Recuperar uma cidade mergulhada no caos e marcada por problemas graves e estruturais não é uma missão fácil. Mas ao assumir o Governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT) não imaginava o tamanho do desafio que teria pela frente. Hoje, ele comemora 100 dias no cargo com alguns avanços. O trabalho nos próximos trimestres, entretanto, precisará ser árduo, o que só aumenta a responsabilidade do chefe do Executivo. Depois de mais de três meses colocando a estrutura do governo em ordem e investigando contratos fraudulentos das gestões anteriores, Agnelo espera ter tempo para, a partir de agora, realizar mudanças mais profundas na cidade. ;A arrumação da casa levou muito mais tempo do que imaginávamos. Fizemos o possível diante da situação de caos que encontramos;, explica o governador.
Para especialistas, é difícil fazer uma avaliação precisa de um governo em apenas 100 dias. Mas, nesse prazo, já é possível analisar tendências e prioridades da gestão. O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer destaca alguns avanços. ;A prioridade que ele (Agnelo) deu à Saúde foi um bom começo. Além disso, demitiu um grande número de servidores comissionados e estabeleceu a norma de que fichas sujas não ocuparão cargos em seu governo. A sociedade terá que acompanhar e cobrar o cumprimento dessas medidas até o fim do mandato;, diz o especialista.
Área mais delicada do governo, a Saúde recebeu atenção especial. Agnelo visitou todos os hospitais da rede pública e autorizou reformas em várias unidades. Centros cirúrgicos foram reabertos e a construção de novas alas foi autorizada, o que trouxe discretas melhorias. Mas essas intervenções ainda não tiveram reflexos expressivos na qualidade do serviço prestado. As emergências lotadas e a dificuldade para conseguir marcar consultas são reclamações constantes. ;Tomamos medidas emergenciais para amenizar essa situação. Mas as ações estruturais só terão efeito a médio prazo. Vamos contratar cerca de 5 mil profissionais para melhorar a atenção básica;, explica Agnelo Queiroz.
Resultados demoram
Nos últimos 100 dias, foram criados 60 leitos de UTI na rede pública. Mas a iniciativa não beneficiou a família da dona de casa Maria Júlia Brito, 64 anos. Moradora de Ceilândia, ela sofre o drama de ver o filho Antônio, 42, lutando pela vida depois de um grave acidente de carro. Internado no Hospital de Base em estado crítico, ele não conseguiu um leito.
Depois de três dias em coma e sem espaço para tratamento adequado, Antônio teve que ser transferido para um hospital particular. ;Na hora de levar o meu filho, faltou ambulância. Ele já está em coma e muito doente e ainda vai ter que ser transferido porque não tem UTI no hospital. Tenho medo de ele não resistir a isso;, reclama dona Maria Júlia.
Na área da segurança pública, o aumento de policiamento nas ruas agradou à população, mas ainda não foi suficiente para eliminar o tráfico de drogas, os casos de roubos e de homicídios. Moradora do Itapoã, a comerciante Betânia Alves Feitosa, 26 anos, já enfrentou cinco assaltos desde que abriu um mercadinho, há três anos. O último ocorreu no fim de março. ;A gente trabalha sempre com medo;, conta Betânia, que fica cercada por grades.
O cientista político e professor da UnB Leonardo Barreto lembra que o governador assumiu o Buriti em um contexto delicado, com paralisação de obras e poucos investimentos. ;Nas áreas de baixa complexidade, houve ações efetivas. O governo conseguiu fazer a limpeza das ruas, a poda dos gramados e consertar a pavimentação das ruas esburacadas. Já as áreas mais complexas, como a Saúde, demandam muito mais tempo para mudanças expressivas. Ele conseguiu sucesso dentro daquilo que poderia fazer em apenas 100 dias;, avalia. Por conta disso, o especialista acredita que será preciso esperar mais tempo para que a sociedade recupere a confiança no governo. ;Essa relação foi rompida e ainda não houve tempo suficiente para reconstruí-la;, finaliza.