveis do que o necessário. Em 2009, por exemplo, o órgão adquiriu estações de trabalho para o terminal rodoviário de Santa Maria, que ainda não foi construído. (RT)