Em maio de 2008, cerca de 200 famílias deixaram o barraco de madeira onde viviam, na Vila Dnocs, em Sobradinho, para receber uma casa de alvenaria do Governo do Distrito Federal. Segundo a informação oficial, as residências estariam prontas para abrigar a comunidade em três meses. Quase quatro anos depois, os moradores da primeira etapa do setor habitacional continuam à espera da mudança. As construções passam pelos últimos retoques, mas a população está com pressa, principalmente porque as casas já construídas estão sendo depredadas. Além disso, muitos vivem de favor, são reféns de aluguel ou ocuparam terras públicas. Na última quarta-feira, a administradora de Sobradinho, Maria América, reuniu-se com o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Geraldo Magela, para definir a data de entrega das 159 primeiras casas. A promessa é que as habitações seja liberadas em 14 de maio. Ao todo, serão 429 residências.
A dona de casa Patrícia Carlota Pereira, 30 anos, morou durante 20 em um lote na Quadra 15 da Vila Dnocs. Quando recebeu a promessa da casa própria, ela, o marido e os dois filhos se mudaram para um barraco de madeira na entrada do setor habitacional. ;Achamos que ia durar só três meses. As casas estão praticamente prontas e não entendo por que não podemos ocupar. Aqui, vivemos como animais;, reclama. Além de estar localizada em terreno irregular, a casa é pequena para a família. Em época de chuva, Patrícia fica preocupada. A água escorre para dentro do barraco e os ventos fortes ameaçam arrancar as telhas pregadas pelo marido. A conta de luz atrasada, no valor de R$ 52, está enrolada dentro de uma xícara, no armário da cozinha. ;Estou esperando o tíquete-aluguel do mês passado.; Além de ser pago com dias de atraso, o benefício de R$ 408 é considerado insuficiente pelos moradores.
A preocupação e a insatisfação ultrapassaram os limites imaginários da primeira etapa da Vila Dnocs e tomaram conta de toda a comunidade. Um carro de som passou pelas ruas asfaltadas da cidade anunciando uma reunião no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Sobradinho, na última terça-feira. No encontro, os proprietários de lotes receberam o prazo de um mês para deixar as casas. Os barracos de madeira darão lugar a novas casas, padronizadas com recursos do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida.
;Só de pensar, fico nervoso;, desabafou o pedreiro Alexandre Freitas de Oliveira, 39 anos, morador da etapa 3 do bairro, que abrange a Quadra 11 e os arredores. Ele reclamou da dificuldade de encontrar um imóvel de aluguel. ;Ninguém encontra casa disponível aqui, ainda mais quem tem quatro, cinco, seis filhos. Sofremos discriminação quando vamos a Nova Colina e a Planaltina;, afirma.
Apesar de receber o auxílio-aluguel, a comunidade discorda da política do governo de desabrigar moradores antes de entregar as casas de alvenaria da primeira etapa. ;Se as pessoas que hoje vivem de aluguel receberem a chave de casa, sobra espaço para os moradores das outras etapas. Mas sem essa condição, não dá. Vamos resistir. Somos seres humanos;, protesta Alexandre.
Moradora da segunda etapa, a dona de casa Ivanete Lisboa, 26 anos, ainda critica a mudança de rotina caso seja obrigada a procurar aluguel em outra comunidade. ;As consultas médicas acontecem em hospitais daqui, meus filhos estudam perto de casa; Como vão tirar a gente de casa se ainda não entregaram a primeira etapa? Vamos morar onde?;
Abandono
Pedreiros trabalham na obra durante o dia. De acordo com o GDF, 30 casas estão em fase de edificação e, em alguns casos, faltam pintura interna, muro de arrimo, instalações internas e calçada. Cansados de sonhar com a casa própria, no entanto, os moradores propõem ocupar o espaço inacabado. ;Basta nos colocar lá dentro e a gente se vira;, sugere a atendente Ivanilde da Silva Carvalho, 25 anos. Ela se mudou para a chácara do patrão do marido, próximo à cidade do Paranoá, enquanto espera a entrega dos lotes. ;Estamos esquecidos. Ninguém tem uma posição para a gente; Tive que sair do emprego e trocar os filhos de escola. Eu sonho em morar na minha casa.;
A situação também incomoda moradores da Vila Estrutural, que assistiram à construção de 600 casas populares e esperam pela mudança. Cerca de 200 residências estão prontas desde setembro de 2009 e não podem ser ocupadas. Construídas com financiamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, os imóveis devem abrigar 122 famílias que viviam em áreas de risco na cidade ; principalmente quem tem lote nas quadras 12, 15 e 17, localizadas próximas ao lixão. Com a demora na entrega, as casas desses dois setores habitacionais estão sendo depredadas e furtadas. Fiação, pias e chuveiros foram furtados na Estrutural. Em Sobradinho, as paredes estão pichadas. ;Vamos receber as casas velhas;, reclama o cozinheiro Antônio Moreira, 39 anos, morador da Dnocs.
Investimentos
O PAC 2 está dividido em seis eixos. O Programa Minha Casa, Minha Vida terá disponibilizados R$ 278 bilhões. O PAC Transportes receberá R$ 104 bilhões. O PAC Cidade Melhor consumirá R$ 57,1 bilhões até 2014. O Comunidade Cidadã levará R$ 23 bilhões. O Água e Luz para Todos contará com R$ 30,6 bilhões. Mas o maior orçamento será na área de energia: R$ 461 bilhões até 2014 e mais R$ 627 bilhões após essa data.
Pedido negado
A 3; Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios negou o pedido de dois moradores da Estrutural que queriam suspender as suas remoções para o loteamento do Programa Integrado Vila Estrutural (Pive). Os autores alegaram viver em residência sólida localizada no Conjunto O, da Quadra 8, ;livres dos vetores e doenças, longe do lixão e da piscina de chorume, bem como quaisquer outros riscos à saúde;. Eles alegam ainda que estão sendo ameaçados com tratores e agentes policiais caso não desocupem o local. Dizem que não existe laudo que assegure a salubridade e a segurança da área de transferência. O relator do caso, no entanto, justificou não haver elementos que comprovem que a atual residência dos autores esteja em melhores condições que a Quadra 16 do Pive. (JB)