Cinco anos depois, Bono Vox voltou a Brasília. E desta vez trouxe os outros três integrantes da banda irlandesa U2. Antes do encontro oficial com a presidente Dilma Rousseff, o quarteto fez um tour pela capital. Conheceu alguns dos principais monumentos e surpreendeu os fãs, parando para fotografias e autógrafos. O passeio foi acompanhado com exclusividade pelo Correio, a quem o líder da banda ainda concedeu uma rápida, mas emocionante entrevista. Entre outras coisas, ele falou sobre a importância de Oscar Niemeyer para a arquitetura mundial e o massacre de crianças em uma escola do Rio de Janeiro.
Mesmo sem estar no roteiro da turnê mundial da banda, Brasília foi a primeira parada do U2 no Brasil. O grupo desembarcou na Base Aérea às 11h45, vindo de Buenos Aires (Argentina), onde fez três apresentações na semana passada. Em duas vans, escoltadas por três carros particulares e motociclistas da Polícia Militar do Distrito Federal, os músicos, assessores e apenas quatro seguranças seguiram pela L4 Sul. Mas, em vez de pegar a pista que leva ao Palácio da Alvorada, onde Dilma esperava a banda para o almoço, a comitiva fez um retorno e foi em direção à Esplanada dos Ministérios.
A carreata parou em frente ao Palácio do Planalto para ver o prédio desenhado por Niemeyer, mas ninguém desceu. A parada seguinte ocorreu na Catedral Metropolitana. Acompanhados somente pelos quatro seguranças particulares e pela equipe do Correio, o vocalista Bono, o guitarrista The Edge, o baixista Adam Clayton e o baterista Larry Mullen Jr. deixaram a van e ficaram admirando outra obra de Niemeyer. Logo, duas turistas capixabas perceberam a presença das estrelas. ;Não acredito, não acredito. Moço, aquele é o Bono do U2?;, indagou ao repórter Priscila de Alcântara, 28 anos.
Educadamente, Bono pediu à moça e à amiga, afoitas por uma foto e um autógrafo, para esperá-lo do lado de fora da Catedral. ;Vou rezar e volto;, avisou. Ao lado de The Edge, Bono desceu a rampa da Catedral. No caminho, o guitarrista se abaixou para deixar notas no chapéu segurado por uma mendiga e disse algo a ela. A mulher agradeceu, em português. Assim que entraram no tempo, Bono Vox e The Edge olharam para os vitrais e não esconderam o deslumbramento. O vocalista se ajoelhou perto de um dos bancos e orou por cerca de dois minutos.
Na saída, encontram Priscila e outros sete fás, que estavam ali por acaso e acabaram trombando com os ídolos. Atenderam todos os pedidos de autógrafo e fotos. Como bons turistas, Bono Vox e o baixista Adam Clayton ainda pediram ao fotógrafo do Correio para registrar uma imagem de ambos em frente à Catedral. Em seguida, o líder da banda atendeu o pedido de entrevista do repórter. Primeiro, falou do motivo do tour pela capital. ;Sempre ouvi falar de Brasília por causa das obras de Oscar Niemeyer. Sempre quis conhecer as obras desse arquiteto. Não consegui fazer isso há cinco anos, quando visitei o Lula. Mas hoje está sendo um belo dia, pois trouxe todos os amigos (da banda);, elogiou.
Em tom sereno, Bono falou também sobre as mortes de 11 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro: ;Não tenho muito a dizer. Dizer o quê? É difícil dizer algo perante uma barbárie como essa. Estou muito triste, como o seu país todo deve estar;. Depois, adiantou que a banda prepara uma homenagem às vítimas da tragédia na escola carioca. ;Sim, estamos pensando em algo. Não sabemos direito o que será, mas faremos uma homenagem.;
Da Catedral, o grupo foi até o Congresso Nacional, mas, novamente, não desceu ninguém dos veículos, pois eles estavam atrasados para o encontro com Dilma.
Combate à Aids
Não só a presidente esperava pelo U2. Cerca de 100 fãs da banda faziam plantão em frente ao Palácio da Alvorada, ao lado de um grupo de quase 30 jornalistas. Ao avistarem a escolta, por volta das 12h45, os seguidores do grupo irlandês começaram uma gritaria. Ninguém deixou os veículos, mas, de dentro de uma das vans, Bono acenou, para o delírio dos tietes.
Além de liderar o U2, Bono comanda a Fundação One, que arrecada fundos para a compra de medicamentos contra o vírus da Aids e a malária na África. E foi sobre esses temas que ele conversou com a presidente Dilma, além da erradicação da pobreza ; de acordo com o blog do Palácio do Planalto, o músico disse a ela que todo presidente deveria priorizar o combate à miséria.
Após apresentar os colegas de banda a Dilma, o vocalista irlandês lamentou a tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, RJ. ;Esse é um dia muito triste para o Brasil;, disse à presidente, conforme vídeo divulgado no blog oficial da Presidência da República. O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, também participou da visita. Nenhum repórter teve acesso ao encontro, que durou duas horas e meia. Cinegrafistas e fotógrafos entraram no palácio apenas para rápidas imagens da banda com Dilma.
Cover
Fora do palácio, o número de fãs só aumentava. Era gente como Leo Vox e Genessy Lima, o Bono e o The Edge da banda U2 Bsb, cover candango do grupo irlandês. Sob o sol forte desde as 10h, ambos soltavam a voz na tentativa de chamar a atenção de Bono e companhia. ;Fomos aos shows do Brasil em 2006 e iremos aos três deste ano (em São Paulo, amanhã, domingo e quarta-feira);, disse Genessy, 32 anos, para mostrar o quanto é fã da banda.
Além de adultos, havia adolescentes e até bebês, levados pelos pais. E ainda mais de 150 crianças de duas escolas, em uma excursão cívica por Brasília. Todos berraram juntos assim que a comitiva do U2 cruzou os portões do Alvorada. Mesmo diante da multidão, os músicos não se acanharam e desceram das vans, para desespero dos seguranças particulares e da presidência. Na medida do possível, Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., atenderam todos os fãs.
Recorde
O show que o U2 fará neste fim de semana em São Paulo marca recorde de faturamento. Até hoje, o título pertencia à turnê A Bigger Bang, dos Rolling Stones, entre 2005 e 2007, com um faturamento de US$ 558 milhões. Ao fim da 360; Tour, em julho, o U2 terá arrecadado US$ 700 milhões.
Fome Zero
Em 2006, Bono veio a Brasília e doou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma guitarra para o programa Fome Zero, num encontro na Residência Oficial da Granja do Torto. Na oportunidade, porém, ele veio sem os demais integrantes do U2.